quinta-feira, 17 de abril de 2008

Famílias 'trocam filhas por comida' no Afeganistão

A pobreza e a falta do que comer estão levando algumas famílias do norte do Afeganistão a casar suas filhas bem jovens em troca de dinheiro, segundo uma reportagem realizada por Jenny Cuffe para a Radio 4 da BBC.

Farida (nome fictício), que vive no vilarejo de Wandian, na região montanhosa de Badakhshan, no nordeste do país, recebeu o equivalente a cerca de R$ 1.300 no verão passado depois de permitir o casamento da filha de 13 anos com um primo do pai, de 20 anos.

"É o destino dela", diz Farida.

Mas a filha parece não concordar, dizendo não gostar do marido.

"Eu não queria me casar, foi a decisão dos meus pais. Eu sonhava em poder terminar os meus estudos. Eu não tive escolha", diz a menina.

Fauzia Kofi, parlamentar da região de Badakhshan, afirma estar vendo um número cada vez maior de noivas muito jovens nos últimos dois anos.

"Uma criança de 9 ou 10 anos - foi oferecida em casamento em troca de trigo e duas vacas", afirma.

"Eu não chamo isso de casamento, eu chamo isso de venda de crianças", diz Kofi.
Mortes no parto

Uma parteira do vilarejo de Khordakhan afirma que tenta convencer os pais a não casar suas filhas tão jovens, mas diz que muitos sentem que não tem escolha.

Ela diz já ter ajudado uma menina de apenas dez anos a dar à luz.

"A menina era tão pequena. Eu a segurei no meu colo até o bebê nascer", afirma Hanufa Mah.

Dados da ONU mostram que mais mulheres morrem durante o parto na região de Badakhshan do que em qualquer outro lugar no mundo, e mães com menos de 15 têm mais risco.
Pobreza

Tanto Kofi como a parteira Mah acreditam que a explicação para a nova tendência é a pobreza.

O vice-governador de Badakhshan, Mohammed Zarif, afirma que foram registradas 60 mortes causadas por frio e fome e a perda de 7 mil animais em um período de cinco meses que a região ficou isolada do resto do país por causa da neve.

No mercado da cidade, o preço de alguns alimentos dobrou no último ano - um resultado tanto da localização afastada como da crise no mercado global de alimentos.

Fauzia Kofi acredita que o casamento de crianças só terá fim se a região receber investimento para reduzir a pobreza e mais ajuda para melhorar o fornecimento de comida.

Mas o ministro das Finanças do Afeganistão, Anwar al-haq Ahadi, não acredita que regiões como Badakhshan possam ser retiradas da pobreza rapidamente.

"Eu acredito que levará algum tempo. No momento, o que estamos tentando fazer é oferecer o básico", afirma.

"Nós somos o quarto ou o quinto país mais pobre do mundo. Nós esperamos melhorar de posição, mas em cinco anos, o Afeganistão ainda será um país muito pobre", completa.

Para mais notícias, visite o site da BBC Brasil

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