Como combater os maus pagadores? A Federação Russa dos Oficiais de Justiça conta com a Igreja. Fim das famílias endividadas, dos motoristas desobedientes, das pessoas relutantes em pagar pensão alimentar. Eles serão "repreendidos" e "culpados" por padres ortodoxos, transformados em auxiliares dos oficiais de justiça.
Um acordo de cooperação foi assinado na quarta-feira (24 de junho) entre a Federação e o setor do patriarcado ortodoxo encarregado das relações entre o exército e a polícia. "Representantes da Igreja vão exercer uma influência espiritual sobre os maus pagadores, vão lhes dizer que é inaceitável viver endividado", declarou o chefe dos oficiais, Artur Parfentchikov, citado pelo jornal "Kommersant" (edição de 24 de junho). Desde a queda do comunismo, a Rússia vive um forte renascimento religioso. A Igreja Ortodoxa recuperou seus locais de culto, sua pompa, seu rebanho. Sua influência é grande: nos restaurantes, onde menus "jejum" são disponíveis para a época da Quaresma, nas caixas de correio, onde prospectos oferecem bênçãos de escritórios, de apartamentos, de carros.
A Igreja é a instituição mais respeitada pelos russos, que em compensação têm uma confiança muito limitada no coletor de impostos ou no policial. Onde o Estado fracassa em se fazer ouvir, o poder espiritual vai apoiá-lo. Em um primeiro momento, os maus pagadores serão convocados para um sermão individual. O peso na consciência fará o resto. "Não pagar suas dívidas equivale, segundo os preceitos da Igreja, a pegar o que não lhe pertence, ou seja, roubar", estipula o texto do acordo.
Os padres foram convidados a pregar sobre esse tema durante os ofícios. "Nós diremos a nossos fiéis que é possível apanhar seu dinheiro com amor", contou ao jornal "Kommersant" o padre Dmitri Smirnov, encarregado das relações entre a polícia e o patriarcado. Há muito a ser feito. Segundo uma pesquisa do instituto VTsIOM, 52% das famílias entrevistadas reconhecem que, com a crise, os pagamentos estão cada vez mais difíceis.
Artur Parfentchikov, o chefe dos oficiais de justiça, é um incansável cruzado do endividamento. Em 2006, esse colega de universidade do presidente russo, Dmitiri Medvedev, se destacou ao ordenar a publicação na Internet da lista dos insolventes, sem resultados. Dessa vez, a aliança entre os oficiais de justiça e os padres promete ser mais produtiva.
Em abril de 2009, em Tosno, uma pequena cidade dos arredores de São Petersburgo, os que se acostumaram a não pagar a pensão alimentar foram convocados para uma pequena conversa com um batiushka (padre). O efeito foi "sensacional", contou a assessoria de imprensa dos oficiais. E imediato: "Um foi buscar o dinheiro logo em seguida, dois outros retomaram a vida junto de suas famílias, e outros ainda prometeram saldar suas dívidas assim que possível".
Como a Rússia tem diversas religiões, foram feitas experiências similares entre os budistas da Buriácia (Sibéria Oriental), da Calmúquia (Cáucaso) e entre os muçulmanos do sul da Federação. Com sucesso, ao que parece. Bonzos e imames não mediram esforços para convencer seus fieis. O não pagamento de uma dívida tem suas consequências: ele expõe o muçulmano à privação do hadji (peregrinação a Meca), e torna o carma do budista mais pesado.
Até ali, a aliança do poder temporal e espiritual seduz. A polícia rodoviária também quer fazer parte. Em Penza e Samara, oficiais de polícia e membros do clero patrulharam juntos. Na Tchetchênia, cartazes com versículos do Corão evocando a fragilidade da vida logo serão instalados ao longo das estradas.
Para dar certo, a luta contra as infrações ao código das estradas deverá se aplicar a todos. A começar pelo número um tchetcheno, Ramzan Kadyrov, que voa pelas estradas de seu "Tchetchenistão", escoltado por cerca de trinta luxuosos 4 x 4. O mufti (chefe religoso) tchetcheno bem que poderia incentivá-lo a ter um maior autocontrole.
No contexto da luta contra os maus pagadores, seria preciso também repreender o oligarca Oleg Deripaska. Descrito em 2008 como "o homem mais rico" da Rússia, próximo do Kremlin, ele é agora o mais endividado dos empresários russos. Desde o início da crise, o Estado o socorreu, cedendo-lhe um crédito de US$ 4,5 bilhões (R$ 8,7 bilhões).
Apesar disso, os operários de sua indústria de cimento em Pikaliovo (região de São Petersburgo) ficaram meses sem salários ou indenizações. Finalmente, eles bloquearam a estrada principal em 2 de junho, causando um engarrafamento de 400 km. A única intervenção do primeiro ministro, Vladimir Putin, que desceu do céu com um gordo cheque, acalmou os ânimos.
Pikaliovo poderá servir de exemplo. Segundo o ministro das regiões, o clima é de descontentamento na federação: 42 mil pessoas tomaram parte nas ações de protesto em abril de 2009, contra 13 mil em dezembro de 2008. Alguns sociólogos esperam tumultos. Outros rejeitam esse cenário. O povo russo, pouco organizado, considerado paciente, não é muito vingativo, dizem eles. Além disso, caso seja necessário, sempre será possível pedir socorro ao clero.
