terça-feira, 8 de abril de 2008

Chocante - sua segurança

Num país em que a violência virou rotina e homicídios são pouco mais que estatísticas, a morte só se torna assunto obrigatório quando atinge alguém próximo. Ou quando acontece, ao vivo e em cores, na frente da gente, de tal forma que seja impossível desviar o olhar.

Foi o que aconteceu ontem com a fotógrafa Adriana Franciosi, de Zero Hora. Encarregada de registrar o cotidiano das mães de periferia, muitas delas com filhos envolvidos na criminalidade, a colega topou de frente com um criminoso em ação. Entre o susto dos tiros e o flagrante da foto se passaram segundos que parecem eternidade, para ficar no chavão. Adriana não vacilou e conseguiu um daqueles registros que ficam na história. O jornalista Moisés Mendes, que a acompanhava, tentou ainda ajudar um dos homens feridos pelo atirador. Missão difícil. Chocante. Muito diferente dos filmes a que todos estamos acostumados a assistir.

O pior é saber que estas cenas se incorporam cada vez mais ao cotidiano dos gaúchos. Quatro vezes ao dia, segundo as estatísticas. Por que tombam tantos nessa guerra que não diz a que veio? Especialistas culpam o culto às armas, muito forte no Rio Grande do Sul. Muito armamento comprado legalmente vai parar na mão de ladrões e, dali, serve para os acertos de contas do submundo.

O governo estadual anunciou um mutirão para esclarecer crimes graves, que começou por Uruguaiana. Que seja ampliado. Mas isso não basta. É desanimador saber que, com um sexto da pena cumprida, um homicida tem direito a regime prisional semi-aberto - o que equivale a ganhar as ruas durante o dia, para trabalhar ou para cometer novos crimes. Urge mudar as leis. Se a punição continuar fraca, banal continuará a morte.

( humberto.trezzi@zerohora.com.br )
HUMBERTO TREZZI

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog