sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Tráfico de seres humanos? Não quero ouvir mais!

No limiar do século XXI a exploração de pessoas para fins sexuais, trabalhos forçados, escravatura e servidão ou, ainda, para extracção de órgãos, existe.

Trá·fi·co. Assim mesmo. Como se contássemos silabas. Mas não. É só para a pronunciar a palavra alto e bom som. Dar bem conta do seu significado. Comércio, negócio e, no sentido informal, negócio indecoroso! E, no caso, é mesmo indecoroso! Tão indecoroso que parece inacreditável! Tão inacreditável que parece ficção. Tráfico de seres humanos!
Não sei se vos acontece como a mim: ouço a palavra tráfico e remeto de imediato para o narcotráfico ou tráfico de armas. Nunca para o tráfico de seres humanos! Tráfico de seres humanos parece-me impronunciável. A maior das barbaridades ou, então, algo do foro inventivo. Chamem-me ingénua, se quiserem. Mas é verdade. Vai agora traficar-se pessoas, como se fossem mercadoria?
Vai! Claro que sim! E a tentação é: não quero ouvir mais! É uma das possíveis reações. Negar o absurdo. Rejeitar o inqualificável. Mas não é solução.
Tráfico de seres humanos!? Volto a repetir, tipo deixa ver se me dão outra resposta! Sim! Tráfico de pessoas! É verdade! A escravatura multiforme vive. Respira vergonhosamente. Pratica-se clandestinamente. Não é algo que ficou nos livros de História, episódio trágico da humanidade, para nunca mais se repetir. Quem disse que o homem aprende com os erros?
No limiar do século XXI a exploração de pessoas para fins sexuais, trabalhos forçados, escravatura e servidão ou, ainda, para extracção de órgãos, existe! É uma realidade do planeta Terra! Sim, esse onde se contam recorrentemente as 7 maravilhas e onde podiam contar-se as 7 aberrações da humanidade! E nem precisámos esforçarmo-nos muito. A fome à cabeça! Mas, hoje, não é por aí.
Recentemente, Joy Ngozi Ezeilo, relatora da ONU, especialista em direitos humanos, disse, sobre o tráfico de pessoas, que as vítimas são muitas vezes pobres, desempregadas e com baixo nível de escolaridade, apontando a escassez mundial de órgãos para transplante como uma das principais causas. O seu relato arrepia a espinha. Vítimas atraídas a vender os seus órgãos com a promessa de receberem grandes quantias de dinheiro. A procura é grande. A oferta escassa. E o mercado prolifera. Negro. Como quando a escravatura era de uma só cor.
Fios e Desafios , instituição particular de solidariedade social, sedeada no Porto, lembrou-se de, no mês passado, colocar seres humanos numa montra, para chamar à atenção para este fenómeno criminoso multifacetado. Cerca de vinte jovens alinharam, voluntariamente, ser produto por um dia! As pessoas olhavam, chocadas, muitas delas alheias ao facto de o tráfico de seres humanos ocupar a terceira posição no comércio ilegal mais lucrativo, estimando-se que, anualmente, sejam traficadas 2,4 milhões de pessoas em todo o mundo.
Por sua vez, a Amnistia Internacional , no nosso país, acaba de lançar uma campanha onde uma figura pública dá a cara (e a voz) pelo tráfico de seres humanos, nomeadamente mulheres. E, no vídeo que grava, encarna o papel de uma mulher violentada, "sujeita a uma série de abusos, incluindo abusos físicos, psicológicos e sexuais; privação de liberdade, tortura e maus tratos, correndo muitas vezes perigo de vida".
A nível internacional, o actor Nicholas Cage, enquanto Embaixador da Boa Vontade das Nações Unidas, acaba de reiterar o seu apoio às vítimas  de tráfico humano, apelando à actuação da comunidade internacional que não deve ficar em silêncio enquanto este flagelo que envergonha a humanidade,  prolifera pelo mundo, derrubando sem dó nem piedade o que os direitos humanos consagram.
De resto, façamos cada um  por passar a fronteira da incredualidade. Vai agora traficar-se pessoas, como se fossem mercadoria? Vai! Claro que sim! Está a acontecer neste momento. Procuremos mais informação e, acima de tudo, ajamos, para além da indignação.O Observatório do Tráfico de Seres Humanos incentiva ao reconhecimento, à atuação e à denucia, apresentando diferentes indicadores e prestando informação útil sobre esta realidade violentíssima.


Marta Vaz 

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