Milton Corrêa da Costa
A preocupante e temerária ação de baderneiros sem controle, bandidos com todas as letras( alguns são neonazistas), infiltrados nas recentes manifestações em vias públicas, que nada tem a ver com as justas reivindicações do povo, criando um cenário típico de guerra civil, que nem os militantes da luta armada, nos anos 60 e 70 lograram imaginar, guardadas as devidas proporções face à atual massificação das informações em tempo real, observadas a velocidade televisiva e das redes sociais, estão conduzindo o Brasil para um contexto de perigosa e permanente comoção intestina.
O que se viu no centro do Rio de Janeiro na semana passada e em Belo Horizonte e Porto Alegre mais recentemente, em termos de destruição do patrimônio público e privado, impressionou pelas cenas de vandalismo e de afronta ao poder instituído, onde rojões, bombas incendiárias, paus e pedras foram fartamente utilizados por baderneiros..
Vândalos saqueadores destruíram tudo o que viram pela frente, atacando ainda tropas de choque da Polícia Militar com diferentes artefatos. Revendedoras de veículos atacadas, carros incendiados e destruídos (inclusive veículos de imprensa), sinais e placas de trânsito danificados, lojas arrombadas e saqueadas, documentos, destruídos, computadores danificados, bens móveis roubados e manifestantes e policias feridos.
Um cenário de distúrbio civil generalizado, até hoje inimaginável no país. O temor de empresários em proteger seus estabelecimentos é tanto que tapumes de madeira passaram a fazer parte do mecanismo de defesa na rotina de lojas, ao mínimo indício de manifestações públicas, amargando o comércio e o turismo, com as portas fechadas pelo medo, principalmente em grandes centros urbanos, prejuízos incalculáveis. Resta saber como pagarão seus impostos e o que os governos arrecadarão.
A violenta manifestação da última quarta-feira, em Belo Horizonte, com saldo de um morto -é a quinta vítima fatal desde o início das manifestações- resultou também em presos e feridos, baderna e a arruaça nas imediações do Estádio do Mineirão. Uma senhora -a televisão mostrou- chegou a ajoelhar-se e pedir aos ladrões arruaceiros que não destruíssem sua empresa. Não adiantou. O vandalismo sem controle falou mais alto.
Quem paga agora os prejuízos da proprietária? E os trabalhadores daquela empresa? Em que situação ficarão a partir de agora? No Rio, na casa de uma acusado de vandalismo, na tentativa de ataque nos portões da Assembleia Legislativa, foi encontrado material próprio para atos de violência: soco inglês, facas, pedaços de pau, cartazes com mensagens anarquistas e uma bandeira com a inscrição da suástica.
Nesse contexto de guerrilha urbana registre-se a delicada e complexa missão dos contingentes da Polícia Militar, postados em vias públicas, na missão de restauração da ordem. Policiais militares, seres humanos como qualquer outro, têm sido alvo de ataques de bandidos baderneiros, sendo alvejados e acuados. Agentes da Polícia Militar, sob forte pressão social, suportam tais agressões e por dever de ofício precisam manter-se em equilíbrio emocional, só atuando nos limites da legalidade, sem uso excessivo e desproporcional da força. Difícil, complexa e incômoda missão.
Se as cenas até aqui mostradas, via televisão e Internet, não são próprias de um país em guerra civil, o que mais são? E a missão ( acessória) das Forças Armadas, de garantia da lei e da ordem consignada no Artigo 142 da Constituição Federal? Quando serão enviadas para as vias públicas para apoio aos contingentes das polícias militares? Até quando o país suportará um clima (inusitado) de guerra civil?
Certamente quando os duros remédios constitucionais de contenção forem empregados. É melhor, para o bem da democracia e da paz social, que os utilizem antes que a comoção intestina, assim como traficantes afrontando a sociedade com armas de guerra, passem a fazer parte de nossa rotina. A única certeza, porém, é que o Brasil e os políticos nunca mais serão os mesmos. O clima de guerra civil precisa pelo menos ter fim, para o bem de todos.
Milton Corrêa da Costa é analista de conjuntura de violência urbana
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