domingo, 13 de abril de 2008

Os novos piratas do mundo

Embarcações que cruzam os oceanos precisam ficar alerta para tentar evitar as ações de grupos especializados nesse tipo de crime, principalmente no leste da África e no Sudeste Asiático

O ataque ao veleiro francês Le Ponant, surpreendido por um grupo de piratas quando navegava próximo à costa da Somália, na África, e cujos tripulantes só foram liberados depois de uma semana, não foi uma exceção. Dados da Agência Marítima Internacional (IMB, na sigla em inglês) mostram que as águas daquele país estão entre os alvos preferidos da pirataria moderna.

Ao lado da Nigéria, a Somália, com a maior costa da África e próxima de grande parte das rotas de navios, foi o país em que o número de ações mais cresceu durante o ano de 2007. Não é à toa que o presidente da IMB, capitão Pottengal Munkundan, credita a essas duas áreas grande parte da responsabilidade pelo crescimento de 10% do número de ações de piratas ao longo de todo o mundo no ano passado (foram 263 casos), na comparação com 2006 (239 registros).

- O aumento significativo pode ser diretamente atribuído ao aumento de incidentes nesses dois lugares - diz.

Se a existência de piratas não é uma novidade, a maneira como a atividade é desenvolvida sofreu transformações. Os novos piratas não operam nas mesmas regiões que seus ancestrais. Nos séculos 17 e 18, os navios de bandeira negra cruzavam o Mar do Caribe, por onde passavam navios espanhóis vindos da América do Sul com os porões cheios de ouro e jóias. Os piratas da atualidade agem, em especial, no Oceano Índico, atacando o leste da África (onde está a Somália) e o Sudeste Asiático.

Os novos piratas estão de olho exclusivamente no que podem lucrar com o ataque. É o que pensa o jornalista francês Gwen Le Gouil, seqüestrado em dezembro de 2007 por um grupo conhecido como os Marinheiros Somalis:

- Não tem nada a ver com questões políticas. Eles conhecem uma única lei, e é a lei do dinheiro.

Segundo o jornalista, os seqüestradores estavam bem armados e mantiveram negociações durante semanas até receber uma alta quantia em dinheiro. Ele garante ter sido bem tratado no cativeiro. A tripulação a bordo do Le Ponant (22 franceses, seis filipinos e uma ucraniana) teria sido alvo de um famoso grupo de piratas da região próxima ao Golfo de Áden. Na maioria das vezes, o interesse dos criminosos é justamente a tripulação, de quem levam bens pessoais de valor e outros produtos. Outro alvo tentador são os cofres existentes em algumas embarcações. Já as cargas são menos visadas, porque sua venda e, portanto o lucro, é mais difícil.

Apesar de usarem algumas técnicas do passado, como a preferência pelo ataque à noite e a abordagem pela popa do navio, os piratas têm ficado cada vez mais violentos. O uso de armas cresceu 35% entre 2006 e 2007. Revólveres, metralhadoras, granadas e até mesmo lança-foguetes têm sido usados. Outras táticas incluem o uso de lanchas pequenas e velozes na ação e o uso da tecnologia para a escolha do alvo e o planejamento da investida. Via de regra, os ataques costumam acontecer em áreas próximas da costa.

O temor é tanto que já existem companhias privadas que oferecem proteção especializada. É o caso da Compagnie Anglo Marine Overseas Services, que atua no Estreito de Málaca. Organizações também monitoram as ações pirata no mundo. O IMB Piracy Reporting Centre, por exemplo, tem um telefone que funciona 24 horas e um site, no qual os ataques são atualizados semanalmente.

Na sexta-feira, militares franceses capturaram seis dos piratas que haviam tomado o Le Ponant. A ação teria ocorrido, porém, depois do pagamento de um resgate pela empresa proprietária do navio, o que garantiu a libertação de todos os tripulantes.


O que é pirataria, segundo as Nações Unidas:

- Quaisquer atos de violência, prisão ou depredação cometidos pela tripulação ou pelos passageiros de navio ou barco privado, que tenham fins privados e que aconteçam: a) em alto-mar, contra uma embarcação ou contra pessoas ou propriedades que estejam nela; b) contra um navio, um barco, pessoas ou propriedades em um local fora da jurisdição de qualquer Estado.
- Qualquer ato de participação voluntária na operação de um navio ou barco conhecidamente pirata.
- Qualquer ato de incitação ou de facilitação intencional de uma ação descrita nos parágrafos a e b.

Para o seu filho ler

- Quando ouvimos a palavra pirata, a primeira imagem que vem a nossa cabeça é aquela que vemos em filmes e livros: homens em navios de bandeiras pretas com uma caveira, com o olho tapado, um papagaio no ombro e perna-de-pau. Essas histórias fazem a gente pensar que o pirata é um tipo de ladrão charmoso, como o capitão Jack Sparrow, do filme Piratas do Caribe. Mas os piratas dos tempos antigos e de hoje são criminosos, que atacam barcos para roubar objetos.


Zero Hora, 13/04/2008.

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