terça-feira, 8 de abril de 2008

Pré-conceitos

ALBA ZALUAR


"TODO FAVELADO é cúmplice dos traficantes"; "o usuário de drogas é o culpado pela violência nas cidades brasileiras"; "todo sociólogo e antropólogo defensor dos direitos do cidadão não entende nada do problema". Com tal coleção de justificativas, é claro que não fica nada para criticar na ação da polícia nas favelas do Rio de Janeiro.

No entanto, nem toda favela tem comando de traficante armado até os dentes; nem toda cidade deste planeta, especialmente nos países onde há muito mais usuários de drogas ilegais, apresenta o quadro de violência daqui. Finalmente, em outros Estados da Federação, há colaboração entre a universidade e a polícia, entre sociólogos e policiais. Exageros à parte, não aproveitar o conhecimento adquirido por métodos científicos tem nome: obscurantismo.

E o que mostram as pesquisas realizadas? Que o conflito entre a Falange Jacaré e o Comando Vermelho já existe há décadas, sendo fruto de um sistema prisional falho. Este sistema permitiu que prisioneiros mais fortes, ricos e agressivos convivessem, na mesma cela, ala ou prisão, com pequenos delinqüentes, que sempre foram oprimidos e extorquidos pelos primeiros. O Comando Vermelho surgiu para acabar com esta opressão dentro da prisão nos anos 1970. A Falange virou Terceiro Comando ainda no regime militar, quando o tráfico de cocaína começou a se espalhar pelo Brasil.

Pouco a pouco, os comandos descobriram que o tráfico de drogas ilegais era uma forma de ganhar dinheiro fácil e continuar a extorquir dos envolvidos, dentro e fora da prisão, tudo aquilo que é necessário para viver bem e dominar quem não for chefe.

Inimigos, deixaram os assaltos para se tornar comerciantes em guerra mortal.

O dinheiro ganho nas bocas vai para os líderes dos comandos fora e dentro da prisão.

Gerentes, vapores, soldados e olheiros, quando presos, não ganham nada; livres, ganham percentual ínfimo dos lucros. Uma "empresa" sem nenhum direito trabalhista. Já há muitos desiludidos que compreendem que se arriscaram para defender o que não era deles.

Nada disso justifica, portanto, que policiais cacem e matem quem deveriam prender para investigar melhor os meandros dessa empresa tão lucrativa e tão violenta. Fora os danos à imagem da polícia, há os prejuízos na informação acerca dos fornecedores de armas e drogas que, presos, dariam.

Como pode um policial se apresentar como defensor da lei se viola a lei, seja por se corromper, seja por matar até jovens desarmados? Não se trata de direitos humanos, mas dos direitos civis do favelado, inscrito na Constituição vigente.

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