Agressões proliferam no Ask.fm , que atrai cada vez mais jovens e preocupa os pais e professores
O antigo caderno de perguntas e respostas muito comum nas escolas há alguns anos virou uma rede social que tem sido motivo de muita dor de cabeça para pais e professores. O Ask.fm permite que os usuários utilizem o site de forma anônima, e as conexões com outras redes sociais propiciaram um cenário bastante favorável para a prática do bullying virtual (cyberbullying). Segundo especialistas, as agressões também podem ocorrer por mensagens de texto, e-mails, fotos e vídeos.
Apenas em 2012, as mortes de 41 adolescentes em todo o mundo foram relacionadas aos ataques provocados pelo cyberbullying, segundo pesquisa da Academia Americana de Pediatria. Além disso, 80% dos atendimentos feitos de julho de 2012 a setembro de 2013 pelo canal de orientação da Organização Não Governamental (ONG) Safernet Brasil são referentes às agressões virtuais pelo Ask.fm.
No Brasil, o site já é o terceiro mais acessado pelos internautas, com 1,86% da fatia, ultrapassando Orkut e Twitter. O Facebook é o líder absoluto, com 68,2% das visitas, seguido pelo YouTube (18,2%), segundo dados da Hitwise – ferramenta de inteligência em marketing digital da Serasa Experian.
Ter atenção ao comportamento dos filhos é fundamental para que pais e mães identifiquem se o filho é vítima ou pratica o cyberbullying, afirma a pesquisadora Cleo Fante. “Infelizmente, são poucos os pais que identificam comportamentos abusivos e tentam corrigir os filhos que praticam. A maioria tende a acreditar que é próprio da idade ou que com o tempo passa. Por outro lado, deixar de fazer uso do computador ou celular, se recusar a atender chamadas telefônicas ou querer mudar de escola são algumas características das vítimas”, diz.
No caso da gestora de Recursos Humanos Cristiane Ferreira da Silva, 35, não foi possível agir antes e ela teve que trocar o filho de colégio e iniciar um tratamento psicológico após a criança sofrer bullying aos 8 anos.
Para ela, as causas da agressão gratuita são a falta de respeito, de aceitar o próximo e a capacidade de conviver com as escolhas do colega. “As crianças têm se tornado muito agressivas, estão levando armas para a escola e postam vídeos das brigas marcadas pela internet. Também tem a questão do ambiente. Quando fui conhecer, a situação do menino que praticava bullying contra meu filho, vi que ele não tinha pai, o irmão estava no crime, ou seja, vivia em um ambiente conturbado”, conta a mãe, que após o problema fundou a ONG “Educar contra o bullying”.
Cleo Fante afirma que, talvez, os motivos das práticas do cyberbullying estejam, sim, relacionados à dinâmica familiar, como: atitudes de permissividade, intolerância, ausência de regras e limites, abusos na educação e exemplos negativos. Nesses casos, ao suspeitar do envolvimento, os pais devem manter a calma e se colocar em posição de igualdade e diálogo. “Caso não surta efeito positivo, eles devem recorrer à escola em busca de informações e orientações ou a um profissional”, orienta a pesquisadora.
Educação. Frente a um cenário com algumas queixas de alunos que postavam coisas desagradáveis e inadequadas, e antes que isso se tornasse uma prática da maioria, o colégio Magnum, em Belo Horizonte, desenvolveu um trabalho com cada série para conscientizar cerca de 200 alunos quanto à adequação para o uso da internet e das redes sociais.
Ação nas escolas
Cartilha. O Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep/MG) distribuiu neste ano 185 mil cartilhas para as 670 escolas associadas como uma ação de combate ao bullying nas instituições particulares do Estado.
Outro lado
“O que torna o nosso site exclusivo é a capacidade de fazer perguntas anônimas. A maioria dos usuários é adolescente e é importante para nós que eles sejam capazes de fazer isso com segurança. Infelizmente, o bullying pode ocorrer em qualquer lugar, por isso é importante que pais e usuários trabalharem juntos para combatê-lo. Estamos trabalhando na implementação de sistemas manuais e automáticos para recompensar o bom comportamento online e em um sistema para lidar com usuários que se comportem de forma inadequada”, disse o porta-voz do Ask.fm, Ross Hall.
O Tempo. PUBLICADO EM 03/11/13
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