Ao matar com um tiro no pescoço Tobias Lee Manfred Hahn, 24 anos, seu único filho, a aposentada Flávia Costa Hahn, 60 anos, deu início a uma nova era na epidemia de crack que assola o Rio Grande do Sul. Até a morte de Tobias, no domingo de Páscoa, o drama familiar mais comovente envolvendo a dependência da pedra entre as classes média e alta era a luta desesperada dos pais para conter os filhos em casa ou em clínicas para dependentes.
– A morte é um marco que deve ser considerado – diz o psiquiatra Sérgio de Paula Ramos, coordenador da Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus da Capital.
Filho de Flávia e do engenheiro aposentado Manfred Oto Hugo Hahn, 75 anos, alemão radicado há décadas no Brasil, Tobias será enterrado às 9h de hoje, no Cemitério Vila Nova, na zona sul da Capital.
Mas o jovem de classe alta, que habitava uma residência de três pisos, numa área conhecida como Sétimo Céu – região nobre de Porto Alegre – começou a morrer há sete anos. O início da lenta agonia coincide com o consumo da “maldita”, como moradores da região que acompanharam o drama dos Hahn definem o crack.
– Ele usava maconha e cocaína desde a adolescência, mas quando começou o crack, a vida da família virou um inferno. Parecia um zumbi – revela uma pessoa próxima à família.
Psiquiatra diz que faltam limites para os filhos
Nas ruas, a comunidade assistia às humilhações que Tobias impunha aos pais. Flávia era surrada quando se negava a sustentar o vício do rapaz. Dentro da residência, as dependências precisavam ser chaveadas e os bens, escondidos. Alguns cômodos internos, além de porta, contavam com grade para evitar que Tobias os alcançasse.
Para o psiquiatra Luiz Ziegelmann, professor do Departamento de Saúde Coletiva da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) e membro do Grupo Hospitalar Conceição, o uso de drogas por parte de jovens de classe média e alta está ligado à própria vida moderna
– Os pais estão cada vez mais ausentes, principalmente o pai, que normalmente é quem dá os limites ao filho. Por natureza, as mulheres tendem a ser mais acolhedoras – avalia Ziegelmann.
Moradores também sofriam com o temperamento explosivo durante crises de abstinência. Em dezembro, o marido de uma ex-funcionária da família, que o conhecia desde a infância, foi espancado e arrastado por Tobias.
– Ele queria dinheiro emprestado. Como o senhor não ia dar, Tobias o espancou e deixou o homem dentro de um bueiro, desacordado – conta uma pessoa que testemunhou as agressões.
Com o crack, surgiram os crimes. Envolvido em pequenos roubos a pedestres, respondia a quatro inquéritos por assalto e formação de quadrilha. Assinou ainda outros seis Termos Circunstanciados (espécie de inquérito para crimes de menor importância), três por posse de drogas, dois por lesões corporais e um por danos a bens alheios.
Tobias completaria 25 anos no domingo
A única ocorrência em que aparece como vítima foi registrada em 27 de março. Formalizada por Flávia, diz o seguinte:
“Comunica que seu filho (...) que e dependente químico, estava sendo levado, numa ambulância, para ser internado para tratamento no hospital Vila Nova, conforme determinação judicial, quando (..) no trevo junto às rua Dr. Campos Velho e Vicente Montegia (...) saltou pela janela fugindo em seguida”.
Atormentada pela violência do filho, Flávia refugiava-se em um iate da família, num clube à beira do Guaíba, em busca de paz.
– Era a única forma que ela encontrava para ficar longe do Tobias – conta uma amiga da família.
No dia em que ocorreu o crime, os desentendimentos se iniciaram antes dos primeiros raios de sol iluminarem a manhã de Páscoa. Depois do almoço, a briga dilacerou para sempre a família Hahn.
Presa em flagrante e levada à Penitenciária Feminina Madre Pelletier, Flávia saiu na tarde de ontem da prisão – a tempo de velar o filho.
– Ela está muito abalada, já vinha sofrendo havia alguns anos com toda a violência do filho, que culminou nisso. A Flávia foi levada para a casa de amigos, onde permanecerá alguns dias até se recuperar – informou o advogado Ricardo Preis.
