Quanto maior status social na escola, maior risco de sofrer assédio.
Dinâmica de ascensão social entre jovens favorece fenômeno.
O perfil das vítimas de bullying nas escolas pode não ser tão homogêneo quanto se pensava. É comum presumir que as principais vítimas desse tipo de agressão sejam jovens com poucos amigos e características físicas ou psicológicas diferentes das valorizadas por seu grupo social. Mas um estudo publicado nesta terça-feira (1°) pela revista "American Sociological Review" revela que, quanto maior a popularidade do adolescente, maior o risco de ele se tornar alvo desse tipo comportamento. O risco de assédio e perseguições diminui somente entre aqueles que estão bem no topo da "pirâmide de popularidade" desenhada pelos pesquisadores: entre os 5% mais "pop".
Com o objetivo de determinar o perfil das vítimas de bullying, pesquisadores das universidades da Califórnia em Davis e do Estado da Pensilvânia levaram em conta informações fornecidas por mais de 4.200 estudantes dos 8°, 9° e 10° anos do estado da Carolina do Norte. Os dados são provenientes do levantamento "Contexto do uso de substâncias por adolescentes", que entrevistou adolescentes de 19 escolas públicas de três distritos diferentes do estado.
Para medir a popularidade dos jovens, cada participante informou o nome de seus cinco melhores amigos. Levando em conta o número de vezes que cada jovem foi citado por um de seus colegas, foi possível chegar a uma "escala de popularidade" de cada colégio.
Já para identificar quais dos jovens eram as vítimas mais frequentes de bullying, os pesquisadores pediram para cada estudante que citasse cinco colegas que implicavam com ele e cinco com quem eles implicassem.
Em busca da popularidade
A conclusão do estudo leva em conta toda a dinâmica da busca pela popularidade dentro das instituições de ensino. Segundo os autores, pesquisas anteriores revelaram que a prática de agredir colegas é usada como instrumento de ascensão social e aumento de status.
Os jovens mais vulneráveis são alvos fáceis para os colegas, pois oferecem poucos riscos aos que praticam bullying. Mas, na medida em que a agressão tem o objetivo de promover um aumento do status, mirar esses alvos fáceis não resultaria em grandes benefícios aos algozes. Nessa lógica, para ascender socialmente, seria preciso mirar alvos mais populares.
Comprovando essa hipótese, os resultados da pesquisa mostram que garotos e garotas que estão na metade (50%) da hierarquia social da escola e sobem essa escada para 95% veem seu risco de ser vitimizados por seus colegas aumentar mais de 25%.
Já aqueles que ficam no topo da hierarquia, acima dos 95%, têm menor risco de sofrer bullying. "Eles não precisam atormentar seus colegas em um esforço para subir na escada social – tática comumente usada entre aqueles que lutam por uma posição –, porque já estão no topo. Eles não são vitimizados porque estão fora de alcance e não têm rivais", diz o principal autor do estudo, Robert Faris, professor da Universidade da Califórnia em Davis.
Mas, nas raras ocasiões em que os alunos superpopulares são vítimas de bullying, eles apresentam reações mais graves, como quadros acentuados de depressão, ansiedade e raiva. "Isso deve ser porque estudantes populares sentem que têm mais a perder, já que podem ter trabalhado duro para atingir sua posição social", explica Faris.
Outra possibilidade, segundo o autor, é que os alunos mais populares ficariam mais surpresos com o bullying que os demais, por isso reagiriam de forma mais intensa.
"Para reduzir o bullying, pode ser útil que as escolas dediquem mais atenção e recursos para minimizar as hierarquias de status social, talvez pela promoção de atividades que promovam uma variedade entre os grupos de amizade, e não praticando uma única – como basquete ou futebol – sobre qualquer outra", afirma o pesquisador.
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