terça-feira, 8 de abril de 2008

Criar leitos psiquiátricos não resolve problema dos doentes mentais, afirma especialista

Os problemas de atendimento a pessoas acometidas de transtornos mentais não decorrem da falta de leitos psiquiátricos, afirma o coordenador de Saúde Mental, Álcool e Drogas do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel Delgado.

“Nossas dificuldades estão na ampliação da rede de postos do Centro de Atenção Psico-Social (Caps)”, diz o médico. Segundo ele, para tratar os pacientes com distúrbios mentais, é preciso também ampliar o atendimento do programa Saúde da Família. “E, em terceiro lugar, temos que ampliar o atendimento psiquiátrico nos hospitais gerais. “Não é criando leitos psiquiátricos que resolveremos os problemas dos doentes mentais.”

De acordo com Delgado, o Brasil avançou no atendimento de saúde mental. “Nas cidades de pequeno e de médio portes, [o atendimento] vai indo muito bem. Nas grandes cidades, é que não está bem. Dos 14 municípios com mais de 1 milhão de habitantes, podemos identificar dois apenas que têm uma rede que dá conta do atendimento do setor - Campinas, em São Paulo, e Belo Horizonte. Os outros grandes municípios ainda estão presos a um modelo de atendimento em que a rede comunitária é muito frágil”, admitiu. Entre esses, estão Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.

Por conta desse problema, informou Delgado, o Ministério da Saúde fará em maio um grande seminário sobre o assunto – Saúde Mental nas Grandes Cidades – Como Resolver o Desafio do Acesso ao Tratamento? “O seminário será realizado em Campinas para que os gestores públicos possam, de certa forma, conhecer a realidade do tratamento mental em Campinas, que é uma experiência que deu certo. E não é baseada em hospital, mais em uma rede comunitária, em serviços ambulatoriais fortes e em leitos de hospitais gerais”, explicou.

“O acesso aos medicamentos é outra condição crucial para o atendimento psiquiátrico”, disse Delgado. Ele informou que o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza na rede atendimento de 13 itens do chamado elenco básico de medicamentos psiquiátricos. “Esses itens, que constam da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais, são suficientes para atendimento em saúde mental na quase totalidade dos casos”, afirmou. Além desses, há os medicamentos excepcionais para os casos de baixa resposta aos tradicionais. São os casos resistentes. Em termos técnicos, é o que se chama de casos refratários."

Segundo o coordenador, existe uma grande pressão em relação ao consumo de medicamentos excepcionais, não somente da indústria farmacêutica, mas também do público que exige a última novidade em termos medicamentosos. “A inclusão de um medicamento psiquiátrico na lista dos excepcionais não pode ser decidida sem estudo farmacológico que diga: 'é mais adequado ou não'. Não é uma coisa assim tão simples, por que na saúde pública tem que ter rigor."

Na opinião de Pedro Delgado, se a lista de medicamentos básicos se tornar uma lista de mil itens, perde o valor para orientar a política da saúde pública. "Contudo", ressaltou, "os gestores do SUS podem também adquirir qualquer medicamento que julguem necessário”.


Agência Brasil, 08/04/2008.

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