domingo, 8 de junho de 2008

Cuidado: você pode estar sendo investigado

Detetives modernos são discretos e já não se parecem com Sherlock Holmes, mas têm clientela garantida


Profissão: detetive. Você pode nunca ter precisado do serviço de um deles, mas os investigadores estão por aí, fotografando, gravando, filmando. E o mercado anda aquecido - cada um atende, em média, dois casos por semana. Mais de 100 anos depois de o escritor britânico Arthur Conan Doyle conquistar um punhado de leitores com o seu Sherlock Holmes, ser espião ainda

vale a pena.

Achar um não é difícil, basta uma olhada nos classificados. No entanto, eles são discretos, não gostam de ser fotografados e medem as palavras.

A justificativa? ‘‘Não usamos perucas, bigodes postiços ou outros disfarces. Eu me disfarço de eu mesmo’’, diz um ‘‘araponga’’.

No mercado londrinense, o carro-chefe é a investigação conjugal. Tem marido que desconfia da esposa; esposa que desconfia do marido; namorado suspeitando da namorada; noiva do noivo...

‘‘Em 90% dos casos que atuo, constato adultério’’, conta o detetive Mario Biolada, 10 anos de profissão. Um caso do tipo não sai por menos de R$ 2,5 mil. ‘‘Tem gente que acha caro, mas a dúvida é muito pior’’, justifica.

Esse é o principal filão também dos colegas de Biolada. ‘‘Setenta por cento da minha clientela busca investigação conjugal. O serviço é completo. Coloco dois agentes de motocicleta na rua para não perder o investigado de vista’’, comenta o detetive Rudolf Becker (pseudônimo).

Os flagrantes vão além da porta do motel. ‘‘Em uma ocasião, a pedido do cliente, as fotos foram feitas dentro do quarto’’, ressalta Becker, sem revelar detalhes.

Em uma discreta residência na zona leste de Londrina fica o escritório de Antônio Carlos, 17 anos de profissão. Segundo ele, as investigações de casos amorosos seguem as tendências da sociedade. ‘‘Mulheres me pedem para investigar a namorada, homens pedem para investigar o namorado. Já descobri casos de maridos que traem a esposa com um homem, não com uma amante’’, explica.

Diversificação

Mas nem só de desiluções amorosas vivem os detetives. Eles são requisitados para investigações empresariais, para descobrir o paradeiro de pessoas desaparecidas, para investigar crimes e para descobrir o que estão fazendo adolescentes ou jovens longe dos pais.

‘‘De 2004 para cá aumentou a procura pelo acompanhamento de adolescentes. Os pais sabem que cada vez mais os filhos estão expostos às drogas, prostituição e violência. No caso de Londrina, por ser uma cidade universitária, muita gente vem de fora e os pais querem saber o que os filhos andam fazendo’’, conta Biolada. Os agentes seguem os investigados até na balada e o pacote do final de semana sai por R$ 800.

Já o detetive Antônio Carlos pratica uma tabela de preços diferente para esse tipo de caso. ‘‘Encaro isso como um trabalho social. Quando um pai não é amigo do filho, o traficante acaba sendo. Cobro só o que tenho de despesa, em torno de R$ 300’’, revela. Porém, ele confessa ser difícil achar espaço na agenda.

Dentro de empresas, os detetives também têm campo fértil. As investigações empresariais ou industriais estão em segundo lugar no número de atendimentos. Trata-se do tipo mais complexo, que não sai por menos de R$ 10 mil.

As contratantes são empresas que sofrem com desvio de mercadorias ou de dinheiro, espionagem industrial...

‘‘A melhor forma de um detetive se infiltrar é como um discreto faxineiro ou zelador, que entra em todos os ambientes, escuta muita coisa e, cuidadosamente, anota tudo escondido, no banheiro’’, revela Biolada.


Folha de Londrina.

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