terça-feira, 3 de junho de 2008

Artigo - A exclusão dos jovens, por Fabio Ramos Berti*

O incentivo à participação dos jovens aos 16 anos na vida política brasileira foi efêmero. Campanhas da Justiça Eleitoral e dos partidos políticos nesse sentido tornaram-se ações esparsas. Esse incompreensível desprestígio à "galera" contradiz a tradicional retórica de que os jovens são responsáveis pelo futuro do país. Bem, sempre haverá "interésses" (sic), como diria Brizola. Para piorar, a boa vontade dos jovens brasileiros em participar das decisões sofreu recentemente um novo golpe.

Um parecer técnico do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibiu o uso de ferramentas da internet por candidatos que vão concorrer nas eleições deste ano. O documento conclui que "o que não é previsto [na legislação] é proibido". Pela resolução 22.718, a publicidade do candidato na internet só poderá ser feita na página que ficará no ar de 6 de julho até a antevéspera da eleição. O uso de e-mail marketing, blogs, banners, links patrocinados em sites de busca, divulgação de vídeos no YouTube e comunidades em sites de relacionamentos está proibido.

A intenção até pode ser evitar a invasão de privacidade. Mas mensagens eletrônicas podem ser facilmente dispensadas, assim como fazemos com spams, muitos deles criminosos, e com os quais a Justiça jamais se preocupou. O sociólogo Sérgio Amadeu, em seu blog, alerta: "No momento em que campanhas eleitorais em todo o mundo aumentam seu escopo, atingem públicos que jamais atingiram, levam os mais jovens às urnas em massa, o TSE joga o Brasil repentinamente na Idade da Prensa de Gutenberg".

Tenho interesse pelo assunto, já que estou em freqüente contato com candidatos a prefeito e vereador no Estado, repassando dicas sobre comunicação e marketing eleitoral. Ao ler a última edição da revista Veja, que dedicou espaço generoso à campanha "eletrônica" presidencial nos Estados Unidos, decidi protestar, o que espantosamente não têm feito partidos e entidades estudantis que, não raro, possuem vinculações político-partidárias.

Na atualidade, senhores ministros do TSE, é praticamente impossível tirar uma guria - sentada no sofá - pra dançar numa festinha de garagem! Cartões-postais são peças de museu! Milhões e milhões de relacionamentos interpessoais ocorrem com auxílio da internet. Negócios gigantescos são fechados via canais da internet. A vida contemporânea passa pela rede, criando o que Muniz Sodré denomina "bios midiático". Por favor, céticos, saiam da contramão! Ou o trem-bala virtual os atropelará.

*Jornalista, mestrando em Educação em Ciências (UFRGS)


Zero Hora.

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