quinta-feira, 3 de abril de 2008

Vende-se rim na web

Veja como a internet se transformou em balcão de anúncios para o
comércio ilegal de órgãos humanos.

A internet tornou-se um balcão de anúncios de órgãos humanos, sobretudo rins. Em um ano, a reportagem encontrou um mercado virtual em que possíveis compradores podem escolher a idade do 'doador', sexo, tipo sanguíneo e até se compadecer com sua história dramática. Não é difícil constatar o comércio - ou ao menos a intenção de vender um órgão - hoje, agora. Basta fazer uma pesquisa simples em qualquer site de busca com a frase 'vendo rim'.

Em um ano, foram encontradas cerca de mil postagens, em pelo menos cinco sites, com um único objetivo: vender o próprio rim. Os anunciantes contam dramas econômicos semelhantes, quase sempre ligados a dificuldades para quitar dívidas. Alguns afirmam conhecer os riscos - legais e de complicações na cirurgia - e os questionamentos morais. Pelas leis brasileiras, tanto o anúncio quanto o comércio são ilegais e passíveis de prisão.

O músico E., 38 anos, quer vender seu rim pela web. 'Sou músico, tenho 38 anos. Não fumo, não bebo. Vendo meu rim por motivos financeiros', dizia a postagem. Ao JT, E. diz estar prestes a fechar o negócio. 'O comprador vem de Portugal este mês para me conhecer e fazer os exames.'

Os vendedores em geral são homens ou mulheres com menos de 40 anos, esportistas, sem vícios e com família para sustentar. Ou têm um parente doente, que necessite de tratamento. Alguns até anunciam a negociação como uma mera doação, 'mediante pagamento'. Ou afirmam aceitar um valor em dinheiro em troca do órgão. Muitos se propõem a viajar, inclusive para outro país, desde que o comprador pague as despesas. Os preços dos rins variam de R$ 80 mil a R$ 150 mil, mas há pedidos mais modestos, de R$ 20 mil, e mais inflacionados, que chegam a R$ 500 mil .

Para comprovar a existência do comércio, a repórter adaptou anúncios e criou um e-mail fictício para vender o próprio rim. Em um mês, recebeu dois telefonemas de interessados. Uma mulher, de um número restrito, no dia 18 de março, e um homem, de Brasília, no dia 31 de março. A mulher falou pouco e prometeu ligar em seguida, mas não retornou. O homem, que compraria o rim para o pai, disse que arcaria com a passagem a Brasília e os exames. Ele garantiu ter esquema acertado com médicos e hospital.

'A miséria oferece e a sociedade compra', sentencia o professor Volnei Garrafa, presidente da Seção Latino-Americana da Sociedade Internacional de Bioética (Sibi).

Em 2007, das 3.397 doações, 1.730 foram feitas entre vivos - os outros 1.667 transplantes tinham doador cadáver. Mas o Ministério da Saúde não tem estatísticas sobre doações entre vivos feitas por parentes. 'Nunca recebemos nenhum tipo de denúncia formal. No entanto, acho que eventualmente isso pode acontecer', diz o presidente do Sistema Nacional de Transplante, Abrahão Salomão.

Fonte: Estadão, 03/04/2008.

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