terça-feira, 17 de março de 2009

Fritzl não se arrepende de ter estuprado a filha e pode pegar prisão perpétua

O austríaco Josef Fritzl, 73, não demonstrou sinais de arrependimento durante o primeiro dia do julgamento o qual é acusado de trancar e violentar durante 24 anos a filha Elisabeth. A informação é da promotora do caso, Christiane Burkheiser, que apresentou nesta segunda-feira o caso ao júri. O veredicto é aguardado para sexta-feira e Fritzl poderá ser condenado a prisão perpétua.

"Luz apagada, abusos sexuais, luz acesa e mofo", descreveu a promotora em relação a vida cotidiana de Elisabeth. Burkheiser afirmou que, nos primeiros nove anos de cativeiro, Elisabeth viveu em 18 metros quadrados, nos quais ficou grávida e deu à luz três filhos. Para o primeiro dos partos, em 1988, teve a ajuda de "uma manta não esterilizada, tesouras sujas e um livro de preparação ao parto".

Burkheiser responsabilizou Fritzl pela morte do bebê, por ignorar os pedidos de ajuda da filha aos problemas respiratórios da criança. "Isso é assassinato por omissão de socorro", disse a promotora. O jornal "Bild" informa que o austríaco estuprou a filha pela primeira vez no segundo dia de cativeiro, de acordo com a Promotoria. Ele só removeu as algemas dela nove meses depois porque "elas estavam dificultando o sexo".

Placa de proibido estacionar nos arredores do tribunal em Sankt Pölten, onde Josef Fritzl será julgado a partir desta segunda-feira
Placa de proibido estacionar nos arredores do tribunal em Sankt Pölten, onde Josef Fritzl será julgado a partir desta segunda-feira

Com um paletó cinza-claro e o rosto escondido por um fichário azul que carregava com as mãos trêmulas, Fritzl entrou na sala principal da Audiência Provincial de Sankt Pölten, em sua primeira aparição pública desde que foi detido, em abril do ano passado, após o caso vir à tona.

O aposentado escutou a acusações, que incluem escravidão e assassinato, já que a Promotoria entende que ele foi o responsável pela morte de um dos gêmeos que teve com a filha em 1996. Fritzl se declarou "inocente" das duas acusações, mas admitiu as de "incesto" e "privação de liberdade", já que trancafiou, desde o nascimento, três dos filhos que teve com Elisabeth --outras três crianças foram viver com ele e a esposa na casa.

Defesa

Por sua vez, o advogado de defesa, Rudolf Mayer, tentou desfazer a imagem de "monstro" que, afirmou, a imprensa fez de seu cliente e assegurou que Fritzl queria apenas criar uma segunda família. Mayer lembrou ao júri de sua obrigação de se ater aos fatos e de "deixar os sentimentos de fora" para que o processo seja justo.

Mayer afirmou que, se seu cliente tivesse buscado só satisfação sexual, não teria tido filhos com Elisabeth ou teria matado todos eles. Da mesma forma, argumentou que em favor do réu fala também o fato de que, em abril do ano passado, ele levou ao hospital a filha mais velha que teve com Elisabeth, gravemente doente, apesar de saber que isso revelaria a verdade sobre sua vida dupla.

Filha

O resto do processo e até a leitura do veredicto transcorrerá a portas fechadas, espreitados pelos jornalistas de muitos países que foram à cidade austríaca para cobrir o processo. Para decidir se Fritzl é culpado ou inocente, os oito membros do júri contam principalmente com o depoimento da própria Elisabeth, gravado em 11 horas de declarações sobre seus 24 anos de drama, e do qual escutaram uma primeira parte nesta segunda-feira.

Elisabeth será a única testemunha em um processo no qual a esposa e os demais filhos do acusado se negaram a depor. Além desse depoimento, o júri escutará a declaração de três ou quatro peritos, entre eles um psiquiatra, para determinar o estado mental de Fritzl, e de um neonatologista, que analisará a possível responsabilidade do acusado na morte do bebê.

Há rígidas restrições para evitar o vazamento de detalhes sórdidos e proteger, assim, a intimidade das vítimas. Segundo jornal alemão "Spiegel", Fritzl não respondeu aos questionamentos de cerca de cem repórteres no tribunal.

Folha de São Paulo.

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