domingo, 6 de abril de 2008

Jovem transgride para se mostrar, ressalta psicóloga

O mito do super-homem, aquele em que uma pessoa (geralmente jovem) age perigosamente sem calcular os riscos, é facilmente observado no trânsito.

Em Maringá, não são poucos os casos de adolescentes recém-habilitados que desafiam o perigo apenas para impressionar o grupinho de ‘amigos’ no qual estão inseridos.

Sobre transgressões que beiram o absurdo e que, invariavelmente , ceifam vidas, O Diário ouviu a psicóloga Maria José Saraiva Ribeiro, do Núcleo de Psicologia Aplicada da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Na opinião dela, a aplicação de multas não resolve o problema, nem campanhas esporádicas. O trânsito de Maringá, segundo ela, deixaria de fazer tantas vítimas se trabalhos educativos fossem realizados constantemente e de forma intensiva - até que o povo fosse, de fato, educado.

Maria José é categórica ao afirmar que o indivíduo que tem problemas para respeitar regras, como as de trânsito, sofre algum distúrbio e precisa de tratamento.

O Diário: Mesmo com campanhas educativas orientando sobre os riscos de beber e dirigir, sobre a falta do uso do cinto de segurança e de motoristas dirigindo sem habilitação, infrações como essas são comuns. Como a psicologia explica isso?

Maria José Ribeiro: As pessoas, às vezes, estão menos preocupadas com a própria vida que com o trabalho e outras coisas que acontecem no dia-a-dia. Por isso, deixam de cumprir normas necessárias para se ter uma vida saudável, e isso inclui ter a carteira de habilitação e usar o cinto de segurança. Acabamos nos acostumando a uma rotina sem muitas mudanças, e isso cria vícios e pré-disposição a acidentes.

O Diário: Essa rotina faz com que o motorista, após exagerar na bebida, esqueça que álcool e direção não combinam?

Maria José Ribeiro: Aí não é só isso. Poucas pessoas têm realmente a consciência do quanto podem beber ou não quando se estão dirigindo. Não deveriam beber nada, porque o álcool diminui os reflexos. Muitos preferem satisfazer um prazer que assumir uma responsabilidade, poucos chamam um táxi ou um da turma fica sem beber para dirigir depois.

O Diário: Há motoristas que conhecem as leis de trânsito, mas as desrespeitam. Pessoas nessa situação precisariam de tratamento psicológico?

Maria José Ribeiro: Uma pessoa que não segue regras tem algum distúrbio, e não é só no trânsito que ela vai demonstrar isso, é na escola, na família. Fatalmente, essa pessoa vai precisar de um tratamento psicológico ou até psiquiátrico ou alguma outra ajuda onde ela possa ter o suporte necessário. Vale até freqüentar uma religião.

O Diário: O processo para tirar a carteira de habilitação deveria ser mais rígido?

Maria José Ribeiro: Muitas pessoas que chegam à auto-escola já sabem dirigir. O que falta é permitir ao aluno ter aulas também na rodovia. Penso que a quantidade de aulas nem sempre é satisfatória, a carga horária poderia ser maior e incluir a prática também nas estradas.

O Diário: Muitos motoristas costumam respeitar as leis de trânsito apenas quando sabem que estão sendo fiscalizados. Sempre foi assim ou esse é um problema recente?

Maria José Ribeiro: Sempre foi assim. Costuma melhorar um pouco após as campanhas educacionais, mas, aos poucos, as pessoas vão esquecendo o que aprenderam.

O Diário: Para coibir excessos, a aplicação de multas é o melhor caminho?

Maria José Ribeiro: Só a multa não adianta, porque é uma medida punitiva e não educativa. É preciso fazer com que o motorista se conscientize de sua responsabilidade. A multa melhora o trânsito, mas não resolve o problema. Acho que poderíamos ter mais campanhas educativas em Maringá.

O Diário: Jovens que têm pais prudentes no trânsito cometem menos transgressões?

Maria José Ribeiro: Com certeza, toda nossa formação é dependente da educação familiar. A escola é um complemento, a base tem de ser formada na família. Isso é muito importante porque os jovens são muito influenciáveis, mais dados ao álcool, às drogas, querem o prazer sem calcular os riscos. Quem é que enpina moto por aí? Você já viu uma pessoa mais velha fazendo isso, ou mesmo uma mocinha? A juventude é uma fase em que os rapazes querem demonstrar que são capazes.

O Diário: O comandante do Pelotão de Trânsito de Maringá, tenente França, comentou que há casos de jovens que furam blitz de moto para se vangloriar aos amigos. Por que há essa necessidade?

Maria José Ribeiro: Quando a família deixou de mostrar o que é certo e o que é errado, o jovem só se preocupa em fazer valer seus desejos, fazer alguma coisa que impressione os amigos, mesmo quando há o risco de um acidente.


O Diário do Norte do Paraná, 06/04/2008.

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