sexta-feira, 25 de abril de 2008

Polícia nos EUA quer brasileiros no combate ao crime

Uma iniciativa da polícia de Mount Vernon, uma cidade industrial no Estado de Nova York, pretende aproximar a comunidade brasileira local do esforço para combater a criminalidade.

O comissário David E. Chong anunciou recentemente um programa de aproximação entre a polícia e os imigrantes brasileiros da cidade e afirmou que pretende contratar um policial brasileiro para seu departamento.

Em entrevista à BBC Brasil, Chong explicou que Mount Vernon tem mais de 68 mil habitantes de 97 nacionalidades diferentes em uma área de pouco mais de 11 km2. Segundo ele, para controlar a criminalidade, precisa do apoio de todas as comunidades locais.

"Numa área tão densa, não conseguiríamos conter o crime sem a assistência da população", disse.

Neste ano, Chong já organizou duas entrevistas coletivas, para veículos da comunidade estrangeira, uma para os hispânico-americanos e a segunda, há duas semanas, para brasileiros.

A estratégia, que visa estabelecer uma relação direta entre a políica e veículos das comunidades de imigrantes, prevê encontros com jornalistas de outros grupos de estrangeiros.

Diversidade

Além dos latino-americanos, a cidade de Mount Vernon conta com indianos (16,6%), italianos (10,3%), irlandeses (4,0%), alemães (2,4%) e portugueses (2,2%), de acordo com a prefeitura, que não oferece uma porcentagem específica para brasileiros.

O Centro Cívico da cidade, no entanto, estima que haja cerca de 5 mil brasileiros (o que representa 7,3% da população).

"Já contamos com voluntários civis que falam línguas diferentes para atender a população e queremos contratar um policial brasileiro que possa prestar os exames da academia em novembro", disse Chong.

O salário inicial de um policial no Estado é de US$ 38 mil por ano (cerca de R$ 63 mil) e, a partir do quinto ano, passa a receber até US$ 80 mil (cerca de R$ 134 mil).

"Os benefícios como seguro saúde são ótimos e ele pode se aposentar em apenas 20 anos", diz Chong, lembrando que não precisa ter nascido nos Estados Unidos para ser policial.

"Eu mesmo sou filho de chineses nascido em Toronto, no Canadá. Só me naturalizei americano quando decidi seguir essa carreira."

Mesmo assim, para Ricardo Barbosa Braxtor, diretor do Centro Cívico de Mount Vernon, será difícil encontrar candidatos brasileiros.

"Os brasileiros têm preconceito de ser policial e 'ficar correndo atrás de bandido'. Mas aqui ele é respeitado e ganha bem", explica. "Fora que é preciso ser jovem e ter a documentação para morar legalmente no país.

Quem quer não tem, quem tem não quer."

Segundo dados da prefeitura, o número de assaltos na cidade subiu de 167 em 2000 para 398 em 2006, e o número de furtos subiu de 1.088 em 2000 para 1.124 em 2006. Mas esses números estão longe de representar a realidade já que a maioria das vítimas não registra as ocorrências.

"Os imigrantes, especialmente os ilegais, ficam com medo de falar com a polícia e serem deportados", diz Braxtor. "Um policial que fale português seria fundamental para derrubar essa barreira."

Desde os atentados de 11 de setembro, o departamento de segurança nacional americano permite que policiais sejam treinados para agirem como oficiais de imigração. Mas o policial Chong explica que uma cidade com as características de Mount Vernon não pode se dar o luxo de perder a confiança dos imigrantes.

"Temos uma comunidade diversificada demais para assumir esse risco. Por isso não vamos verificar se uma vítima é ou não ilegal", afirma. "Mas, se você cometer um crime sério e for provado culpado, aí acionaremos a imigração porque queremos você fora daqui."

Assaltos

Kássia Mello tem 43 anos e trabalha como babá para três crianças pequenas. No ano passado ela foi assaltada duas vezes. Na primeira, estava perto da estação de trem quando um homem armado roubou cerca de US$ 500.

"Eu tinha acabado de receber o meu ordenado e ele levou tudo", conta ela. "O assaltante bateu com a arma na minha cabeça, me puxou o cabelo e me jogou contra a parede. Fiquei tão traumatizada que pensei em voltar para o Brasil."

A segunda vez foi perto de casa. Kássia estava atravessando um estacionamento quando dois homens a abordaram. "Eles passaram a mão em mim, falaram coisas horríveis e levaram o meu dinheiro. Fiquei preocupada porque só tinha uns US$ 50 na bolsa."

Nenhuma das duas vezes Kássia registrou ocorrência na polícia. "Fiquei com medo." Agora, com a iniciativa de Chong, Kássia diz que talvez prestasse queixa. "A gente tem que ter esperança de que melhore, mas não sei se vai mudar."

Para Breno da Mata, diretor e editor do jornal "Comunidade News", que tem sede em Danbury, Connecticut, e cobre toda a região, a iniciativa de Mount Vernon é invejável.

"Aqui em Danbury, desde que o novo prefeito assumiu em 2001, os imigrantes são tratados como se fossem culpados por tudo o que está errado com a cidade", diz. O mandato para prefeito é de dois anos e o republicano Mark D. Boughton está em seu quarto.

"Os policiais daqui estão só esperando o treinamento da imigração para começar a prender imigrante ilegal." Mata estima que dos 97 mil habitantes de Danbury, cerca de 15 mil sejam brasileiros.


CAMILA VIEGAS-LEE
de Nova York para a BBC Brasil, 25/04/2008

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