Por US$ 20, um familiar ou amigo pode falar por 20 minutos com um preso na cadeia do Condado de St. Clair, em Missouri, pela Internet. Por US$ 40, pode falar por 40 minutos. As visitas virtuais, a um dólar o minuto, podem ser feitas a qualquer tempo. Basta agendar.
Financeiramente, o sistema de visitas virtuais deu certo. E a cadeia do Condado de Jefferson, também de Missouri, seguiu a trilha e inaugurou seu próprio sistema. Por um ou dois meses, o preço para os visitantes virtuais será promocional: apenas US$ 6,99 por 25 minutos de conversa — mais as taxas e impostos costumeiros.
Outras cadeias do estado estão se preparando para adotar o sistema. O estado vizinho, Illinois, já se prepara para instalá-lo em todo seu sistema penitenciário — embora os presos e suas famílias, em qualquer dos estados, não gostem nada da história.
O preço é proibitivo para muitas famílias. Para elas, a cadeia do Condado de Jefferson, na área de St. Louis, oferece uma alternativa: ir à cadeia e falar gratuitamente com o preso. Nesse caso, cada preso terá direito a duas visitas de 25 minutos por semana, apenas.
E as visitas gratuitas também serão virtuais. Há uma sala, em que foram instalados 12 aparelhos com câmera e monitor, um ao lado do outro. Assim, 12 famílias podem participar de uma espécie de visita coletiva a seus presos.
E, em cada cela coletiva, do tipo dormitório, foi instalado outro aparelho, de forma que o preso não precisa ser levado a um ponto de encontro.
“Enquanto estou falando com meu filho, outros presos estão passando, de cuecas, por trás da câmera ou fazendo aquelas caras de idiotas”, disse Sherry McCullough, 42, que visita seu filho na cadeia do Condado de St. Clair, ao jornal St. Louis Post-Dispatch.
De uma maneira geral, os familiares, principalmente as mães, reclamam por não poder ver seus presos pessoalmente e não poder interagir com eles mais de perto. “Não é a mesma coisa”, disse Sherry McCullough. “Eu quero ver meu filho inteiro, verificar se ele está bem, se não está ferido. Ver só o rosto dele no monitor não é suficiente”.
Para esclarecer, nessas cadeias já não existem contatos físicos entre visitantes e presos. Há um vidro que separa os visitantes dos presos e as conversas são feitas por canal telefônico da cadeia.
Porém, as autoridades que adotaram o sistema estão satisfeitas. A cadeia coleta uma comissão de 20% sobre a arrecadação, depois de uma certa carência. Não dá lucro, elas dizem, mas ajuda no custeio de manutenção do estabelecimento.
Os 80% restantes ficam com a Securus Technologies Inc., empresa de Dallas, Texas, que instalou o sistema nas duas cadeias. Em St. Clair, a empresa instalou 24 aparelhos nas celas coletivas, além das 12 na sala dos visitantes, para atender a 540 presos — a um custo, segundo a empresa, de US$ 332 mil.
O gerente do departamento de compras do condado Tom Maziarz, aprova a entrada desses novos recursos para cobrir o custeio das cadeias. “Agora, esses mesmos presos que estão entupindo os toilets e quebrando as coisas financiam os reparos, quando usam o novo sistema”, ele declarou ao jornal.
Para ele, os presos não podem reclamar dos altos custos do sistema. “Um dólar por minuto me parece um preço justo, principalmente quando você tem uma audiência cativa. Se os presos não gostam disso, eles não deveriam ter se metido em problemas, para início de conversa”.
Mas a nova fonte de renda não é o único argumento das autoridades carcerárias. Um ponto importante, para eles, é a segurança. Quanto menos os carcereiros tiverem de movimentar presos dentro da cadeia, maior é a segurança, eles dizem.
Outro argumento é o conforto das famílias. Segundo as autoridades carcerárias, famílias que moram a dois estados de distância farão uma grande economia, ao fazer suas visitas virtualmente, em vez de pessoalmente.
Para o diretor da John Howard Association, John Maki, esse é um argumento falso. “A população das cadeias dos condados é basicamente local. Ninguém tem de fazer viagens interestaduais para visitar seus presos”, ele disse ao jornal.
“O fator preponderante é que a visita à prisão é um direito básico do preso, que precisa ser desconectado do propósito do lucro, tanto das cadeias quanto de empresa privadas”, afirmou o diretor desse grupo de defesa dos prisioneiros.
O porta-voz do Departamento de Correções de Illinois, Tom Shaer, disse que muitas famílias estão pedindo para adotar o sistema, mas para usá-lo pela Internet.
“Não entendo como alguém pode ir até a prisão só para falar com seu preso através de um vídeo, em vez de face a face. Todas as pesquisas mostram que as visitas pessoais definitivamente beneficiam a saúde mental das duas partes. O contato por vídeo nunca poderá se igualar a isso”.
João Ozorio de Melo é correspondente da revista Consultor Jurídico nos Estados Unidos.
Revista Consultor Jurídico, 30 de junho de 2015.
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