Ser recomendado por um amigo para preencher uma vaga ajuda na hora da contratação. Mas tanto a empresa quanto quem indica devem se ater às qualidades do candidato, e não às suas necessidades.
Além de mandar currículos por e-mail, garimpar vagas de trabalho em sites especializados, procurar as agências de emprego e olhar os anúncios classificados no jornal de domingo, tenha uma boa conversa com seus próprios amigos. O caminho mais rápido e eficiente para encontrar um emprego pode estar aí. É a famosa prática do “Q.I.”, ou “quem indica”, hoje chamada tecnicamente pelos consultores de “networking”, ou “rede de relacionamentos”, no bom português.
A pesquisa A Contratação, a Demissão e a Carreira dos Profissionais Brasileiros, realizada no ano passado com 12 mil profissionais pela agência de recolocação Catho, mostra que 44,36% dos entrevistados conseguiram o atual emprego pela indicação de amigos.
Normalmente tudo começa quando a área de Recursos Humanos (RH) de uma empresa divulga internamente a existência de determinada vaga, no intuito de que surjam algumas indicações com a participação ativa do seu corpo de funcionários.
É aí que seu nome deve ser lembrado – e, se realmente for, são grandes as chances de que você seja contratado. Isso porque uma indicação interna vale como um atestado de confiança e um selo de qualidade no currículo.
Percebendo essas vantagens, grandes corporações multinacionais como IBM, Bank Boston, Accenture e PriceWaterhouseCoopers institucionalizaram a prática no Brasil e têm programas que premiam com bônus os funcionários que fazem indicações qualificadas para determinadas funções. O bom é que as empresas levam em média metade do tempo com este tipo de contratação.
“No entanto, deve-se tomar o cuidado de que a pessoa indicada tenha realmente as qualificações exigidas e que tenha bons antecedentes e referências”, alerta João Carlos Cruz, economista, administrador e proprietário do site novosplanos.com.br, que oferece um serviço de indicações de profissionais para especialistas em recrutamento. “Eu mesmo já indiquei um vizinho para determinada função, só que ele começou a fazer algumas trapalhadas e foi demitido. Conclusão: o pai dele nunca mais conversou comigo.”
O consultor Mauro Braga, da Ohl Braga Consultores, chama a atenção para outra parte do problema. Segundo ele, muitas vezes as empresas aceitam uma indicação como uma ordem de contratação, sem avaliar corretamente se ela está sendo feita para resolver o problema pessoal de um amigo desempregado ou a necessidade real da empresa. “Quando um profissional que não tem perfil é contratado, existem apenas duas alternativas: ou ele é substituído, o que gera um turnover [rotatividade] elevado, ou ele permanece na empresa e acaba atuando como um lastro, baixando a produtividade global”, explica. Para o consultor, o ideal é que a indicação seja considerada apenas um dos caminhos para o profissional chegar ao RH da empresa. “Cabe ao RH fazer um trabalho adequado, refinar a busca, levantar o perfil do candidato e constatar se ele possui ‘CHA’ – Conhecimentos, Habilidades e Atitudes – para o cargo”, recomenda Braga. “O ‘indicômetro’ cego é burrice e pode criar uma série de problemas, inclusive dar prejuízos à empresa.”
Gazeta do Povo, 30/04/2008.
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