sexta-feira, 25 de abril de 2008

Para defesa, casal não é obrigado a ir à reconstituição

SÃO PAULO - Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella Nardoni, de 5 anos, não são obrigados a participar nem sequer a comparecer à reconstituição do crime, que acontece no domingo, a partir das 10 horas, no edifício London, na Vila Isolina Mazzei, zona norte de São Paulo. A informação foi dada por um dos advogados do casal, Rogério Neres de Sousa. "Apesar disso, a princípio, eles irão até lá", afirmou ele, em referência à predisposição dos dois indiciados de irem à reconstituição. Neres de Sousa afirmou que a decisão da participação ou não de Alexandre e Anna Carolina será definida ainda hoje.

"Definiremos na tarde de hoje (nesta quinta) se eles participam." Na opinião do advogado, a polícia concluirá o inquérito na segunda-feira, mesmo com a reconstituição marcada para a véspera. "Considerando que eles trabalham com uma única linha de investigação, culpando o casal, é provável que encerrem o inquérito no prazo", disse.

O prazo para a investigação foi de 30 dias, e pode ser prorrogado a partir de segunda-feira por mais 30 dias. Na terça-feira, o diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap), Aldo Galiano, já havia cogitado a prorrogação. "O adiamento não está nos nossos planos, mas pode acontecer." Os autos do inquérito, que já somam 800 páginas, incluem depoimentos de 64 testemunhas e cem páginas de laudos periciais.



Esquema de segurança



Para evitar a aproximação de helicópteros de emissoras de rádio e televisão, a polícia de São Paulo solicitou na tarde de quarta-feira, 23, ao Serviço Regional de Proteção ao Vôo o fechamento do espaço aéreo durante a reconstituição da morte da menina Isabella Nardoni, marcada para começar às 9 horas de domingo. A restrição começará duas horas antes da reconstituição e terminará duas horas depois e atingirá um raio de 3 quilômetros a partir do edifício onde mora o casal Alexandre Alves Nardoni e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, na zona norte de São Paulo.



A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) foi encarregada de interditar a Rua Santa Leocádia para impedir a aglomeração de curiosos. A idéia é manter a população a pelo menos 50 metros do prédio, assim como foi feito na frente da sede do 9º DP durante o último depoimento do casal, no dia 18.



Outra preocupação da polícia é com os moradores do Edifício London. O Grupo de Operações Especiais (GOE) vai reunir-se com o síndico do prédio para estabelecer as regras da reconstituição. Quem decidir sair de casa não poderá voltar até o fim dos trabalhos. Moradores que resolverem permanecer em seus apartamentos terão de ficar dentro de casa. A polícia cogitou evacuar o edifício durante a reconstituição, após o vazamento de imagens do interior do apartamento dos Nardoni, feitas por um morador.



Colaboração



A reconstituição acontecerá às 9 horas de domingo, mesmo que o casal Alexandre Alves Nardoni, de 29 anos, e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, de 24, se recuse a colaborar com os peritos do Instituto de Criminalística (IC). Eles terão de comparecer, mas não são obrigados a participar da encenação da morte da criança. Os dois foram indiciados na semana passada por homicídio doloso triplamente qualificado - são acusados de espancar, asfixiar e arremessar Isabella do 6º andar Edifício Residencial London. A reconstituição deve levar dez horas.

Na quarta-feira, 23, peritos do IC e delegados do 9° Distrito Policial (Carandiru) começaram a planejar o que chamam de "reprodução simulada dos fatos". O principal objetivo é reproduzir passo-a-passo a versão apresentada pelo casal, desde a chegada ao prédio até o momento em que Isabella foi socorrida pelo serviço de resgate do Corpo de Bombeiros. Serão confrontados os resultados dos exames periciais com as declarações de testemunhas e indiciados. A polícia quer saber se haveria tempo hábil para uma terceira pessoa ter cometido o crime sem ser visto por Alexandre ou Anna Carolina. A perícia revelou que entre o desligamento do aparelho GPS do Ford Ka do casal e a primeira ligação para os bombeiros se passaram 13 minutos e 46 segundos.

Todos serão ouvidos separadamente. Embora as atenções estejam voltadas para o casal, pouco mais de dez testemunhas serão intimadas a participar da reconstituição. Alguns nomes são dados como certos - o pai de Alexandre, o advogado Antonio Nardoni, e a irmã dele, Cristiane. Moradores do Edifício London e de imóveis vizinhos também contarão o que viram o ouviram naquela noite. O porteiro do prédio, primeiro a ver o corpo de Isabella estendido no gramado, e os homens do resgate darão detalhes sobre a posição em que a menina foi encontrada e o socorro à vítima.


Estadão, 25/04/2008.

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