domingo, 27 de abril de 2008

GESTAÇÃO - FOLHA compra abortivo no Camelódromo

Medicamento não é vendido nas farmácias do Brasil e chega a Londrina trazido do Paraguai.

A informação partiu de um médico: gestantes estão comprando o medicamento Cytotec, que provoca aborto, no Shopping Popular da Rua Mato Grosso, conhecido como Camelódromo de Londrina. A reportagem da FOLHA checou e descobriu que realmente é possível comprar o abortivo - que tem a venda proibida nas farmácias de todo o Brasil - dentro do Camelódromo. O medicamento é originalmente produzido para prevenção de úlcera gástrica e duodenal (leia mais nesta página).

Tarde de sexta-feira, 25 de abril de 2008. O repórter não encontrou dificuldades para adquirir quatro comprimidos do medicamento por R$ 300.

Escolhendo aleatoriamente uma das muitas bancas que existem no lugar, o jornalista perguntou ao rapaz que estava atrás do balcão se seria possível adquirir por ali alguns comprimidos de Cytotec. Inicialmente, o vendedor afirmou que não sabia sobre a existência de tal produto dentro do Shopping Popular. ''Esse remédio que você quer comprar é para causar aborto. Faz tempo que ninguém mais vende por aqui'', respondeu. Mas depois de o repórter informar que tinha uma quantia razoável de dinheiro no bolso para adquirir o produto, o rapaz voltou atrás e chamou o seu vizinho de banca, que saberia chegar ao vendedor.

O segundo rapaz foi direto ao ponto: ''Conheço quem tem os comprimidos, mas ele é ruim de negócio. O valor é R$ 300 e não tem conversa''. O jornalista pediu para ir até o vendedor, porém, foi informado de que não havia necessidade. ''É só entregar o dinheiro para mim que eu trago pra você'', rebateu.

Dito e feito. Com o dinheiro na mão, o vendedor logo voltou com quatro comprimidos de Cytotec embrulhados em papel de presente. A entrega foi feita em um corredor, distante da banca em que ele trabalha. As orientações dadas ao comprador são objetivas e assustadoras. ''Seguinte: são quatro comprimidos. Manda a menina ficar em jejum a partir das seis horas da tarde. Não pode comer nada durante a noite inteira. No dia seguinte, ela toma dois comprimidos e introduz os outros dois na vagina. Antes tem que lavar bem as mãos e enxugar com uma toalha limpa. Ela tem que estar deitada e só pode levantar lá pela 1 hora da tarde'', orientou.

''Mas ela não vai passar mal?'', questionou o jornalista. ''Não. Vai dar uma cólica mais forte, como se fosse uma menstruação, mas isso é normal. Quando 'descer', vai ser com bastante sangue. Diga para ela não se apavorar. Não precisa procurar médico. Depois que 'descer' é tranquilo, já era'', enfatizou.

A última pergunta do jornalista foi sobre a procura ao medicamento. ''Geralmente vem bastante gente... Mas eu não gosto de vender isso'', finalizou. Todos os diálogos foram gravados em áudio.

Em 30 de setembro de 2000, a FOLHA publicou uma matéria mostrando situação semelhante. A diferença é que há oito anos quatro comprimidos eram vendidos por R$ 80.


Folha de Londrina, 27/04/2008.

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