sexta-feira, 17 de abril de 2009

Agressão preocupa mais as mulheres que câncer e Aids




Para 56% das brasileiras, violência doméstica está no topo das preocupações.

São Paulo - Nem o câncer de mama nem a possibilidade de contrair o vírus da Aids aflige mais a mulher brasileira do que o temor de ser agredida em casa pelo companheiro, pelos filhos ou pelos netos. A violência doméstica está no topo das preocupações da pesquisa divulgada pelo Ibope em parceria com o Instituto Avon.

O levantamento, denominado Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, ouviu cerca de 2 mil pessoas em todas as regiões do País, entre os dias 13 e 17 de fevereiro. Mais da metade dos entrevistados (56%) disseram temer mais a agressão que aquelas doenças. A preocupação com o aumento dos casos de Aids ocupa o segundo lugar (51%), seguida pela violência urbana (36%) e do câncer de mama e de útero (31%).

Para a promotora de Justiça e professora de Direito Penal da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Eliana Vendramini, a preocupação com a agressão em casa dá a dimensão de como a mulher sofre. ''A violência doméstica dói mais do que uma doença física porque é uma surpresa diária e se manifesta de vários modos. Ela disse acreditar que, mesmo diante de uma enfermidade, a mulher pode ter ''paz de espírito'' para buscar ajuda, o que não ocorre com a vítima agredida.

Prole

De acordo com a pesquisa, a criação dos filhos está entre os principais motivos que levam a mulher a continuar com o agressor. Cerca de 23% dos entrevistados apontaram essa justificativa, que só é superada pela falta de condições econômicas para se sustentar, com 24%. O que chama a atenção, no entanto, é que para 17% dos entrevistados a mulher continua com o parceiro por medo de ser assassinada caso ponha fim à relação.

Esse número sobe para 24% na percepção de jovens, com até 24 anos. ''Esse dado mostra que não podemos subestimar o relato da vítima. No dia seguinte, ela pode estar morta'', disse a ministra Nilcéa Freira, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.

O levantamento mostra que 55% dos entrevistados conhecem pelo menos um caso de violência doméstica. Desses, 39% disseram já ter colaborado com a vítima de alguma forma, seja por meio de conversas e orientação para a busca de apoio jurídico ou policial; enquanto 17% preferiram se omitir. A maioria dos entrevistados (56%) não confia na proteção jurídica e policial à vítima. ''Quando a mulher fala que é ameaçada, o policial acredita ser uma briguinha de casal. Mas para uma mulher denunciar o pai de seus filhos, ela tem que romper com uma série de barreiras'', disse a ministra Nilcéa.

Folha de Londrina.

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