No próximo domingo, Tobias completaria 25 anos. Os pais planejavam uma festa surpresa para tentar convencê-lo, pela sexta vez, a internar-se numa clínica contra o uso de drogas. Não houve tempo.
Zero Hora.
– A morte é um marco que deve ser considerado – diz o psiquiatra Sérgio de Paula Ramos, coordenador da Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus da Capital.
Filho de Flávia e do engenheiro aposentado Manfred Oto Hugo Hahn, 75 anos, alemão radicado há décadas no Brasil, Tobias será enterrado às 9h de hoje, no Cemitério Vila Nova, na zona sul da Capital.
Mas o jovem de classe alta, que habitava uma residência de três pisos, numa área conhecida como Sétimo Céu – região nobre de Porto Alegre – começou a morrer há sete anos. O início da lenta agonia coincide com o consumo da “maldita”, como moradores da região que acompanharam o drama dos Hahn definem o crack.
– Ele usava maconha e cocaína desde a adolescência, mas quando começou o crack, a vida da família virou um inferno. Parecia um zumbi – revela uma pessoa próxima à família.
Psiquiatra diz que faltam limites para os filhos
Nas ruas, a comunidade assistia às humilhações que Tobias impunha aos pais. Flávia era surrada quando se negava a sustentar o vício do rapaz. Dentro da residência, as dependências precisavam ser chaveadas e os bens, escondidos. Alguns cômodos internos, além de porta, contavam com grade para evitar que Tobias os alcançasse.
Para o psiquiatra Luiz Ziegelmann, professor do Departamento de Saúde Coletiva da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) e membro do Grupo Hospitalar Conceição, o uso de drogas por parte de jovens de classe média e alta está ligado à própria vida moderna
– Os pais estão cada vez mais ausentes, principalmente o pai, que normalmente é quem dá os limites ao filho. Por natureza, as mulheres tendem a ser mais acolhedoras – avalia Ziegelmann.
Moradores também sofriam com o temperamento explosivo durante crises de abstinência. Em dezembro, o marido de uma ex-funcionária da família, que o conhecia desde a infância, foi espancado e arrastado por Tobias.
– Ele queria dinheiro emprestado. Como o senhor não ia dar, Tobias o espancou e deixou o homem dentro de um bueiro, desacordado – conta uma pessoa que testemunhou as agressões.
Com o crack, surgiram os crimes. Envolvido em pequenos roubos a pedestres, respondia a quatro inquéritos por assalto e formação de quadrilha. Assinou ainda outros seis Termos Circunstanciados (espécie de inquérito para crimes de menor importância), três por posse de drogas, dois por lesões corporais e um por danos a bens alheios.
Tobias completaria 25 anos no domingo
A única ocorrência em que aparece como vítima foi registrada em 27 de março. Formalizada por Flávia, diz o seguinte:
“Comunica que seu filho (...) que e dependente químico, estava sendo levado, numa ambulância, para ser internado para tratamento no hospital Vila Nova, conforme determinação judicial, quando (..) no trevo junto às rua Dr. Campos Velho e Vicente Montegia (...) saltou pela janela fugindo em seguida”.
Atormentada pela violência do filho, Flávia refugiava-se em um iate da família, num clube à beira do Guaíba, em busca de paz.
– Era a única forma que ela encontrava para ficar longe do Tobias – conta uma amiga da família.
No dia em que ocorreu o crime, os desentendimentos se iniciaram antes dos primeiros raios de sol iluminarem a manhã de Páscoa. Depois do almoço, a briga dilacerou para sempre a família Hahn.
Presa em flagrante e levada à Penitenciária Feminina Madre Pelletier, Flávia saiu na tarde de ontem da prisão – a tempo de velar o filho.
– Ela está muito abalada, já vinha sofrendo havia alguns anos com toda a violência do filho, que culminou nisso. A Flávia foi levada para a casa de amigos, onde permanecerá alguns dias até se recuperar – informou o advogado Ricardo Preis.
No próximo domingo, Tobias completaria 25 anos. Os pais planejavam uma festa surpresa para tentar convencê-lo, pela sexta vez, a internar-se numa clínica contra o uso de drogas. Não houve tempo.
Zero Hora.
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