Segundo o Ministério da Justiça, o maior número de casos foi registrado na Bahia, Pernambuco e Mato Grosso do Sul.
O Bom Dia Brasil teve acesso, com exclusividade, aos resultados do primeiro levantamento nacional sobre o tráfico humano. Segundo o Ministério da Justiça, o maior número de casos foi registrado nos estados da Bahia, Pernambuco e Mato Grosso do Sul, mas o crime está por todo parte.
A promessa é tentadora: viver no exterior com um bom emprego. “Ele veio e falou para mim: ‘Eu tenho uma irmã minha que mora na Espanha. Ela está precisando de uma menina para trabalhar na casa dela porque lá é difícil arrumar’”.
Dados preliminares de um feito pelo Ministério da Justiça revelam que, nos últimos oito anos, 337 pessoas foram vítimas de tráfico para exploração sexual. A grande maioria, mulheres.
“Ela luta por um sonho, acredita em uma possibilidade de uma nova vida, em um novo lugar. Recebe essa promessa de que encontrará, eventualmente, nesse lugar uma opção de vida muito melhor e na verdade cai em uma falsa promessa e acaba se encontrando em uma situação de exploração por uma rede de tráfico de pessoas”, explica Fernanda dos Anjos, diretora do Departamento de Justiça.
As autoridades reconhecem que o número de denúncias é bem menor que a realidade do tráfico de pessoas. É que muitas vezes os aliciadores são pessoas próximas das vítimas, que só descobrem que foram enganadas depois de chegarem ao país estrangeiro.
“Por vezes são até do rol familiar, de amigos da própria vitima. Então são pessoas que se aproximam se colocando como um amigo, dizendo que ela terá grandes possibilidades de trabalho fora do país ou em outro estado da federação”, explica Eloísa Arruda, Secretaria Estadual de Justiça de São Paulo.
Foi o próprio namorado quem convenceu a diarista de 26 anos a ir para a Espanha. Ela conta que foi recebida pela cunhada no aeroporto de Barcelona e, dias depois, forçada a trabalhar e viver em um bordel. Só conseguiu fugir depois de três meses e voltou ao Brasil com a passagem paga por um padre.
“Até para eu comer eu tinha que arrumar dinheiro para comer. Mesmo assim ela pegava tudo e me deixava sem nada”, conta.
As quadrilhas de aliciadores também atuam no sentido inverso - trazendo estrangeiros de países vizinhos para o Brasil. E boa parte deles acaba indo trabalhar em grandes centros - como o setor têxtil em São Paulo, mas com baixos salários e sem nenhum direito trabalhista. Muitos moram no próprio trabalho, em condições sub-humanas.
Nos últimos anos, a polícia e o Ministério do Trabalho fecharam o cerco contra lojas e confecções. Um boliviano de 26 anos foi libertado durante uma dessas operações. Ele conta que veio para o Brasil com a passagem custeada pelo dono de uma confecção. Só na chegada, soube que teria que pagar pela viagem.
“Eu queria voltar na Bolívia. Como tava devendo e não tinha passagem para voltar na Bolívia, fiquei. Eu trabalhava das 7h à meia noite”, conta.
O levantamento do Ministério da Justiça registra apenas 135 denúncias de pessoas nessas condições, nos últimos sete anos. “Em muitas situações, mesmo depois da pessoa identificada como vítima de trafico, ela quer fugir das autoridades publicas, porque na situação de imigrante, ela se percebe como imigrante ilegal. Então ela tem medo de ser deportada, de ser indiciada em um inquérito policial”, afirma Eloísa Arruda.
O boliviano recebeu ajuda do governo para se regularizar e vai ganhar carteira profissional. A diarista tenta vencer o trauma, com a ajuda de psicólogos. “Tem muita menina que está indo enganada. Estão perdendo a vida, chega lá não é nada daquilo que eles prometem. A pessoa ser enganada é triste”, lamenta.
Em muitas rodovias, os caminhoneiros estão sendo alertados sobre o tráfico de pessoas, principalmente, de crianças. Para falar sobre o assunto, o Bom Dia Brasil entrevistou Márcia Vieira, inspetora da Polícia Rodoviária Federal. “A PRF vem trabalhando intensamente, há 10 anos, no enfrentamento a exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias. E vem avançando no enfrentamento ao tráfico de pessoas, estabelecendo parcerias”, aponta a inspetora.
“Hoje a polícia não trabalha apenas com a repressão a esses crimes, mas com campanhas preventivas e educativas, que incluem material com orientação e palestras”, explica a inspetora. O telefone para denúncias é 191.
Renato BiazziSão Paulo, SP
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