segunda-feira, 6 de abril de 2015

Brasil tem 2.787 cidadãos presos em 58 países, diz levantamento

Dos brasileiros que estavam presos no exterior em 2014, 864 foram pegos como
Dos brasileiros que estavam presos no exterior em 2014, 864 foram pegos como "mulas" do narcotráfico

O Brasil tem hoje 2.787 cidadãos presos em 58 países, um terço deles por posse ou tráfico de drogas. O número é 13% inferior ao de 2013, a primeira queda desde 2011, quando o Itamaraty começou a fazer este levantamento. No entanto, o aumento em alguns países como a Turquia pode indicar a abertura de novas rotas de tráfico de drogas.
“No ano passado verificamos que o porcentual geral de brasileiros presos por tráfico não representava a realidade. Em algumas regiões o tráfico representa grande parte das prisões”, explicou a diretora do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior do Itamaraty, ministra Luiza Lopes da Silva.

O levantamento feito pelo Ministério das Relações Exterior nos últimos três meses mostra, por exemplo, que 100% dos 28 brasileiros presos da África foram condenados por tráfico de drogas, quase 80% na Oceania, 74% no Oriente Médio e 45% na Europa, onde, com 1.046 pessoas, estão a maioria dos brasileiros presos no exterior.
Os casos mais famosos são o de Marco Archer e de Rodrigo Gularte, os dois brasileiros condenados à morte na Indonésia por terem tentado entrar com cocaína no país, onde tráfico recebe a pena capital. Apesar dos esforços da diplomacia brasileira, Archer foi fuzilado em janeiro. Gularte, que sofre de transtornos psiquiátricos, teve a execução marcada para fevereiro, mas foi suspensa por problemas de logística das autoridades locais. Ogoverno brasileiro trabalha com a família para tentar suspender a execução por causa da doença de Gularte.
Os dados mostram que houve uma queda no número de brasileiros presos na África, o que pode indicar um enfraquecimento na rota. Em compensação, dos 18 presos na Austrália, 13 o estão por tráfico de drogas. Na Nova Zelândia, todos os seis estão condenados pelo mesmo motivo. No entanto, o Itamaraty não acredita que seja uma nova rota, mas talvez pessoas que estejam tentando pagar sua viagem, que é muito cara. A maioria é de brasileiros de classe média.
Essa vinculação com tráfico de drogas, no entanto, prejudica os brasileiros no exterior. “As consequências vão muito além da mera criminalidade. Há consequências para os turistas e para a imagem da comunidade brasileira. Cria-se um sinal de alerta para brasileiros que se tornam suspeitos potenciais, se aparentam cumprir determinados requisitos. Há maior rigor na inspeção de bagagens, condução à revelia para exames”, explica a ministra. Aconteceu, por exemplo, esse endurecimento em Israel, Turquia e Malta. Rotas fora do padrão turístico, ou usando meios de transporte não tão usuais, mulheres viajando sozinhas têm sido os que chamam a atenção dos autoridades sobre os brasileiros. “É algo que não estava no nosso radar e agora está causando preocupação. Se há casos muito frequentes, fazemos contatos com as embaixadas, tentamos uma solução”, explicou o embaixador Carlos Alberto Simas Magalhães, subsecretário-geral das Comunidades Brasileiras no Exterior.
Dos brasileiros que estavam presos no exterior em 2014, 864 foram pegos como “mulas” do narcotráfico. Na maioria dos casos, pessoas de baixa renda e baixa escolaridade, muitas vezes cometendo um delito pela primeira vez. Já na América do Sul, o Paraguai concentra o número de presos brasileiros. São 298 dos 823 em toda a região, com a Bolívia, com 117, em segundo lugar. A fronteira extremamente porosa e a dificuldade de controle facilitam todos os tipos de crime. “O narcotráfico na fronteira não é delito isolado. É uma série de crimes que estão todos intimamente interligados. Tráfico de maconha do Paraguai para o Brasil, armas, sequestros, extorsão e atividade de crime organizado”.
Nos Estados Unidos está concentrado o maior número de brasileiros presos, mas é um dos locais onde o tráfico de drogas não é um problema. Menos de 4% foram condenados por esse crime. A maioria tem relação com imigração ilegal, incluindo fraudes para obtenção de vistos.

Uma mudança na legislação americana, que agora permite que estrangeiros, mesmo ilegais, possam tirar a carteira de habilitação – o documento mais importante no País – está sendo vista como a possibilidade de reduzir ainda mais os problemas de brasileiros que moram ilegalmente nos Estados Unidos.

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