quarta-feira, 16 de abril de 2008

Pedófilo brasileiro é mais consumidor do que produtor de conteúdo e faz parte das classes A, B e C

O pedófilo virtual padrão é homem, tem entre 18 e 55 anos e faz parte das classes A, B e C, com maior presença nos dois extratos mais ricos. O perfil foi traçado pela ONG Safernet, especialista em crimes na internet. De acordo com a entidade, os pedófilos se organizam por meio de quadrilhas - muitas delas já mapeadas - para a troca de material e busca de fotografia e vídeos de crianças e adolescentes.

O Brasil é mais consumidor do que produtor de conteúdo, já que a maior parte do material pornográfico envolvendo menores é proveniente por países asiáticos, do leste europeu e Rússia. Além de sites de relacionamento, onde têm acesso ao conteúdo criminoso de graça, os pedófilos brasileiros compram material por meio das cerca de 3.200 páginas de pornografia infantil hospedadas no exterior.

O presidente da Safernet, Thiago Tavares, conta que a produção do conteúdo pornográfico ocorre tanto fora quanto dentro da internet. Além da gravação e posterior divulgação dos abusos sexuais, os pedófilos convencem meninos e meninas em salas de bate-papo a se exporem por meio de webcams, o que é gravado nos computadores dos criminosos.

As denúncias recebidas pela Safernet apontam ainda que os pedófilos não costumam se apresentar como adultos, passando-se por crianças ou adolescentes para ganhar a confiança dos jovens. Em chats de grandes portais e programas como MSN e ICQ, eles estabelecem intimidades com os menores com conversas do universo infantil, como desenhos animados, música, jogos e brinquedos.

Segundo Thiago Tavares, não existem dados sobre o número de contatos virtuais que culminam em encontros reais. Ele ressalta, entretanto, a diferença entre os pedófilos virtuais e aqueles que chegam aos menores diretamente, sem o uso da rede:

- Aquele que atua fora, que pratica o abuso ou a exploração, em 57% dos casos, segundo a ONU, é alguém da família ou muito próximo - afirma.

O site de relacionamentos Orkut parece ter um papel central na propagação da pedofilia e de outros crimes, como manifestações de racismo e outros atentados aos direitos humanos. Das 1,1 milhão de denúncias de crimes recebidas pela Safernet de janeiro de 2006 a março de 2008, 90% eram referentes a conteúdo publicado no site, que pertence ao Google. Desse total, 110 mil eram páginas que teriam conteúdo que violam os direitos humanos, sendo que 56 mil delas eram sobre pedofilia. Os interessados em pornografia infantil criam perfis com álbuns de fotos de crianças e trocam material e informações em comunidades. O novo recurso que possibilita o bloqueio de fotos e vídeos a não membros da rede de amigos piorou a situação, já que a polícia e o Ministério Público não conseguem mais acessar integralmente os perfis dos usuários. Para tentar combater o problema, a CPI da Pedofilia pediu, na semana passada, a quebra de sigilo dos álbuns.

Thiago Tavares aponta como o principal obstáculo ao combate à pedofilia no Brasil é o fato do consumo de pornografia infantil não ser classificado como crime. O delito consiste apenas na divulgação desse material. A criminalização da posse foi proposta pela CPI da Exploração Sexual, em 2004, mas nunca foi votada.

- Quem faz download não comete crime, quem armazena não comete crime. A conseqüência disso é que a maior parte das operações policiais é de busca e apreensão, porque dificilmente há flagrante. Então a polícia terá que provar que aquele usuário que teve suas mídias apreendidas distribuiu esse conteúdo - lamenta o especialista.
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"Quem faz download não comete crime, quem armazena não comete crime. A conseqüência disso é que a maior parte das operações policiais é de busca e apreensão, porque dificilmente há flagrante"


O Globo Online, 16/04/2008.

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