terça-feira, 22 de abril de 2008

Modelo comunitário, no qual soldados interagem com moradores, será ampliado na Zona Sul

RIO - Uma reportagem de Vera Araújo, publicada nesta terça-feira no jornal "O Globo", revela que, mais de 15 anos depois de sua criação, a Polícia Militar deverá ampliar o policiamento comunitário na Zona Sul, criando novos pontos para combater, principalmente, os roubos a transeuntes. Esta modalidade de crime, de acordo com as estatísticas divulgadas sexta-feira pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), aumentou 32,3% em janeiro deste ano, comparando com o mesmo mês de 2007. São 7,5 roubos a transeunte por hora no estado.

Até o fim deste mês, o 23º BPM (Leblon) pretende criar o policiamento comunitário na Praça General Osório, em Ipanema, em virtude da desordem urbana no local, que aumenta a violência. Ali são registrados, em média, dez delitos por mês.

- Percebemos que houve um crescimento da população de rua e um aumento dos pequenos delitos na praça - explica o comandante do 23º BPM (Leblon), tenente-coronel Carlos Eduardo Millan.

Já na área de Botafogo, o comandante do 2º BPM, tenente-coronel Gileade Albuquerque, pediu mais 50 homens ao Comando Geral da PM para ampliar os pontos de policiamento comunitário no Humaitá, em Botafogo, na Urca e em Laranjeiras. A novidade será a implantação do patrulhamento no Catete, em maio.

- Há locais em que o índice de criminalidade chega a zero com o policiamento comunitário - assegura Albuquerque.

O secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, interino no cargo, acredita que este é o momento de adotar novos modelos de polícia e elege o comunitário como prioridade:

- É preciso ser racional com o uso da força policial. A radiopatrulha não precisa ficar rodando. Há a necessidade de um policiamento mais próximo da população, no qual tanto policiais como moradores se conheçam e se tratem pelos nomes- explica o secretário.

Para Balestreri, a falta de efetivo não serve de desculpa para não se implantar o policiamento diferenciado:

- Onde há falta de efetivo, a solução é justamente o policiamento comunitário, pois a população também ajudará no patrulhamento. Nos idos dos anos 60 e 70, em Detroit, nos Estados Unidos, a solução para a falta de efetivo foi a parceria com os moradores. A população ajudava com informações. Além disso, com os policiais integrados à população, não ocorrem casos de corrupção.

Segundo ele, o governo deu um salto nos investimentos na área de segurança pública de R$ 600 milhões, no ano passado, para R$ 1,8 bilhão, este ano, juntando os fundos nacional de segurança e penitenciário. Neste orçamento está incluída a capacitação de policiais comunitários.

Responsável pela implantação do policiamento comunitário no Rio, a ex-secretária nacional de Justiça e professora de criminologia da PUC Elizabeth Sussekind aponta as vantagens e os riscos do policiamento comunitário:

- É claro que este tipo de policiamento reduz a criminalidade. É uma forma de policiamento preventivo. Por outro lado, podem surgir problemas. Como a polícia é muito indigente, corre-se o risco de os policiais, por serem do agrado de algumas pessoas, ganharem coisas. Eles passam a se equiparar aos policiais que trabalham na segurança privada. Se o estado trata bem seu funcionário, valorizando-o, este problema desaparece.

Na Zona Sul, cada bairro adota um tipo de policiamento comunitário. Nas áreas dos quartéis de Copacabana e Botafogo, este tipo de patrulhamento é feito durante o dia, enquanto no Leblon, com uma vida noturna mais movimentada, os policiais se revezam durante 24 horas. Niterói e Petrópolis também têm policiais comunitários.

- Todo mundo quer um policial na sua porta, mas temos que adequar o policiamento às necessidades do local e do efetivo do quartel - explica o comandante do 19º BPM (Copacabana), tenente-coronel Edson Almeida.


O Globo, 22/04/2008

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