domingo, 27 de abril de 2008

Reconstituição da morte de Isabella pode durar até 10 horas e usará dublês de pai e madrasta





A reconstituição da morte de Isabella Nardoni, 5, deve demorar até 10 horas. A polícia contratou dublês para representar o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta da menina, que se recusaram a participar da simulação. Pela lei brasileira, ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Os dois foram indiciados pela morte da menina.

A simulação no edifício London, na Rua Santa Leocádia, na zona norte da capital, vai reproduzir desde a entrada do carro da família no prédio até o momento em que a menina foi socorrida por uma ambulância. Uma boneca com o peso e o tamanho de Isabella será usada.

A reconstituição feita por peritos será acompanhada por advogados e pelo promotor. Quatorze pessoas foram convocadas para participar: o porteiro, testemunhas, a mulher do subsíndico, o avô paterno, Antonio Nardoni, e a tia Cristiane Nardoni. A mãe da criança, Ana Carolina Oliveira, também foi chamada.

O movimento é intenso neste domingo desde as primeiras horas da manhã e apartamentos do prédio em frente alugaram suas janelas por preços entre R$ 5 mil e R$ 6 mil a cinegrafistas e fotógrafos, que buscam visão do apartamento de Alexandre Nardoni, no sexto andar, de onde Isabella foi jogada. O promotor Francisco Cembranelli afirma que o assassino procurou um lugar 'mais macio" para jogar a criança.

Para o delegado Calixto Calil Filho, responsável pelo caso, a ausência do casal não vai atrapalhar a encenação. Segundo ele, sem o casal, a reconstituição será feita somente com base nos laudos do Instituto de Criminalística e do Instituto Médico Legal. A idéia inicial era que o casal interpretasse também a sua versão dos fatos. O casal nega qualquer envolvimento na morte da criança.

Segundo a polícia, em depoimento na semana passada, o casal foi surpreendido com detalhes do laudo. Alexandre não soube explicar vômito encontrado em sua camiseta. Perícia diz que vômito teria sido provocado pela asfixia da menina. Anna Carolina também negou que marca de sangue encontrada sobre seu sapato seja da menina.

A revelação desses novos dados durante o interrogatório causou polêmicaneste sábado. Para o advogado de defesa Rogério Neves de Souza, o casal não poderia ser questionado sobre informações desconhecidas da defesa e da "própria autoridade policial" na época do interrogatório. Segundo Souza, os policiais não tinham em mãos, durante o interrogatório, os resultados finais do laudo pericial, que poderia servir como base para as perguntas.
Segundo a polícia, resíduos da tela de proteção por onde Isabella foi jogada foram encontrados na camiseta de Nardoni.

O pai de Alexandre Nardoni, o advogado Antônio Nardoni, ainda afirmou que já leu boa parte dos laudos da perícia sobre o crime e afirmou que há vários indícios que favorecem o casal. De acordo com ele, os laudos não comprovam que o sangue encontrado no carro da família era mesmo de Isabela, como afirma a polícia.

O tráfego aéreo na região também será fechado durante a reconstituição, num raio de 1,5 quilômetro ao redor do edifício onde a família morava. O juiz Maurício Fossen concordou com a argumentação da polícia, que pediu a interdição do espaço aéreo na Justiça, de que o silêncio será fundamental para a encenação do que aconteceu no prédio no dia 29 de março.

Com a medida, a polícia espera comprovar se testemunhas poderiam ter ouvido realmente discussões dentro do apartamento do casal ou mesmo gritos de socorro de uma criança.

Todas as testemunhas do caso já foram ouvidas e o prazo para a polícia terminar o inquérito sobre o crime é terça-feira.

A Associação de Advogados Criminalistas diz que a reconstituição pode ser anulada se a defesa entrar na Justiça, já que o crime aconteceu durante a noite e a simulação acontece durante o dia, o que provocar discrepâncias.


O Globo Online, 27/04/2008.

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog