Entrevista: Sérgio de Paula Ramos, psiquiatra
Com 35 anos de experiência, o psiquiatra Sérgio de Paula Ramos, coordenador da Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, defende a “erradicação do consumo de álcool entre adolescentes” como forma de combater a epidemia de crack.
– Nunca tratei um paciente, independentemente de crack, cocaína, maconha, que a primeira droga na vida dele não tenha sido álcool – diz, em entrevista concedida a ZH:
Zero Hora – O que representa uma mãe, desesperada, matar um filho?
Sérgio de Paula Ramos – É um marco. Tínhamos primeiro uma situação preocupante de consumo de álcool. Depois, que Porto Alegre era a capital brasileira onde os adolescentes mais consumiam maconha. Mais tarde, começou o uso de cocaína, ecstasy e surgiu o crack de forma avassaladora. Nós tínhamos a famosa foto da mãe algemando o seu filho no pé da cama. Agora, uma mãe matando seu filho por desespero. Vamos ter de decidir se ficamos debatendo o caso da mãe que matou o filho ou se pensamos o que está havendo com a nossa cidade, o nosso Estado, os nossos jovens.
ZH – O que que deve ser feito?
Ramos – Uma política responsável sobre álcool. Erradicar o consumo de bebida alcoólica por adolescentes. Devemos pegar como uma questão de honra de que, na minha cidade, menor de idade não bebe álcool.
ZH – Ele era dependente de crack. O que tem a ver o álcool?
Ramos – Pergunte para a família dele qual a primeira droga que ele ingeriu e com que idade. Fecho que é bebida alcoólica e com idade entre 12 anos e 15 anos. Com 35 anos de trabalho nesta área, nunca tratei um paciente, independentemente de crack, cocaína, maconha, que a primeira droga na vida dele não tenha sido álcool. Se você consegue adiar a iniciação ao álcool, reduz a taxa de alcoolismo e o envolvimento com outras drogas. Criaria um cenário urbano mais clean, menos droga. O segundo foco é a Lei Seca, cuja fiscalização deve ser retomada. Acho que poderá haver até um resgate da cidadania.
ZH – Por que uma coisa está encadeada na outra?
Ramos – Há muitas teorias para a escalada da droga. Existem pessoas que são atraídas parcialmente pelo desafio. O álcool me deu um barato, mas dizem que a maconha é melhor, então vou experimentar. Olha, o legal é a cocaína, o ecstasy, e acabam experimentando a cocaína. E, por fim, o crack.
ZH – Como o senhor avalia as políticas públicas no Estado voltadas ao combate dessa epidemia?
Ramos – Inexistem. Tenho assistido a tímidas iniciativas e a muito discurso. Você não consegue resolver uma epidemia de crack criando 500, 600, mil leitos. Os tratamentos para dependentes de crack graves são pouco eficazes e ninguém tem dinheiro para abrir tanto leito. Você tem de segurar o touro pelo chifre muito antes do crack entrar em cena.
ZH – O senhor conhece alguém que tenha se recuperado do vício do crack?
Ramos – Há dois anos, eu falei que não tinha recuperado ninguém. Hoje, recuperei uma meia dúzia. Mas é baixa a taxa de recuperação. É uma dependência química muito suscetível a recaídas.
Zero Hora.
– Nunca tratei um paciente, independentemente de crack, cocaína, maconha, que a primeira droga na vida dele não tenha sido álcool – diz, em entrevista concedida a ZH:
Zero Hora – O que representa uma mãe, desesperada, matar um filho?
Sérgio de Paula Ramos – É um marco. Tínhamos primeiro uma situação preocupante de consumo de álcool. Depois, que Porto Alegre era a capital brasileira onde os adolescentes mais consumiam maconha. Mais tarde, começou o uso de cocaína, ecstasy e surgiu o crack de forma avassaladora. Nós tínhamos a famosa foto da mãe algemando o seu filho no pé da cama. Agora, uma mãe matando seu filho por desespero. Vamos ter de decidir se ficamos debatendo o caso da mãe que matou o filho ou se pensamos o que está havendo com a nossa cidade, o nosso Estado, os nossos jovens.
ZH – O que que deve ser feito?
Ramos – Uma política responsável sobre álcool. Erradicar o consumo de bebida alcoólica por adolescentes. Devemos pegar como uma questão de honra de que, na minha cidade, menor de idade não bebe álcool.
ZH – Ele era dependente de crack. O que tem a ver o álcool?
Ramos – Pergunte para a família dele qual a primeira droga que ele ingeriu e com que idade. Fecho que é bebida alcoólica e com idade entre 12 anos e 15 anos. Com 35 anos de trabalho nesta área, nunca tratei um paciente, independentemente de crack, cocaína, maconha, que a primeira droga na vida dele não tenha sido álcool. Se você consegue adiar a iniciação ao álcool, reduz a taxa de alcoolismo e o envolvimento com outras drogas. Criaria um cenário urbano mais clean, menos droga. O segundo foco é a Lei Seca, cuja fiscalização deve ser retomada. Acho que poderá haver até um resgate da cidadania.
ZH – Por que uma coisa está encadeada na outra?
Ramos – Há muitas teorias para a escalada da droga. Existem pessoas que são atraídas parcialmente pelo desafio. O álcool me deu um barato, mas dizem que a maconha é melhor, então vou experimentar. Olha, o legal é a cocaína, o ecstasy, e acabam experimentando a cocaína. E, por fim, o crack.
ZH – Como o senhor avalia as políticas públicas no Estado voltadas ao combate dessa epidemia?
Ramos – Inexistem. Tenho assistido a tímidas iniciativas e a muito discurso. Você não consegue resolver uma epidemia de crack criando 500, 600, mil leitos. Os tratamentos para dependentes de crack graves são pouco eficazes e ninguém tem dinheiro para abrir tanto leito. Você tem de segurar o touro pelo chifre muito antes do crack entrar em cena.
ZH – O senhor conhece alguém que tenha se recuperado do vício do crack?
Ramos – Há dois anos, eu falei que não tinha recuperado ninguém. Hoje, recuperei uma meia dúzia. Mas é baixa a taxa de recuperação. É uma dependência química muito suscetível a recaídas.
Zero Hora.
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