domingo, 20 de abril de 2008

Morte de Isabella foi planejada e executada em apenas 12 minutos, diz perícia





A polícia já sabe que, do momento em que o casal parou o Ford Ka na garagem do Edifício London, na Rua Santa Leocádia, Vila Mazzei, zona norte, no sábado dia 29 de março, até a chamada da Unidade de Resgate do Corpo de Bombeiros para socorrer a criança, passaram-se apenas 12 minutos.

A polícia conseguiu cronometrar o tempo entre a chegada ao prédio e o primeiro pedido de socorro através do GPS (sistema de navegação) do Ford Ka da família, que gravou o momento em que a ignição foi desligada. A cronometragem do tempo reforça a tese da polícia de que não havia uma terceira pessoa no local do crime. Os policiais entendem que seria praticamente impossível, em apenas 12 minutos, um estranho invadir o apartamento no sexto andar, esganar Isabella por três minutos, cortar a tela de proteção da janela, arremessar a menina e fugir.

Além disso, se fosse um assaltante, ele não se preocuparia em remover o sangue do chão e do carro, lavar uma fralda e uma toalha usadas para limpar um corte de dois centímetros na testa de Isabella.

É sobre o horário de chegada ao prédio e o tempo que se passou até a morte de Isabella que o casal apresentou contradições nos dois depoimentos prestados à polícia. No primeiro depoimento, logo após o crime, o pai disse que teriam chegado em casa entre 23h10 e 23h20. O primeiro telefonema de socorro dado após a morte de Isabella foi por volta de 23h49, da casa de um vizinho. Alexandre e Anna Carolina ligaram primeiro para os pais. Portanto, segundo a versão de Alexandre, entre a chegada deles e a morte de Isabella teriam se passado cerca de 40 minutos. No segundo depoimento, entre sexta e sábado, Alexandre e Anna Carolina voltaram a se contradizer em relação aos horários de chegada, disse a polícia.
Cronometragem de tempo feita pelo polícia descarta terceira pessoa no apartamento

As marcas de fuligem da tela de proteção da janela, encontradas nos ombros da camiseta que Alexandre usava no dia do crime, reforçam a tese de que ele jogou a própria filha do apartamento. Segundo os peritos, os vestígios só poderiam ficar gravados na roupa se o suspeito tivesse pressionado o corpo fortemente contra a rede, com um peso nas mãos. A perícia diz que isso ocorreu quando o pai se debruçou para jogar a filha. Alexandre também deixou uma pegada no lençol.

O laudo mostra que Isabella foi colocada no buraco da tela com as pernas flexionadas e jogada pelas mãos. Para cortar a tela, o criminoso subiu nas camas dos irmãos da menina, escorregou duas vezes e se ajoelhou. Pelo rastro de sangue no apartamento, feito a partir de uma altura de 1,25 metro do chão, a perícia conclui que Isabella estava no colo de uma pessoa com estatura compatível com a do pai.

A reconstituição do crime deve acontecer nesta semana e Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá serão convocados pela polícia para participar. Eles podem se reservar ao direito de não ajudar a polícia a reconstituir tudo o que aconteceu dentro do apartamento no dia do crime.

Pai havia agredido filha em festa no dia do crime

Antes jogar a menina Isabella Nardoni pela janela de seu apartamento, o pai dela, Alexandre Nardoni, já havia agredido a menina, algumas horas antes do crime, numa festa a que a família compareceu no salão do prédio onde mora a família de Anna Carolina Jatobá, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Testemunhas que estavam na festa contaram à polícia que Alexandre deu um chacoalhão tão forte em Isabella, por causa de uma malcriação da menina, que chegou a derrubá-la no chão. Ainda nervoso, ele teria se aproximado da filha, bastante chorosa, e dito:

- Você vai ver quando chegar em casa.

A informação, foi revelada pela revista "Veja" desta semana. As câmeras do prédio registraram a imagem de Isabella brincando na festa. Para a polícia, as agressões contra a menina continuaram no carro, no caminho de casa. A polícia encontrou vestígios de sangue no carro, no apartamento, na sola do sapato de Anna Carolina e no chinelo de Alexandre.

Alexandre Nardoni e a madrasta foram indiciados por homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Ambos falaram por mais de 13 horas entre sexta e sábado e o advogado de defesa questiona o interrogatório do casal.

Segundo policiais, Anna Carolina foi lacônica nas respostas e sobre as marcas de sangue encontradas no carro, ela disse apenas: 'desconheço'. O pai de Isabella chegou a se emocionar em alguns instantes, principalmente quando os delegados mostraram fotos da menina.


Folha de São Paulo, 20/04/2008.

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