sábado, 26 de abril de 2008

Mulheres traem por vingança e colocam culpa no parceiro, dizem especialistas




Quando o assunto é traição, cada casal deve definir o que é permitido e o que é proibido no relacionamento. Afinal, se para alguns uma troca de olhares com alguém que não seja o parceiro já soa como um alerta, para outros, 'escapulidas' eventuais não significam que você esteja traindo seu par. Na última semana, leitores do Globo Online opinaram na enquete 'Para você, o que caracteriza uma traição?'. Convidados para analisar as respostas, a antropóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro Mirian Goldenberg, autora de Infiel (ed. Record), e o psicólogo evolutivo Jorge Nogueira, especialista em ciúme, observaram que enquanto os homens se preocupam mais com a questão física, as mulheres não admitem a traição emocional.

De acordo com dados do Projeto Sexualidade (Prosex), do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, cerca de 60% dos homens já foram infiéis em uma relação, assim como 40% das mulheres. As estatísticas batem com as da antropóloga Mirian Goldenberg, que conduziu uma pesquisa com quase dois mil cariocas e, desses, cerca de 60% dos homens e 47% das mulheres já haviam traído seus parceiros.

- A traição se dá desde o pensamento de um desejo por uma outra pessoa, até o desrespeito pelo parceiro dentro de um relacionamento. É lamentável que muitos ainda não saibam dizer acabou, fim, sem antes experimentar o sabor da traição - opina a leitora Carla Valéria Marins da Rosa.

Já a leitora Michelle Araújo condena os envolvimentos amorosos, mas não considera os envolvimentos apenas sexuais como um problema. Para Valéria dos Santos Pinho e Eduardo Amaro Ayres, a traição é o equivalente a mentira. O leitor Pedro Curiango faz sua análise:

- Qualquer dicionário explica que traição é a 'quebra de fidelidade prometida e empenhada '. Não creio que se possa realmente recuperar-se de uma traição. É como vidro: quebrou, está quebrado. Você continuaria confiando num sócio que lhe roubou? Sempre estará "com o pé atrás" com esta pessoa, ou, como dizem os mineiros, passará a 'confiar desconfiando', ou seja, viverá um inferno em vida. A traição, no caso amoroso, é o roubo daquela cumplicidade que existe entre parceiros.

Mulheres querem ser as únicas, diz antropóloga

Para Mirian Goldenberg, a diferença entre homens e mulheres na hora de julgar uma traição é que elas não toleram a idéia de não serem insubstituíveis. Já os homens conseguem separar melhor o sexo do amor e, por isso mesmo, acabam vendo a traição feminina como algo muito mais grave ao entenderem que, no caso delas, pode ter havido mais do que só sexo. Por outro lado, acabam relevando sua própria infidelidade.

- As mulheres querem ser as únicas, as mais especiais, insubstituíveis aos olhos do parceiro. Para elas, a traição dói justamente porque percebem que não são tudo isso que imaginaram. Hoje elas falam mais da traição e também traem mais, mas quando elas traem, costumam culpar o parceiro ou tomar esta atitude por vingança. As relações hoje são mais igualitárias: ou os dois traem, ou os dois são infiéis. Atualmente, vejo que os homens se sentem ameaçados porque, para terem um relacionamento bacana, precisam ser fiéis - acredita a antropóloga.

O psicólogo Jorge Nogueira concorda, lembrando que a mulher se incomoda muito mais com o fator "paixão" do que com a relação física.

- A mulher tem medo de ver o parceiro apaixonado por outra. A traição, aos olhos femininos, vai sempre muito além do sexo - avalia.

Traição pode ser novo ponto de partida

Nogueira enfatiza que, em qualquer relação, há a possibilidade de traição, e lembra que a infidelidade também pode ser um momento importante no relacionamento, principalmente se as coisas não vão bem entre o casal.

- A infidelidade pode ser o ponto de partida para o casal que decidiu ficar junto se conhecer melhor. É um bom momento para a pessoa pensar nas seguintes questões: quem sou eu? Que tipo de casal nós formamos? Que tipo de relação queremos ter? É claro que superar a raiva, a mágoa e a vontade de vingança não é fácil, mas é possível.


O Globo Online, 26/04/2008.

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