segunda-feira, 21 de abril de 2008

Caso Isabella: confira a íntegra da entrevista do pai e da madrasta





Suspeitos do crime, o casal falou pela primeira vez desde a morte da menina.

Principais suspeitos do assassinato de Isabella Nardoni, cinco anos, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá concederam ao programa Fantástico, da Rede Globo, a primeira entrevista após a morte da menina. Em quase 40 minutos de conversa, o pai e a madrasta da menina — morta após ser jogada do sexto andar de um prédio em São Paulo no dia 29 de março — alegaram inocência.

Alexandre evitou encarar a câmera e conteve a emoção. Já Anna Carolina, com um terço nas mãos, chorou ao longo de toda a entrevista. Os dois afirmaram que mantinham uma boa relação com Isabella e que jamais a agrediram.

— Eu nunca levantei a mão pra ela. Nunca encostei um dedo na minha filha — disse Alexandre.

Confira a íntegra da entrevista.

Repórter — Como vocês estão se sentindo depois da morte da Isabella, uma morte tão trágica?
Anna — Estamos sofrendo muito com tudo, com o que a população fala a nosso respeito, com o prejulgamento, pela própria população ter condenado a gente, sendo que somos totalmente inocentes.
Alexandre — Somos uma família como qualquer outra, somos muito apegados à família, na nossa família todos são muito unidos, nossas crianças, nossos filhos, tanto a Isabella quanto o Pietro e Cauan são tudo na nossa vida, minha e de minha esposa. Sempre foi feito tudo para nossas crianças.
Anna — O que se faz para um sempre foi feito para todos, nunca teve diferença entre nenhum entre os três. Sempre, sempre, tudo foi sempre igual para os três.

Repórter — Vocês estão sendo acusados de um crime grave. Como é suportar essa acusação?
Alexandre — Está sendo muito difícil. Sabendo como nós somos com nossos filhos. Nossa família também, nossos amigos, sabendo como nós somos, a gente sempre foi muito unido, sempre nos reunimos todos os finais de semana para almoçarmos juntos.
Anna — A gente sempre foi muito família.
Alexandre — Sempre fomos família. Sempre almoçamos juntos, jantamos juntos, todos unidos. Então, as pessoas estão falando algumas coisas que eles não conhecem como nós somos.
Anna — Eles sabem a nosso respeito através da mídia. Tudo o que falam a nosso respeito, a maioria das coisas é tudo inventado, porque ninguém conhece nossa família a fundo. Ninguém conhece como nós somos mesmo.

Repórter — A vida de vocês mudou depois da noite de sábado?
Anna — Completamente. Mudou em tudo e nunca mais nossa família será a mesma.
Alexandre — Nossa família agora está incompleta.
Anna — Sempre vai estar faltando nossa Isa.
Alexandre — Nossa princesinha.
Anna — Até o próprio irmão dela, o Pietro, pergunta todos os dias por ela. Quando ele vai dormir ele chora que quer a irmã. No dia do aniversário dela, no dia que nós fomos para a delegacia, um dia antes eu falei para ele, amanhã é o aniversário da Isa, e ele falou assim: "Ela vai vir?".
Alexandre — Está sendo muito difícil, porque as pessoas não estão deixando. Nós não temos como ir ao cemitério. Nós gostaríamos de ir ao cemitério, ter ido à missa e não estamos podendo fazer isso. As pessoas estão prejulgando a gente sem ao menos conhecer.

Alexandre — Acho que vem da própria mídia.
Anna — Da mídia, da mídia.

Repórter — A responsabilidade maior é da imprensa, para vocês?
Alexandre — Não digo responsabilidade de ninguém. Não posso falar que a responsabilidade é tanto da mídia quanto da polícia. Não posso falar isso por que estaríamos fazendo um julgamento também. Mas estão mostrando eu e minha esposa de uma maneira, explorando nossa imagem de tal maneira na televisão, que eles não conhecem a gente para falar o que falam. Eu acho que eles tinham que conhecer ao menos um pouquinho para estar fazendo esse julgamento. Se eles soubessem como era nossa vida, a gente vivia sempre em harmonia, sempre alegre, todos brincando o tempo todo no apartamento.
Anna — Eu sempre estava cantando com os três, com o Pietro caído, eu sempre ficava cantando, pulando. A Isabella adorava que eu brincasse com ela, o Pietro. Tudo ela queria que eu fizesse pra ela, tudo, tudo, tudo.
Alexandre — Sempre foi feito tudo para as crianças. Tudo, tudo. "Ah, vamos brincar, pai, ah, vamos brincar, tia Carol". Porque a Isabella sempre chamava minha esposa de tia Carol.
Anna — É, porque para a Isa eu não sou do jeito que as pessoas estão falando, sempre fui a tia Carol e pra sempre a tia Carol para ela.

Repórter — Aquela imagem que a televisão mostra vocês no supermercado, mostra uma família unida...
Anna — É do jeito que a gente sempre foi. Onde um está, estão todos. A Isa só não estava com a gente quando ela estava com a mãe dela. Quando ela estava em casa, onde um ia, iam todos. Sempre fomos assim, onde um está, estão todos. Nunca separamos um dos outros.

Repórter —Como vocês se vêem diante da televisão?
Alexandre — Não tem nem como explicar.
Anna — Não tem mesmo
Alexandre — Nós sabendo da maneira que nós somos com nossa família e com nossos filhos, o tratamento que sempre demos para eles, a educação, sempre, desde pequenos, de berço, tanto meu pai quanto o pai dela, sempre nos educou de maneira a respeitar todos. Nós fomos educados de maneira família, sempre estamos unidos. Eu ligo sempre pro meu pai, meu pai sempre me liga, ela liga sempre pro pai dela. Mesmo se a gente estiver em algum lugar. Todos os dias a gente liga pra eles.

Repórter — Como vocês vêem essa acusação tão violenta da polícia, dizendo que vocês mataram a Isabella?
Alexandre — Isso acaba com a gente. Nossa vida já acabou. Acabaram com nossa vida. Destruíram nossa vida. Não tem nem como explicar.
Anna — Isso dói. Destruíram nossa vida em segundos.

Repórter — Só estão investigando vocês e não investigam uma segunda, uma terceira hipótese?
Anna — Para a polícia só existiu nós dois dentro do apartamento.

Repórter — Vocês afirmam e reafirmam que uma terceira pessoa entrou e matou a Isabella?
Anna — Com certeza.

Repórter — Por que alguém agiria com tanta brutalidade?
Anna — Isso que a gente se pergunta todos os dias e todas as noites.
Alexandre — A gente fica analisando e parando para pensar. Como alguém poderia fazer isso com uma criança? Principalmente com a Isabella, que é uma criança dócil, alegre, uma criança que onde chegava cativava todo mundo. Sempre estava sorrindo, em todos os momentos. Uma criança que era difícil você ver chorando por algum motivo. Ela sempre dava alegria pra nós. Tanto nossos filhos quanto ela, as crianças sempre deram muita alegria pra nós. Sempre ficávamos nós cinco. Quando a Isabella não estava com a gente no fim de semana, nós esperávamos o próximo final de semana para fazermos juntos.
Anna — A gente se programava em relação a quando ela estivesse. Eu tinha ela como uma filha.

Repórter — Vocês perderam uma filha de forma brutal. O que passa dentro de vocês diante de uma acusação destas? Vocês correm o risco de ir pra cadeia e pagar por um crime que vocês alegam que não cometeram.
Alexandre — Pagamos por uma coisa que não fizemos.

Repórter — Vocês passaram quase 15 horas na delegacia sendo interrogados? Como foi esse interrogatório?
Alexandre — Não consigo explicar a maneira como estão fazendo com a gente. É como o senhor perguntou, como você acha que o Brasil está vendo eu e minha esposa. Eles praticamente prejulgaram e condenaram sem ao menos conhecer a gente ou nossa família.

Repórter — O que é importante as pessoas conhecerem de vocês?
Alexandre — Como nós éramos verdadeiramente.
Anna — Como nós somos verdadeiramente. Como é nossa família. A maneira do como somos unidos.

