terça-feira, 15 de abril de 2008

Polícia de São Paulo usa ciência para solucionar crimes hediondos

Orçamento da Secretaria de Segurança para o setor subiu para quase R$ 200 mi

MAELI PRADO
RAFAEL BALSEMÃO
DA REVISTA DA FOLHA

Microgotas de sangue no microscópio, órgãos humanos em pedaços ultrafinos, pós magnéticos que revelam impressões digitais e reagentes químicos que mostram a presença de fluidos corporais. O mundo da Superintendência da Polícia Técnico-Científica do Estado de São Paulo passa muito longe da emoção provocada pelo assassinato de Isabella Nardoni, 5, no último dia 29. Mas seu laboratório vem sendo a chave para resolver o crime.
A participação da perícia foi fundamental para montar o quebra-cabeças das circunstâncias da morte da menina. Um dos laudos, por exemplo, comprovou que ela foi asfixiada e depois jogada de cabeça para baixo do sexto andar de um prédio na zona norte de SP.
Corriqueiros para os fãs do popular seriado "CSI", exibido pelo canal pago AXN, laudos técnicos como esses são os responsáveis pelo aumento da visibilidade e da credibilidade da polícia científica no mundo.
"Vivemos a síndrome "CSI'", diz Celso Perioli, coordenador da SPTC (Superintendência da Polícia Técnico-Científica) e perito criminal desde 1976. "O mundo todo passou a comprar produtos para investigação científica, e os preços caíram. Há uma exigência cada vez maior de provas técnicas. E mais países estão fabricando determinados equipamentos."
Um dos sintomas desse movimento de valorização da ciência na resolução de crimes é o aumento da participação da SPTC no orçamento da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Há dez anos, a verba da superintendência era de R$ 1,48 milhão, representando 0,05% do total do orçamento. Hoje, esse valor é de R$ 191,5 milhões, ou 2,25% do total.
O atual efetivo do órgão também cresceu: eram 2.847 funcionários em 1999. Atualmente, 3.600. Ainda é pouco. "O número de peritos teria que ser triplicado. A perícia acaba sendo mal feita, não por má vontade dos profissionais, mas por acúmulo de trabalho", aponta Maria do Rosário Mathias Seraphim, 69, presidente da Associação dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo.
Renato Pattoli, 50, diz que, no passado, a prática era jogar água oxigenada sobre o local onde se achava que havia sangue. Se borbulhasse era sinal de que havia matéria orgânica, provavelmente sangue. "Mas isso destruía a amostra."
Os métodos ultra-sofisticados do seriado "CSI" chegam a provocar risos entre funcionários do IC (Instituto de Criminalística) de São Paulo. "Fazemos um trabalho sério e honesto, sem glamour", diz Alessandra Pereira da Silva, 34, engenheira química.

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