sexta-feira, 4 de abril de 2008

Juíza diz que não sabia que jovem dividia cela com homens

RIO - A juíza acusada de deixar uma adolescente durante um mês numa cela com mais 20 homens, no Pará, falou com exclusividade na quinta-feira ao Jornal da Globo.

A juíza Clarice Maria de Andrade estava em Belém. Ela trabalhava no fórum de Abaetetuba, município do nordeste do Pará, onde em novembro do ano passado uma adolescente de 15 anos passou quase um mês presa numa cela com 20 homens.

O caso foi denunciado em primeira mão pelo "Jornal da Globo". A menina foi presa ilegalmente, violentada e torturada. Hoje, ela e a família vivem longe do Pará e estão num programa de proteção do governo federal.

Pela primeira vez a juíza Clarice Maria de Andrade falou sobre o caso de Abaetetuba. Ela disse que não sabia que a adolescente dividia uma cela com homens.

- Não tinha conhecimento que havia uma adolescente na mesma cela com homens, tomei conhecimento depois pela imprensa - afirmou.

A adolescente era tratada pela polícia do Pará como adulta, como mostra o auto da prisão em flagrante da menor. Ela afirma que o documento que ela recebeu não dizia que se tratava de uma menor.

A juíza recebeu da polícia um documento, 17 dias depois da prisão da adolescente, com a informação de que havia uma presa do sexo feminino numa cela com homens e dava um alerta de que a presa corria risco de sofrer todo e qualquer tipo de violência. O delegado superintendente da região de Abaetetuba solicitava em caráter de urgência a transferência da presa.

JG: O que achou da polícia acusar a senhora?

- Eu não sei se a polícia me acusou. O que eu sei é que a polícia disse que comunicou e realmente comunicou. Eu recebi no dia sete de novembro uma comunicação pedindo autorização de transferência, pedi que fosse oficiado para corregedoria pedindo que fosse solicitada a transferência da mulher, que até então não se sabia se era menor ou maior - disse a juíza.

Mas a menor não foi transferida e continuou presa por mais uma semana, até que o Conselho Tutelar fosse ao local.

JG: A senhora sabia que naquela cadeia não há ala para mulheres?

- Eu que lhe pergunto, qual é a delegacia no Brasil inteiro que tem ala para mulheres? - questiona a juíza.

A juíza comentou a decisão de quinta-feira dos desembargadores do Tribunal de Justiça que resolveram não abrir investigação contra ela.

- Justa, foi justa, foi feita a defesa, foi apresentada toda a documentação e foi por maioria absoluta - disse.


Fonte: Jornal o Globo, 04/04/2008.

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