“Isso mostra que um quarto do mundo tem um poder de compra várias vezes superior ao restante da população. É uma distância que tem aumentado ao longo do tempo, e não só entre os países, mas também dentro deles”, afirma Renato Baumann, diretor do escritório da CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e o Caribe) no Brasil. “A economia mundial tem uma série de sistemas que favorecem os que estejam mais preparados, que tenham mais instrução. Então, em um período de crescimento econômico como o que tivemos recentemente, os indivíduos mais instruídos e as empresas com melhor estrutura crescem mais do que os assalariados, por exemplo, que não têm muito poder de barganha. Isso acaba aumentando o fosso da renda”, completa.
A desigualdade à qual o economista se refere fica ainda mais evidente quando se observam os dois extremos da lista de 180 nações para as quais há informações disponíveis. Na ponta de baixo, os 20% de países com menor PIB per capita (indicador usado para medir renda no IDH) ganham em média US$ 1.461 e abrigam pouco mais de 1 bilhão de pessoas. Já na ponta de cima – que também abriga 1 bilhão de pessoas – o mesmo indicador de renda pula para US$ 33.200, mais de 22 vezes o PIB per capita dos países mais pobres.
Melhores e piores
Entre os detentores dos piores indicadores de renda estão República Democrática do Congo, com apenas US$ 281 de PIB per capita, Burundi (US$ 333) e Libéria (US$ 335). A África abriga a maioria dessas nações (36), dividindo o a lista com a Ásia (sete), Oceania (três) e o Haiti.
Já nos melhores indicadores destacam-se Luxemburgo (US$ 77.089 de PIB per capita), Qatar (US$ 72.969) e Noruega (US$ 51.862). A desigualdade entre o começo e o fim da lista é gigantesca. Luxemburgo tem 274 vezes a renda da República Democrática do Congo.
A disparidade, de acordo com Baumann, tende a aumentar. “Muitos dos países com pior renda per capita têm taxas de natalidade mais elevadas que o restante e tendem, com o tempo, a ter uma quantidade maior de pessoas para distribuir a riqueza.”
Na lista das maiores rendas per capita, há forte presença da Europa (mais da metade dos 45 países) e das nações Árabes (sete). O Brasil (PIB per capita de US$ 8.949) e os outros países da América do Sul estão entre as nações de indicador mediano. “Nós somos a classe média. O crescimento recente do mundo, principalmente da China e da Índia, aumentou a demanda por commodities e trouxe efeitos benéficos para a região, embora não tenhamos chegado perto dos ricos", lembra Baumann.
O economista se mostra pessimista sobre os efeitos da crise na relação entre as rendas dos países e não acha provável que as perdas fiquem concentradas nos mais ricos. “É muito difícil que essa distância seja diminuída. O que pode acontecer – e já aconteceu na década de 30, após a crise de 29 – é uma escalada do protecionismo para proteger os ricos, o que seria terrível. Isso iria atingir em cheio as nações menos favorecidas e provocar ondas migratórias que poderiam despertar mais barreiras xenófobas pelo mundo”, teme Baumann.
Dados
As informações sobre o PIB per capita divulgadas com o IDH e usadas nesta comparação são ajustadas pela Paridade de Poder de Compra (dólar PPC), método que elimina as diferenças de custo de vida entre os países.
Mesmo assim, o PIB per capita (soma dos bens e serviços produzidos pelo país, dividida pela população) pode apresentar distorções, devido a desigualdades internas. Ele não necessariamente se reverte no bem-estar da população. É o caso, por exemplo, de países africanos ricos em petróleo, como a Guiné Equatorial, que está na lista dos países com maior PIB per capita (US$ 27.161), mas tem expectativa de vida de apenas 50,8 anos.
PNUD.
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