É desalentador, para quem sonha com um país mais justo, ler as reiteradas notícias sobre as infames condições carcerárias em nosso Estado. Algum resquício de esperança sofre um golpe, quase fatal, quando encontramos uma reportagem como a publicada pela Revista do Globo em julho de 1945, com o título “Queremos um presídio”. Com texto de Nelson Assis e fotos de Ed Keffel, a matéria constata a precariedade da estrutura escondida atrás das grossas e sólidas paredes do Cadeião do Gasômetro. É triste perceber que o tempo passou, e esse problema só não continua igual porque piorou.
Na velha cadeia, que deveria comportar, no máximo 200 presos, havia sempre mais de 900. Exatamente 970 quando os jornalistas lá estiveram. “Muita gente numa mesma cela: 18, 20 e até 30 detentos… Com o frio do inverno, e a proximidade com o Guaíba, paredes úmidas, janelas sem vidros e escassas cobertas. Privadas a descoberto e fétidas. Promiscuidade. Apesar da vida insalubre, nenhuma rebelião registrada nos últimos 20 anos. Ocorreram, nesse período, sete crimes de morte e dois suicídios. No ano anterior, 1944, morreram 25 presos, 13 deles com tuberculose. A cozinha, de 1912, é imprópria. Existe uma única sala de aula, e um único professor. Dos novecentos e tantos que ingressaram em 1944, 812 eram analfabetos. Nas sete oficinas (alfaiataria, encadernação, marcenaria, padaria, saboaria, sapataria e serralheria), 500 apenados trabalham precariamente, pois não há verbas para as matérias-primas.”
Depois de examinar a questão e lamentar a dificuldade de reinserção dos presos na sociedade nessas condições, o repórter faz referência ao “queremismo”, movimento político, desencadeado no início daquele ano, e que preconizava a permanência de Getúlio Vargas no poder (ele caiu, e só retornou nas eleições de 1950). O jornalista escreve: “Há um ‘mero’ problema de presídio, e isso nos faz aderir à facção dos ‘queremos’. Se uns querem… um presidente e outros um Estádio, nós queremos um presídio. Um presidio maior e mais digno…” Já viram esse filme?
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