“Coloca um cavalo aqui dentro e vê quanto tempo ele dura. Ele morre, fica louco. O único que suporta isso aqui é o ser humano”. Este é um dos depoimentos presentes no documentário Sem Pena, que pretende mostrar a realidade de inúmeros presídios no Brasil. O filme dirigido e produzido por Eugenio Puppo em parceria com o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD). A estreia no circuito nacional está prevista para o dia 2 de outubro.
O documentário será apresentado no próximo dia 17 de setembro no 47º Festival de Brasília de Cinema Brasileiro. Uma de suas propostas é discutir os sistemas penitenciário e penal nacional sob uma ótica crítica e humanitária, além de abordar a discussão em torno de segurança pública e dos sistemas prisionais e judicial criminal.
Sem Pena foi idealizado em 2009 pelo IDDD, mas passou a ser produzido a partir de 2010, após parceria com a produtora Heco Produções. Com 90 minutos de duração, o longa quer, de acordo com Eugenio Puppo, mostrar o drama humano nos presídios sem “sensacionalizar”. “O desafio era registrar os depoimentos e os relacionar com a situação, que é grave, mas que não deve ser explorada de forma apelativa”, diz o cineasta.
A ideia de debater o assunto no cinema, de acordo com Marina Dias, ex-presidente do IDDD e uma das idealizadoras do filme, partiu da necessidade de mostrar a realidade para a população em uma linguagem estética acessível. “Nossa intenção é que as pessoas entrem no cinema com uma cabeça e saiam de lá com outra. E que assim, elas sejam capazes de gerar suas próprias reflexões e questionamentos sobre algo tão grave como é a situação do sistema carcerário brasileiro atual”.
O documentário também quer abordar as diferentes etapas de um processo penal até a estrutura prisional, apresenta dados e estatísticas do sistema e retrata a situação do cárcere feminino. A partir de depoimentos de presos e seus familiares, além de autoridades jurídicas, busca demonstrar a dificuldade de se abordar o tema.
Para Hugo Leonardo, advogado, diretor do IDDD e um dos colaboradores do documentário, essa dificuldade de diálogo existe porque a sociedade vive hoje inserida em uma cultura de medo que inviabiliza o debate. Consequência dessa dificuldade de debate, ainda segundo Leonardo, é a inversão de papéis dos atores judiciais.
"O juiz pensa que é policial e que tem que combater o crime. O juiz algumas vezes se arvora no papel do Ministério Público ou da polícia para dar uma sensação de segurança para a sociedade. Só que essa sensação de segurança causa um efeito contrário, pois gera na verdade uma insegurança através do aumento do número de prisões, e um sistema muito excludente”, avalia.
Veja abaixo o trailer de Sem Pena:
Revista Consultor Jurídico, 14 de setembro de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário