terça-feira, 22 de abril de 2008

Caso Isabella - Dá para acreditar neles?

Para especialistas em psiquiatria forense, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá não foram espontâneos na entrevista ao Fantástico, da Rede Globo.

E mais: pai e madrasta de Isabella Nardoni, cinco anos, optaram por usar o tempo na TV apenas para se defender das acusações, sem demonstrar indignação pela morte da menina.

- Foi um momento artificial. Faltou espontaneidade - afirma a psiquiatra Lorena Caleffi, que já atuou na área forense e, atualmente, é responsável pela Revista de Psiquiatria da Sociedade de Psiquiatria do Estado.

Lorena destaca a hipercorreção do português (quando a pessoa erra ao tentar corrigir seu jeito habitual de falar, que está correto) de Alexandre.

- Está evidente a preocupação dele com a formalidade da entrevista. Queria ser preciso, não natural - avalia.

A aparente tranqüilidade do casal surpreendeu a psiquiatra Denise Caetano Ramos. Especializada em psiquiatria infantil e juvenil, ela ressalta que a perda de um filho pequeno é a situação mais estressante à qual pode ser submetido um adulto, segundo a Organização Mundial da Saúde:

- A impressão que dá é que são pessoas muito frias. Falaram com distanciamento. Parece que não foi com eles. Eles não se defendem veementemente e parecem não lamentar a morte da menina. Parece que não estão tristes.

Denise acredita ainda que o casal tentou criar uma imagem de uma família perfeita ao qualificar Isabella como uma criança sem defeitos:

- Quem é pai sabe que crianças dessa idade dão trabalho, pois começam a ter autonomia física.

O comportamento de Alexandre frente à câmera difere do modo com que, geralmente, pais falam da perda recente de um filho. A avaliação é do psiquiatra Marco Antônio Pacheco, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e supervisor da residência em internação psiquiátrica do Hospital São Lucas. Conforme ele, nesses casos, as pessoas tendem a se culpar, a pensar que falharam.

- Toda a população está revoltada, e eles (Alexandre e Anna Jatobá) querem justiça para eles e não para a menina. Como um pai se coloca como vítima no caso de assassinato da filha? - questiona Pacheco.

Para o psiquiatra, o desinteresse do casal em dar detalhes ao repórter sobre a noite do crime pode revelar uma estratégia de defesa:

- Parecia que estava ensaiado. Isso ocorre quando a pessoa não quer cair em contradição. Pessoas que estão escondendo fatos ficam superficiais.

Psiquiatra adverte sobre conclusões precipitadas

Rogério Cardoso, diretor do Instituto Psiquiátrico Forense, alerta que a entrevista, no entanto, não permite conclusões técnicas seguras:

- Pode ser que, na iminência de ser acusado da morte da filha, Alexandre esteja vivendo um dilema de tal ordem que a morte da criança, neste contexto, se tornou um pouco secundária. É difícil a gente querer dosar qual seria o adequado: se ele deveria estar mais indignado do que acuado na entrevista, isso depende de cada pessoa.

Gestos do casal chamaram a atenção do psiquiatra. Anna Jatobá manteve as pernas cruzadas e, na maior parte do tempo, as mãos sobre elas ou sobre um dos braços do sofá. Para Cardoso, a atitude revela que a madrasta estava contida, cuidando do que falava. O olhar de Alexandre despertou curiosidade.

- Ele começava respondendo ao repórter e, depois, passava a olhar para os lados, talvez buscando a aprovação de alguém na sala - explica ele.

A freqüência com que Anna Jatobá interrompeu Alexandre foi observada.

- Ela era mais objetiva do que ele. Quando ele queria explicar uma coisa, meio que se enrolava e não achava as palavras. Ela, nas vezes em que interviu, falou de forma mais objetiva, mais coerente. Isso dava para ela a possibilidade de, quando ele não conseguia dizer as coisas, ela dizer - explicou Cardoso.


Zero Hora, 22/04/2008.

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