segunda-feira, 14 de abril de 2008

Justiça defende 'cara a cara' entre vítima e criminoso para amenizar traumas

Método da 'justiça restaurativa' já é utilizado em pelo menos quatro estados brasileiros. Ministro Tarso Genro é a favor da medida para casos que não envolvam violência extrema.

O encontro cara a cara entre vítima e criminoso deixou de ser apenas cena de filme policial. O método já é usado nos Estados Unidos e em pelo menos quatro estados brasileiros para dar uma chance às vítimas, ou aos seus parentes, de tentar aliviar os traumas da violência.

São duas pessoas frente a frente, em um cenário como este: de um lado, o agressor; do outro, um parente da vítima ou a própria vítima. Entre eles, apenas um mediador. O que um tem a dizer para o outro? E para quê? Com que intenção? Quem aceitaria passar por esse confronto?

Para casos que não envolvem violência extrema, o ministro da Justiça Tarso Genro defende o método. "A justiça restaurativa ajuda a desafogar o poder judiciário. Ela tende para uma solução pacífica dos conflitos. Ela é aplicável e é necessária", defende Tarso.

Com com a vinda ao Brasil do principal teórico da justiça restaurativa, o sociólogo americano Howard Zehr, o assunto voltou ao debate. No Brasil, a polêmica justiça restaurativa já acontece em pelo menos quatro estados. Em Pernambuco, vem sendo usada até para solucionar brigas entre marido e mulher que acabam nos tribunais.

Olho no olho

Um ano depois do assassinato da filha Gabriela em uma estação do metrô do Rio de Janeiro, Carlos Santiago pediu para ver o bandido no dia da prisão.

"Ele olhou para mim, olhou por alguns segundos no meu rosto, nos meus olhos, mas me olhou como se eu fosse um objeto. Foi um momento para mim muito importante. Eu tinha de passar por aquilo, entendeu?", explica.



No "Fantástisco", há oito anos, o pai do menino Ives Ota esteve diante das câmeras com um dos condenados pela morte do filho, no quadro "Hora da verdade". O quadro teve como inspiração um programa que já era aplicado no sistema penal americano: a justiça restaurativa. Na prática, significa deixar vítima e agressor cara a cara.


"É um mecanismo privilegiado que dá ao infrator uma visão mais clara das conseqüências, da repercussão do ato que ele praticou. Para a vítima, é uma oportunidade de extravasar a carga emocional vivida pelo evento e com isso alcançar um alívio com relação a essa experiência", explica o juiz Leoberto Brancher.

Hora da verdade

A idéia nasceu ao ver a frustração das vítimas com a Justiça. Elas gostariam de saber o que aconteceu, queriam dizer ao agressor o que ele fez com suas vidas.

Imagens gravadas pelo Juizado da Infância e da Juventude de Porto Alegre mostram, em um círculo, o menor infrator, a vítima e parentes, dos dois lados.

Foi em um círculo como este, promovido pela Justiça gaúcha, que uma mãe falou com o assassino da filha. "Eu precisava olhar no olho dele", diz ela. Há exatamente um ano, sua filha foi morta e enterrada no quintal de um vizinho. O criminoso era um jovem, amigo da família.

"Ele mesmo é um juiz dele, né? Ele se culpa pelo que aconteceu. Por isso eu fiz o que fiz. Olhei-o, perdoei", explica.

"Perdoar, não. Eu não vou chegar a esse nível. Eu me violentaria. Perdoar, não. Era muito a Gabriela para mim, era tudo", diz Carlos Santiago, sobre a filha que foi assassinada no metrô do Rio de Janeiro.


Assistam o Video no Fantastico....
Acessem: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM815258-7823-JUSTICA+RESTAURATIVA+COMECA+A+SER+MOTIVADA+NO+PAIS,00.html


G1, 14/04/2008.

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