sábado, 26 de abril de 2008

Substância tóxica extraída de rã é usada como droga alucinógena

SÃO PAULO - Uma substância tóxica extraída de uma rã da Amazônia, a Phyllomedusa bicolor, está sendo usada como droga alucinógena nas grandes cidades. O alerta foi feito por João Luiz Cardoso, especialista do Instituto Butantan, em entrevista ao SPTV. Segundo ele, sapos e rãs têm glândulas com venenos que, na natureza, não causam danos ao homem. Porém, se usados indevidamente podem causar parada cardíaca.

O alerta foi feito depois que o comerciante Ademir Tavares, de 52 anos, morador de Pindamonhangaba, morreu após passar na pele uma loção que teria sido feita com base no veneno da rã, conhecido como Kambô. O produto teria sido indicado por um curandeiro, que está sendo ouvido pela polícia e poderá responder por exercício ilegal da medicina.

- Ele não é médico e não poderia estar aplicando uma substância ativa como essa. E talvez até por homicídio se caso constatar que a pessoa veio falecer em decorrência da substância - explica o delegado Vicente Lagioto.

O comerciante teria usado a substância para livrar o filho da dependência de drogas. A aplicação foi recomendada pelo curandeiro Jorge Roberto de Oliveira Rodrigues, de 40 anos, e foi feita na casa dele. Após o ritual, Tavares passou mal e chegou a ser levado ao pronto-socorro de Pindamonhangaba, mas acabou morrendo. O filho da vítima, um rapaz de 25 anos, prestou depoimento na tarde desta quinta-feira.

- Ele disse que o pai o convidou para dar uma volta e o levou até a casa (do curandeiro). Também contou que falaram para ele que nada seria cobrado e que o remédio curava até o vírus Aids - afirmou o delegado titular do 1 DP de Pindamonhangaba, Vicente Lagioto.

Em abril de 2004, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária proibiu o uso do produto e a proibição em todos os veículos de comunicação do Brasil de qualquer propaganda relativa ao uso do Kambô. Segundo a Anvisa, um site divulgava benefícios do uso do Kambô, que é usado por tribos da Amazônia. A denúncia de comercialização ilegal do produto foi feita pela tribo indígena Katuquina ao Ministério do Meio-Ambiente. Na tribo, a substância é usada pelos índios para acabar com a má-sorte na caça e na pesca.

- Esses produtos devem ser usados com critérios médicos. O sapo é absolutamente inofensivo e útil ao sistema, pois come insetos. Ele não causa problema se não for manipulado. Essas rãs lá da Amazônia concentram substância toxica que começa a chegar na área urbana como alucinógeno. O kambô aparece na cidade porque a secreção causa alucinação, é usada como droga - afirmou Cardoso.

Segundo a polícia, o curandeiro teria indicado o veneno para mais quatro pessoas da cidade. O comerciante teria seguido o conselho dele e usado o produto na noite de sábado.

O delegado afirmou que o rapaz relatou que o seu braço e o de seu pai foram queimados com um pedaço de madeira em brasa. Em seguida, a pomada foi aplicada no local e o jovem começou a vomitar imediatamente. Cerca de dez minutos depois, ele voltou ao normal e percebeu que Tavares tinha se trancado no banheiro. Ao olhar pela janela, viu o pai caído. O curandeiro não foi para o hospital com pai e filho e, quando a polícia chegou, não havia ninguém no local.

A polícia agora aguarda o resultado do exame toxicológico da vítima, que deve sair entre 15 e 30 dias, para verificar a causa da morte. O curandeiro pode ser acusado de homicídio, exercício ilegal de medicina e até biopirataria, caso seja comprovado que a pomada é fabricada com substâncias que não podem ser vendidas. Os efeitos do kambô vão de queda de pressão, vômito, taquicardia e náusea até a parada cardíaca.

Apesar da proibição da Anvisa, sites na internet continuam a divulgar supostos benefícios da substância tóxica.


O Globo Online, 26/04/2008.

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