Gato por lebre, que nada. Em entrevista à agência espanhola de notícias EFE, a travesti Andréia Albertini disse que Ronaldo não é cego e que sabia - ao contratá-la no domingo - que ela "não era nenhuma Cicarelli" (em referência à ex-mulher do jogador). Ontem, a Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado (Astra) afirmou que apóia Andréia, mas criticou-a por quebrar cláusula importante do "contrato" que rege a atividade das profissionais do sexo: o sigilo sobre os clientes.
- O princípio básico da relação profissional entre travestis e clientes é o sigilo. É uma questão ética. Andréia não deveria ter delatado um cliente, mesmo que ele tenha se recusado a pagá-la. Um erro não justifica outro. Por um lado, um ídolo do país foi exposto. Por outro, Andréia está sem trabalhar, e as meninas temem represálias - diz a presidente da Astra, Marjorie Marchi.
Membro da Câmara Técnica para Elaboração do Programa Estadual Rio Sem Homofobia, ligada à Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Marjorie diz que os integrantes estão exigindo das autoridades tratamento igual para Ronaldo e Andréia. Mas garantiu que não vai acobertar qualquer mentira da travesti:
- Não sei qual a versão verdadeira, se a da extorsão contra Ronaldo, ou a da agressão contra ela, mas ambas devem ser investigadas. Por que Ronaldo seria mais confiável que Andréia? Não queremos uma travesti espancada, nem um pai de família achincalhado por mentiras. Assim, se a Andréia tiver falado alguma coisa que não é verdadeira, para ter o apoio da Astra, terá que se retratar.
Fantasia dos homens
Segundo Marjorie, muitos homens famosos procuram - e mais de uma vez - os travestis, que oferecem "mão-de-obra mais especializada":
- A prostituta mulher pode ser acessada por qualquer um. Já a travesti atende a uma fantasia mais específica do homem, como a de ser possuído por outro homem. A figura da travesti desperta desejo.
Andréia chegou ontem à noite ao Rio, no aeroporto Santos Dumont, às 20h20m. A travesti não falou com a imprensa, mas, ao ter seu nome gritado pelos passageiros no saguão, abaixou o vidro do táxi e acenou, sorrindo.
Amor abençoado pela sogra
Uma companheira carinhosa, que adora ouvir Vanusa e música italiana, ver filmes de terror pela TV, torce pelo São Paulo e prepara um delicioso macarrão com salsicha e lingüiça.
Essa é a descrição da travesti Andréia Albertini pelo marido, o auxiliar de trânsito desempregado Jorge Rosa Fernandes, de 24 anos. Segundo ele, a convivência com a parceira é tranqüila, exceto quando ela chega de manhã, cansada do trabalho, que pode incluir até 15 programas por noite.
- Muita gente da alta sociedade sai com ela, clientes de nome. Já teve dois cantores famosos, um ator que fez filme pornô - conta Jorge.
Segundo ele, a única dor-de-cabeça do casal até hoje foi Ronaldo. Ao contrário do Fenômeno, Jorge não foi "enganado" por Andréia.
O tamanho das mãos e pés denuncia o sexo, segundo ele. Fora isso, diz, Andréia é feminina. E natural, não fossem os hormônios que toma diariamente e as intervenções plásticas para afinar o nariz e dar retoques no rosto.
Pais abençoam
- Ela tem pouquíssimos pêlos no rosto, você nem nota - conta Jorge.
Ele interrompe a entrevista para falar com a mãe ao celular. E dispara um "Bênção, mãe".
- Meus pais sabem e me apóiam. Sempre joguei limpo com eles - diz Jorge, criado na Cidade Alta, em Cordovil.
Ele conta que, quando soube que Andréia fazia programas, ficou um pouco chocado. Mas entendeu as razões da mulher.
- Nunca vou abandoná-la. Ficarei ao lado dela até o fim.
Outra briga na praça
A madrugada da última segunda-feira foi bastante movimentada na Praça do Ó, na Barra da Tijuca. Além da confusão envolvendo o jogador Ronaldo e três travestis, no Motel Papillon, localizado em frente à praça, um outro travesti foi esfaqueado após discutir com um cliente na Avenida Sernambetiba, nas imediações do hotel.
Agressor foge
Identificado como Francisco Aurélio Borges, o travesti foi encontrado por policiais do 31 BPM (Recreio) no momento em que era socorrido por uma ambulância do Samu. Com ferimentos causados por faca, ele foi levado para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra. O agressor escapou. A briga ocorreu por volta das 6h - uma hora e meia depois que o Fenômeno abordou a travesti Andréia Albertini num ponto de ônibus na altura do Posto 6 da Avenida Sernambetiba.
- Parece que o travesti e o cliente discutiram porque ele não queria pagar pelo programa. Depois de esfaquear o travesti, o cliente fugiu, num carro - contou um funcionário do Motel Papillon, sem se identificar.
O caso foi registrado na 16 DP (Barra) como "lesão corporal provocada por emprego de arma branca". A faca utilizada no crime foi apreendida e será encaminhada à perícia.
O delegado Carlos Augusto Nogueira Pinto, titular da 16 DP, disse que assim que tiver condições, o travesti será chamado para prestar depoimento. A polícia também está à procura de outras testemunhas do crime, que possam fazer um retrato falado do agressor do travesti, que permanece foragido.
O Globo Online
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