sexta-feira, 26 de junho de 2009

"Fuga de cérebros" é maior na América Latina, diz estudo

A América Latina e o Caribe compõem a região com maior proporção de profissionais qualificados vivendo no mundo desenvolvido --um fenômeno que se acentuou nas duas últimas décadas, segundo um relatório do Sistema Econômico Latino-americano e do Caribe, com sede em Caracas.

De acordo com o estudo, o total de latino-americanos qualificados que vivem nos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) passou de 1,92 milhão em 1990 para 4,9 milhões em 2007 --uma alta de 155%.

Isso equivale a dizer que 11,3% da mão-de-obra qualificada da região vivia em um país rico em 2007.

No México, país que iniciou um tratado de livre comércio com os Estados Unidos em 1994, esse aumento foi de 270%. O segundo maior aumento percentual foi registrado no Brasil: 242%. Mas, proporcionalmente, as maiores taxas de emigração qualificada da região são registradas nos países pequenos.

O secretário permanente do Sela, José Rivera Banuet, disse à BBC que, como 60% dos migrantes que saem para os países ricos acabam trabalhando em áreas diferentes de sua formação, os conhecimentos desses indivíduos acabam perdidos para os países de origem e desperdiçados nos países de destino.

"Um dos desafios é o de encontrar um equilíbrio entre as necessidades nacionais de reter os especialistas em certas profissões ao mesmo tempo em que se desenvolve a cooperação com os países de destino", afirmou.

Números

Um dos países que mais influenciaram as estatísticas latino-americanos foi o México. O número de mexicanos qualificados nos países ricos era de 366 mil em 1990 e passou para 1,36 milhão em 2007 --16,8% da força de trabalho qualificada.

Sem as estatísticas mexicanas, a taxa de imigração de trabalhadores qualificados latino-americanos não seria de 11,3%, e sim de 8,2%.Os percentuais para África e a Ásia, outras regiões tradicionalmente fornecedoras de imigrantes, são 10,2% e 5,9% respectivamente.

Já o número de brasileiros qualificados trabalhando nos países da OCDE saltou de 63 mil em 1990 para 218 mil em 2007. Mas a situação brasileira preocupa menos os autores do estudo, porque o total de pessoas qualificadas no Brasil ainda é bastante grande.

Em 2007, estima-se que os brasileiros qualificados trabalhando fora correspondiam a 2,3% da força de trabalho qualificada total de 9,4 milhões.

O percentual é bem menor do que o de nações caribenhas como Guiana (88,8%) --cuja dinâmica nesse aspecto a aproxima mais dos vizinhos do Caribe do que da América do Sul--, Haiti (84,9%) e Jamaica (84,4%), entre outros.

"Um dos padrões característicos da migração qualificada contemporânea é a presença de taxas elevadas de emigração em países pequenos ou com baixo nível de diversificação produtiva", destaca o relatório.

"Na América Central, a maioria dos países tem entre um terço e um quarto de sua população qualificada no exterior", afirma o estudo. "Os países da região andina e os sul-americanos são onde o fenômeno tem menor incidência. Contudo, alguns países como Colômbia, Equador e Uruguai têm taxas ao redor de 10%."

Fuga de cérebros

O estudo alerta para o caráter irreversível da chamada "fuga de cérebros" nos países latino-americanos.

O levantamento aponta que, dos anos 1970 para cá, houve uma mudança interessante no comportamento dos países: vários países da região deixaram de promover políticas de contenção da fuga de cérebros, assumindo que a perda de mão-de-obra qualificada é compensada pelo volume de remessas recebidos do exterior.

No entanto, a diretora para a região andina da OIM (Organização Internacional das Migrações), Pilar Norza, disse à BBC que este "conforto" não condiz necessariamente com a realidade.

Segundo Norza, embora não existam números para comprovar isso, existe uma percepção de que os imigrantes que mais enviam remessas não são necessariamente os mais qualificados.

Para Banuet, do Sela, o fenômeno da fuga de cérebros "não pode ser freado nem incentivado, porque depende da decisão individual das pessoas".

Na opinião dele, encontrar o equilíbrio nesta questão significa garantir que os países que formaram os imigrantes qualificados também obtenham benefícios do seu investimento, o que poderia ser alcançado por meio de programas de formação compartilhados e outros acordos bilaterais e multilaterais.

*Com reportagem de Yolanda Valery, de Caracas, para a BBC Mundo

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