sexta-feira, 28 de março de 2008

Questão econômica

ALBA ZALUAR

APESAR DE SE saber que a ganância desmedida e a volúpia de poder inscrevem jovens no negócio do crime, não é possível ignorar o desemprego e a falta de alternativas como um empurrão a mais. Os dados no Brasil são contundentes. Há muitas falhas e difíceis obstáculos no caminho dos jovens pobres para se educarem e encontrar trabalho.
Segundo o Censo Demográfico de 2000, dos 34 milhões de jovens entre 15 e 24 anos de idade, 12,2% foram considerados muito pobres, e 20,1%, pobres, ou seja, viviam em famílias com renda per capita entre 1/4 e 1/2 salário mínimo. Pior ainda, 30,2% desses jovens não trabalhavam e não estudavam.
Mas os resultados do programa Bolsa Família não são animadores para este setor da população. Pesquisa do IBGE em 2006 mostrou que 38% dos jovens de 15 a 17 anos das famílias incluídas no programa estavam trabalhando para aumentar a renda doméstica. Quase não há relação entre a bolsa e o aproveitamento escolar. Quase tudo é gasto em mais comida. O programa Primeiro Emprego acabou recentemente por que não cumpriu nem 10% das metas: dar emprego a 260 mil jovens.
Os projetos sociais fragmentados das ONGs não conseguem dar conta desse mar de necessidades urgentes dos jovens mais pobres do país. Seu alcance acanhado e a insistência no vestibular ou na inserção via performance cultural restringem ainda mais o público que os atende. E quer-se um país de percussionistas ou de advogados?
Nas entrevistas feitas com jovens atraídos pelas quadrilhas por falta de alternativa econômica, descobre-se que um dos objetivos de quem entra é juntar algum dinheiro ganho no tráfico para abrir negócio próprio. Infelizmente, a roda-morte do crime organizado deixa-os ou mortos ou presos, com todo o dinheiro sumido em tenebrosas transações. No entanto demonstram ter audácia e capacidade empreendedora.
É preciso superar o modo de encarar as desigualdades como setoriais, regionais e de renda familiar. Há também a desigualdade entre as pequenas e médias empresas, que empregam 80% da mão-de-obra, e as grandes empresas, que engolem 70% dos lucros auferidos na atividade econômica.
O microcrédito deveria ser desviado do consumo, que favorece sobretudo as grandes empresas, para financiar o pequeno empreendedor. Jovens que não têm experiência nem contatos para conseguir emprego na economia formal, mas têm espírito empreendedor, teriam como se inserir legalmente. Inclusive os ex-presidiários que não querem mais fazer parte do crime-negócio e ainda mais dificilmente encontram trabalho honesto.

Fonte: Folha Online

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