“As mulheres vítimas do tráfico são, antes de tudo, vítimas do abandono social, da falta de políticas públicas. Muitas que passaram pela experiência da exploração sexual fora do País preferem não voltar para o Brasil, pois sabem que aqui não encontram perspectiva de trabalho, acompanhamento médico, muito menos acolhimento social ou familiar”. A afirmação é da advogada e assistente social Tânia Teixeira Laky de Sousa, autora da Pesquisa Tráfico de Mulheres: Nova face de uma Velha Escravidão, que será apresentada pela primeira vez no III Simpósio Internacional sobre Tráfico de Pessoas, promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Campo Grande/MS, a partir desta quinta (20/6).
Para Tânia Teixeira Laky, é a feminização da pobreza o principal motivo de tantas vítimas da rede de tráfico internacional para fins sexuais. “Estão atrás de emprego; aqui não encontram perspectivas. O que os governos vêm fazendo para estancar o êxodo? Como estão cuidando das mulheres que passam por esse trauma e voltam para o Brasil? Nada. Nenhuma política pública séria e de resultados reais está sendo implementada no País”, garante a pesquisadora que embasa suas conclusões com experiência acadêmica.
Para a pesquisa, tese de doutorado defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Tânia entrevistou, durante quatro anos, mais de uma centena de brasileiras que estiveram ou estão em situação clandestina em Portugal e na Espanha. Nesse período, percebeu que a maioria das mulheres que aceitava sair do País para se prostituir no exterior vivia uma situação de extrema pobreza e vulnerabilidade no Brasil. Infelizmente, segundo a autora, elas seguem encontrando violência e desumanidade fora e dentro do País.
“Esse tráfico de mulheres para fins sexuais é uma releitura da escravidão. Os gastos com alojamento, transporte, alimentação e bebidas, patrocinados pelas redes de tráfico, as mantém endividadas. Para pagar, fazem uma quantidade desumana de programas, dormem pouco, adoecem, vivem em depressão, tornam-se alcoólatras e viciadas. Vão ficando feias, gordas. Quando esse corpo não serve mais, é descartado sem pena”, diz. “Quando conseguem voltar estão doentes, com AIDS, HPV, mas não recebem tratamento específico. Também faltam casas-abrigo para elas. Precisariam de tratamento psicológico. Violência não tratada é violência repetida”, afirmou.
O lançamento da pesquisa será dia 21, às 10h30, quando serão distribuídos 250 exemplares digitais do trabalho de Tânia Laky. O III Simpósio Internacional ocorrerá em um dos estados com mais vítimas desse tipo de crime, incluindo indígenas que vivem na região de fronteira com Paraguai e Bolívia. Segundo o Ministério da Justiça, Mato Grosso do Sul só perde para Bahia e Pernambuco em quantidade de vítimas de tráfico. Levantamento nacional divulgado no final do ano passado pelo governo revelou que, entre 2005 e 2011, 475 pessoas foram vítimas da rede internacional do tráfico. Desse total, 337 teriam sido vítimas de exploração sexual.
Serviço:
III Simpósio Internacional para o Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
Data: 20 e 21 de junho de 2013
Horário: das 9 horas às 16 horas
Local: Auditório do Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul – Av. Mato Grosso, Bloco 13 – Parque dos Poderes – 79031-902 – Campo Grande/MS. Telefone: (67) 3314-1300
Inscrições aqui.
Veja a programação.
Regina Bandeira
Agência CNJ de Notícias
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