terça-feira, 22 de abril de 2008

Constrangimento sem grades

Alguns haitianos nem sabem o real motivo pelo qual foram presos. Sem um Poder Judiciário completamente estruturado, as pessoas são encaminhadas para o presídio mesmo antes do julgamento. Muitas são esquecidas lá dentro. Ficam anos e envelhecem no cárcere. Com o tempo, acabam ganhando mais respeito dentro da detenção: ganham o direito de freqüentar a ala da frente, onde existe até mesmo um "marché" (mercado). Vendem pequenos objetos levados pelos familiares, como pasta de dente e aparelho de barbear.

O dinheiro da venda circula entre os próprios detentos da parte da frente. Contudo, não é suficiente para evitar certos constrangimentos que a falta de dignidade se responsabiliza por minimizar. Sem espaço fechado para banho ou para as necessidades, alguns presos caminham nus pelo pátio.

Colapso do sistema jurídico e prisional é desafio

Outros apertam-se desesperados em busca de gotas esparsas de água que jorram de um pequeno orifício. Pegam o quanto podem, mas a água mal enche um balde. A mesma água do banho é usada para escovar os dentes e para beber.

A privada a céu aberto é o máximo do constrangimento. Os presos fazem suas necessidades diante de todos. O odor fétido se espalha por todos os lados da prisão. É impossível não sair de lá impregnado. Pelo cheiro e pelos questionamentos: é possível exigir dignidade para os presos, quando direitos humanos deixam de ser aplicados até para quem vive em liberdade no Haiti?

O colapso do sistema jurídico e prisional do Haiti é um dos principais problemas a serem enfrentados pelo governo haitiano e pelos organismos internacionais que buscam formas de apoiar o desenvolvimento da nação caribenha.


Zero Hora, 22/04/2008.

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