terça-feira, 15 de abril de 2008

Crianças entre 12 e 14 anos estão se prostituindo em troca de comida em municípios no norte do Pará

Belém - O bispo de Marajó, dom José Luís Azcona Hermoso, denunciou ontem em Belém que crianças entre 12 e 14 anos estão se prostituindo em troca de comida em municípios como Breves, Portel e Melgaço, ao norte do Pará.

''Levadas em muitos casos para a prostituição pelos próprios pais, elas abordam passageiros que transitam de barco pela região e oferecem o corpo em troca de dois quilos de carne e cinco latas de óleo de cozinha, para matar a fome da família'', afirma o bispo. Ele também acusa o Executivo e o Judiciário paraense de ''total omissão'' e de nada fazerem para combater esta ''vergonha pública''.

Segundo d. Azcona, a exploração sexual de crianças e mulheres no Marajó é ''escancarada'', embora ele próprio tenha feito denúncias em 2006 que provocaram a ida a Portel de representantes da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, para apurar casos como o estupro de menores envolvendo os vereadores Roberto Alan de Souza Costa, o Bob Terra, e Adson de Azevedo Mesquita. Bob Terra é filho do vice-prefeito de Portel, Ademar Terra da Costa.

As polícias Civil e Federal e o Ministério Público criticam o bispo e não demonstram nenhum interesse em investigar a exploração sexual de crianças e adolescentes, para punir os responsáveis ou combater o tráfico humano de mulheres do arquipélago de Marajó para a Guiana Francesa e Europa. ''A impunidade dos criminosos é completa no Estado'', denuncia d. Azcona.

Ele citou o caso recente de denúncia feita pela imprensa de que 178 mulheres foram levadas como escravas sexuais do Brasil para vários países. Desse total, 52 eram da cidade paraense de Breves. Houve prisões de alguns traficantes. Seis advogados se apresentaram imediatamente para defendê-los e conseguiram livrá-los da cadeia. Segundo o bispo, é a prova de que o poder econômico é um ''grande aliado'' do tráfico humano.

Nenhuma das instituições citadas pelo bispo em suas denúncias quis comentar as acusações feitas por ele.


Folha de Londrina, 15/04/2008.

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