sábado, 10 de maio de 2008

Abuso Sexual muda imaginário infantil: meninas não pensam em ter filhos

Os principais bairros afetados pela violência, de uma maneira geral, e pelo abuso sexual às crianças e aos adolescentes começam a transparecer uma realidade diferente e preocupante nesses pequenos cidadãos, em especial as meninas. O ideal romântico delas - presente nas brincadeiras de boneca de antigamente – de querer casar e ter filhos quando se tornassem adultas, se resume, no imaginário das crianças de hoje, apenas no casamento, quando muito.

Nesta sexta-feira (9), cerca de 1,5 mil crianças de várias escolas do Estado se reuniram no Parque Moscoso, em Vitória, para participar do lançamento da Campanha Estadual de Enfrentamento ao Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes – chamada de Serviço Sentinela -, promovida pela Secretaria de Estado do Trabalho Assistência e Desenvolvimento Social (Setades) com apoio de secretarias municipais de prefeituras do Estado.

Ao conversar com crianças da comunidade de Alecrim, em Vila Velha, um fato em comum nas perguntas respondidas pelas meninas chamou a atenção: a maioria delas não pretende ter filhos. É o caso de uma estudante de 10 anos. Ela mora com os avós, com um tio e com um irmão e disse que não pretende casar nem ter filhos. O motivo parece se esconder no inconsciente. “Eu quero ser sozinha. Não quero ter filho não, porque é muito ruim”, disse, sem se prolongar.

Outra estudante, ainda com 11 anos, que mora com os pais e com duas irmãs também em Alecrim, Vila Velha, também diz não querer filhos. “A minha família é muito boa para mim. Tudo o que eles querem eu faço, obedeço minha mãe e meu pai e brinco com meus irmãos. Eu gosto de brincar de escolinha e de boneca, mas não quero ter filho porque eu não gosto”, disse, também sem encontrar explicações.

O secretário de Estado do Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Givaldo Vieira, acredita que, com o Serviço Sentinela, presente em 32 municípios do Estado, a conscientização, principalmente dos envolvidos nos abusos, possa ajudar a conscientizá-las para que façam a denúncia.

“Nós trabalhamos sempre com a questão do protagonismo infanto-juvenil, ou seja, a própria criança e o adolescente precisam conhecer esses riscos. Elaboramos uma cartilha para trabalhar com as crianças e com as famílias para que elas saibam dessas situações e estejam motivadas a denunciar o que elas presenciam em relação a outros colegas, além de saber identificar o que é uma atitude de carinho e o que é uma carícia maliciosa que pode indicar uma situação de risco”.

Durante o lançamento do Serviço Sentinela 2008, as crianças trataram de um assunto sério - o abuso sexual - de maneira lúdica. Palhaços, grupos de congo, oficinas, apresentação de teatro e distribuição de lanches ajudaram a compor com o grande espaço do Parque Moscoso para entretenimento delas.

Números Sentinela 2007

No ano passado, o Serviço Sentinela realizou 1.571 atendimentos a crianças e adolescentes referentes a abuso sexual. Os casos de exploração sexual somaram 132 atendimentos. Ao todo, 2.457 crianças foram atendidas pelo serviço que oferece proteção e atendimento às vítimas infanto-juvenis de abuso ou exploração sexual, violência física e psicológica e negligência. Os familiares das vítimas também recebem atendimento.


Gazeta Online.

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