Um acordo de cooperação foi assinado na quarta-feira (24 de junho) entre a Federação e o setor do patriarcado ortodoxo encarregado das relações entre o exército e a polícia. "Representantes da Igreja vão exercer uma influência espiritual sobre os maus pagadores, vão lhes dizer que é inaceitável viver endividado", declarou o chefe dos oficiais, Artur Parfentchikov, citado pelo jornal "Kommersant" (edição de 24 de junho). Desde a queda do comunismo, a Rússia vive um forte renascimento religioso. A Igreja Ortodoxa recuperou seus locais de culto, sua pompa, seu rebanho. Sua influência é grande: nos restaurantes, onde menus "jejum" são disponíveis para a época da Quaresma, nas caixas de correio, onde prospectos oferecem bênçãos de escritórios, de apartamentos, de carros.
A Igreja é a instituição mais respeitada pelos russos, que em compensação têm uma confiança muito limitada no coletor de impostos ou no policial. Onde o Estado fracassa em se fazer ouvir, o poder espiritual vai apoiá-lo. Em um primeiro momento, os maus pagadores serão convocados para um sermão individual. O peso na consciência fará o resto. "Não pagar suas dívidas equivale, segundo os preceitos da Igreja, a pegar o que não lhe pertence, ou seja, roubar", estipula o texto do acordo.
Os padres foram convidados a pregar sobre esse tema durante os ofícios. "Nós diremos a nossos fiéis que é possível apanhar seu dinheiro com amor", contou ao jornal "Kommersant" o padre Dmitri Smirnov, encarregado das relações entre a polícia e o patriarcado. Há muito a ser feito. Segundo uma pesquisa do instituto VTsIOM, 52% das famílias entrevistadas reconhecem que, com a crise, os pagamentos estão cada vez mais difíceis.
Artur Parfentchikov, o chefe dos oficiais de justiça, é um incansável cruzado do endividamento. Em 2006, esse colega de universidade do presidente russo, Dmitiri Medvedev, se destacou ao ordenar a publicação na Internet da lista dos insolventes, sem resultados. Dessa vez, a aliança entre os oficiais de justiça e os padres promete ser mais produtiva.
Em abril de 2009, em Tosno, uma pequena cidade dos arredores de São Petersburgo, os que se acostumaram a não pagar a pensão alimentar foram convocados para uma pequena conversa com um batiushka (padre). O efeito foi "sensacional", contou a assessoria de imprensa dos oficiais. E imediato: "Um foi buscar o dinheiro logo em seguida, dois outros retomaram a vida junto de suas famílias, e outros ainda prometeram saldar suas dívidas assim que possível".
Como a Rússia tem diversas religiões, foram feitas experiências similares entre os budistas da Buriácia (Sibéria Oriental), da Calmúquia (Cáucaso) e entre os muçulmanos do sul da Federação. Com sucesso, ao que parece. Bonzos e imames não mediram esforços para convencer seus fieis. O não pagamento de uma dívida tem suas consequências: ele expõe o muçulmano à privação do hadji (peregrinação a Meca), e torna o carma do budista mais pesado.
Até ali, a aliança do poder temporal e espiritual seduz. A polícia rodoviária também quer fazer parte. Em Penza e Samara, oficiais de polícia e membros do clero patrulharam juntos. Na Tchetchênia, cartazes com versículos do Corão evocando a fragilidade da vida logo serão instalados ao longo das estradas.
Para dar certo, a luta contra as infrações ao código das estradas deverá se aplicar a todos. A começar pelo número um tchetcheno, Ramzan Kadyrov, que voa pelas estradas de seu "Tchetchenistão", escoltado por cerca de trinta luxuosos 4 x 4. O mufti (chefe religoso) tchetcheno bem que poderia incentivá-lo a ter um maior autocontrole.
No contexto da luta contra os maus pagadores, seria preciso também repreender o oligarca Oleg Deripaska. Descrito em 2008 como "o homem mais rico" da Rússia, próximo do Kremlin, ele é agora o mais endividado dos empresários russos. Desde o início da crise, o Estado o socorreu, cedendo-lhe um crédito de US$ 4,5 bilhões (R$ 8,7 bilhões).
Apesar disso, os operários de sua indústria de cimento em Pikaliovo (região de São Petersburgo) ficaram meses sem salários ou indenizações. Finalmente, eles bloquearam a estrada principal em 2 de junho, causando um engarrafamento de 400 km. A única intervenção do primeiro ministro, Vladimir Putin, que desceu do céu com um gordo cheque, acalmou os ânimos.
Pikaliovo poderá servir de exemplo. Segundo o ministro das regiões, o clima é de descontentamento na federação: 42 mil pessoas tomaram parte nas ações de protesto em abril de 2009, contra 13 mil em dezembro de 2008. Alguns sociólogos esperam tumultos. Outros rejeitam esse cenário. O povo russo, pouco organizado, considerado paciente, não é muito vingativo, dizem eles. Além disso, caso seja necessário, sempre será possível pedir socorro ao clero.
Tradução: Lana Lim
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