O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu nesta terça-feira que a comunidade internacional doe US$ 2,5 bilhões com o objetivo de enfrentar a crise dos alimentos.
O diretor do Bird (Banco Mundial), Robert Zoellick, assegurou que "as próximas semanas serão críticas", e disse que sua entidade pretende criar um fundo para financiar os países mais pobres e ajudar sua agricultura.
Em entrevista coletiva, Ban considerou um "desafio sem precedentes" a explosão dos preços dos alimentos no mercado mundial, ao informar sobre a reunião que acontece desde ontem em Berna com os diretores de várias agências da ONU e de organismos como o Banco Mundial e a OMC (Organização Mundial do Comércio).
Dirigentes de 27 agências da organização participam da reunião.
Para Ban Ki-moon, a alta nos preços dos alimentos é uma "crise global". "Esse forte aumento nos preços dos alimentos se tornou uma crise global real", disse, em uma conferência em Viena (Áustria), ontem.
"É um momento apaixonante para a ONU, mas também um momento em que somos colocados diante do desafio de fazer tudo o que pudermos para responder às expectativas que o mundo depositou em nós", disse o secretário-geral.
O arroz registrou alta de 141% em seu preço desde janeiro, o trigo custa 130% a mais que há 12 meses e o milho nunca esteve tão caro em 12 anos: a disparada do custo dos alimentos, que tem provocado protestos violentos em muitos países, aumentou o número de famintos em dezenas de milhões.
Insuficiente
Por sua vez, as organizações humanitárias Oxfam International e Care International rebateram os esforços, afirmando que a ajuda imediata para os países pobres, que sofrem os efeitos mais graves da crise atual de alimentos no mundo, é insuficiente para lidar com a crise.
Para as organizações, é preciso ir além, atacando diretamente as raízes do problema. "A ajuda é necessária, e com urgência, para lidar com a ameaça imediata aos pobres representada pelos preços mais altos dos alimentos, mas o dinheiro não basta", disse a diretora da Oxfam International Celine Charveriat.
"Os líderes mundiais precisam aproveitar essa oportunidade para lidar com problemas estruturais tais como o investimento insuficiente em agricultura e as regras injustas de comércio, que estão exacerbando o problema."
A Oxfam recomendou que sejam encerradas as políticas para ampliar a produção de biocombustíveis nos países ricos, que é vista como uma das raízes da alta nos preços dos alimentos.
"Os biocombustíveis não apenas são uma forte causa dos aumentos de preços, mas também estão ligados a abusos no trabalho e expropriações de terras nos países em desenvolvimento", disse Charveriat. Ela ainda criticou a postura dos países desenvolvidos, de criticar os países pobres.
"A União Européia [UE], os Estados Unidos e o Banco Mundial têm criticado os países em desenvolvimento por impor barreiras às exportações [dos países pobres], mas falham ao não apontar o dedo para si mesmos."
Folha de São Paulo, 29/04/2008.
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