sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Artigo: Menores no Tráfico

Por Neemias Moretti Prudente


Não há menor dúvida de que o tráfico de drogas ilícitas, afinada com a lógica de acumulação e produção capitalista, já que movimento cerca de US$ 380 bilhões/ano, constitui um mal que afeta, de uma maneira ou outra, a todas as instituições do Estado e a sociedade em geral. No tocante aos menores envolvidos com o tráfico, suscita algumas reflexões.

Em geral, é possível estabelecer três níveis relacionados ao tráfico: 1. Nível sofisticado: são aqueles contatos mantidos entre criminosos e parceiros influentes (internacional, nacional e regional) para negociar a compra de grandes quantidades de drogas. Também envolve corrupção e lavagem de dinheiro. 2. Nível médio: são empresários da economia informal que trocam bens roubados por drogas, armas e contrabando. 3. Nível inferior: esse nível de criminalidade é representado por indivíduos que compram, estocam, distribuem e vendem drogas.

Este último nível se dá em grande parte nos bairros e periferias, marcada pela miséria da população, por absoluta falta de opções e oportunidades, levando principalmente os menores de classe baixa, mão-de-obra preferencial da criminalidade urbana de rua, a tornarem-se alvos fáceis do tráfico, que vêem no "movimento" uma possibilidade de renda, ascensão social e prestígio pessoal.

Pés pequenos e descalços, um cobertor de papelão, roupas sujas, saquinho de cola para enganar a fome, vindos de famílias desestruturadas, este é o retrato do abandono que serve para explicar o avanço dos menores nas fileiras do tráfico.

No tráfico, o rendimento que obtém é suficiente para a aquisição de artigos amiúde cobiçados (roupas, tênis de marca, motocicletas, etc.) e cujo consumo, aos seus olhos, somente se realiza por jovens de classes sociais privilegiadas. Mesmo aqueles que têm oportunidades de empregos são seduzidos a ingressar em sua estrutura, tamanha é vantagem que dele podem auferir, já que a atividade do tráfico é muito mais rentável se comparada a qualquer tipo de trabalho.

Há também todo um fascínio exercido pelas armas de fogo e pelo poder que desejam obter. Além, é claro, do status social, capaz de fazê-los serem respeitados na comunidade. Precisam da admiração ou do respeito por meio do medo imposto aos outros, por isso se exibem com armas e demonstram crueldade diante do "inimigo".

Assim, sequiosos de ascender social e financeiramente, os jovens quase imploram aos donos das bocas-de-fumo um posto hierárquico do tráfico. Não raro iniciam seus trabalhos como "aviõezinhos" (vendem pequenas quantidades de drogas e ficam de olho na polícia). Paulatinamente, vão galgando novos degraus até chegarem a gerentes ou, quiça, "donos do morro".

Para o "empregador", a oferta de mão-de-obra, além de farta e barata, é ideal, já que os menores de dezoito anos de idade são inimputáveis juridicamente. Só a título de ilustração, dos menores de 14 anos que são enviados para a Fundação Casa (antiga Febem), o tráfico representa 34% dos crimes cometidos por menores nessa faixa etária.

Por derradeiro, o combate a este fato exige realismo, investimento e muito trabalho e requer esforços constantes do governo e da sociedade em geral. Entendemos que esta questão não é fruto do acaso, e sim de políticas mal elaboradas em relação à situação de vida destes menores, não políticas repressivas -que nada resolvem, mas sim políticas de inclusão socioeconômicas.


PRUDENTE, Neemias Moretti. Menores no Tráfico. O Diário do Norte do Paraná, Maringá, ano XXXV, n. 10.619, 19 setembro 2008. Opinião, p. 2.

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