domingo, 13 de abril de 2008

Criança deve ser poupada do noticiário de violência

Psicólogos, educadores e diretores de escola aconselham aos pais que os filhos, sobretudo os de menor idade, devem ser poupados do noticiário de casos como o da menina Isabella Oliveira Nardoni, morta aos cinco anos de forma violenta e ainda não esclarecida pela investigação da polícia.

"Tenho pedido aos pais que não deixem as crianças verem [as notícias do caso]. Quando os alunos falam sobre isso, tento desconversar e falar de outro assunto", diz Andrea Regina Rocha, diretora da escola Criando Alegria, onde Isabella fez os primeiros anos da educação infantil entre 2003 e 2005.

"Crianças não deveriam ter acesso aos noticiários de TV, mas, se a situação for impossível de se controlar, os pais devem estar por perto para dar o acolhimento emocional que o momento exige", diz a psicóloga Malu Feitosa.

Para a especialista, mesmo depois de o crime ser desvendado, os pais devem continuar atentos às possíveis repercussões emocionais que o caso pode trazer aos filhos. "A criança pode criar uma fantasia e isso deve ser elaborado."

Diretora da escola Arte de Crescer, Denise Spadini afirma que nesta semana um aluno comentou em sala de aula que é perigoso ir à janela. A professora concordou, disse que era uma interpretação correta e falou dos cuidados necessários para não cair ao se aproximar da janela e da varanda.

No ano passado, professores explicaram aos alunos os ataques do PCC, depois que muitas crianças demonstravam medo de sair às ruas.

"É preciso ouvir a criança para saber qual a compreensão que ela tem daquele fato", diz.

Mídia

Beatriz Belluzzo Brando Cunha, conselheira e coordenadora da comissão de psicologia e educação do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, faz a ressalva: "Se o assunto aparecer é preciso ser tratado. Agora, se essa questão não vem, não convém trazer a questão para a criança".

Para Cunha, "as escolas não podem seguir o movimento que a mídia tem feito de exploração do caso". "É preciso tirar a sobrecarga que a notícia traz."

"A tragédia extrapolou todas as dimensões. A ação das escolas deve ser de resposta ao que a criança traz, mas sem potencializar. Estão investigando, é preciso ter um julgamento. Não necessariamente os pais fazem isso", diz a psicóloga.


Folha de São Paulo, 13/04/2008.

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