Repórter — O senhor alguma vez bateu em sua filha?
Alexandre — Nunca encostei um dedo na minha filha. Nunca foi encostado um dedo em relação a minha filha. Até por que ela era uma criança que respeitava a todos.
Anna — Eu também nunca encostei nela. Nunca na minha vida. Ela parecia uma mocinha, não era desobediente, o Pietro às vezes chegou a beliscar ela quando era menor, ela nunca chegou a bater nele, nunca respondeu pra ninguém, sempre foi muito boazinha, sempre obedeceu, não tem o que falar dela.
Alexandre — Ela era uma criança amada por todos. Todos que conviviam um pouco com ela e a conheciam, ela cativava as pessoas.
Anna — Ela sempre cativava todo mundo. Onde ela entrava todo mundo já.. Ela estava sempre sorrindo, nunca estava triste, era uma criança muito alegre.
Alexandre — Ela sempre me chamava de papai. Papai, vamos andar de motinha. Ela amava a piscina, ela amava a água. Até chamavam ela de golfinho. Então, passamos muitos momentos marcantes juntos e eu não consigo acreditar que fizeram isso com ela. Não entra na minha cabeça como uma pessoa tem coragem de fazer isso com uma criança. A Isabella era um tesouro na minha vida, era tudo na nossa vida. Não consigo entender como uma pessoa conseguiu fazer isso com ela, um motivo para ter feito isso. Não consigo entender. Isabella era tudo para nós. Tanto a Isabella quanto o Pietro e o Cauan.
Anna — Não só pra nós ela era tudo, mas para o Cauan e o Pietro. Ela e o Pietro estudavam na mesma escola.
Alexandre — Ela era uma segunda mãe. O Cauan só queria ficar com ela. Ele adorava ficar brincando com ela o tempo todo. Ele não queria ninguém, só ela.
Anna — Ela mesma falava: "Tia Carol, eu sou a mãe 2 do Cauan".
Alexandre — Ela ajudava o Pietro a fazer tudo. Cuidava deles como uma mãe mesmo. Era uma criança que não consigo nem explicar. Era tudo na nossa vida.

Repórter — Isso não passa pela sua cabeça, você não tem suspeita de nada?
Pai — Olha, não tem. Eu não consigo entender. A Isabella é tudo na nossa vida. Tanto a Isabella quanto o Pietro, quanto o Cauan. Meus filhos abaixo de Deus são tudo.
Anna — Ela queria dar banho no Pietro, tadinha. Ela queria fazer tudo pro Pietro.
Alexandre — Então ela cuidava deles assim como se fosse uma mãe?
Anna — Parecia um adulto. A maneira como ela agia parecia uma adulta. Não parecia uma criança.

Repórter — Qual o momento que você mais sente falta dela, Alexandre?
Alexandre — Todos os momentos. Tudo.
Anna — E quando a gente vê as crianças, ontem estavam dançando na sala, a gente lembra tudo que o Pietro faz ou até mesmo o Cauan... Na hora a gente fala: "A Isa estaria fazendo isso" ou "A Isa estaria fazendo aquilo".
Alexandre — A Isa gostava muito de dançar, então qualquer coisa que o Pietro ou o Cauan faz a gente já lembra ela. Tudo.
Anna — Sempre estávamos os três juntos grudados um no outro. E vai ser assim pra sempre.

Repórter — E vocês estão suportando essa carga de acusações em cima de vocês, que é uma acusação grave, que você teria asfixiado a Isabella e você jogado da janela?
Alexandre — É. Isso não existe.
Anna — Isso é uma coisa terrível. Horrível. Nunca encostei um dedo nela. Eu sou mãe. Você acha que o que eu não quero para os filhos dos outros vou querer para meus filhos? Isso não tem cabimento o que estão falando. Nunca encostei um dedo nela... Tanto o Alexandre...
Alexandre — Porque ela é uma criança educada assim... Tudo que você falava com ela. Filha vê isso aqui, você tem que fazer desse jeito. Era uma criança que escutava. Uma criança que nunca deu trabalho pra ninguém.
Anna — Tanto é que às vezes nas férias minha sogra... Ela queria ficar com a gente em casa... Minha sogra falava: "Manda um pra não dar trabalho, né. Manda a Isa pra ficar comigo". Ela falava que não, que queria ficar com os irmãos dela. Ela não dava um pingo de trabalho. E de uns tempos pra cá ela vinha pra mim e pro Alexandre e falava: "Tia Carol, será que um dia eu vou conseguir morar com vocês?".

Repórter — O sonho dela era morar com vocês?
Anna — O sonho dela era morar com a gente.
Alexandre — Na quarta-feira mesmo, que ela esteve com a gente, ela pediu: "Papai, eu quero tanto morar com vocês".
Anna — Ela sempre falou...
Alexandre — Porque nós fizemos o apartamento com ela. Ela foi escolhendo o quarto dela da maneira que ela queria.

Repórter — Vocês montaram o quarto?
Anna — Ela queria um quarto lilás. Ai a gente foi e mandou fazer o quarto todo lilás
Alexandre — Do jeito que ela queria.
Anna — Tudo que ela queria ela sempre teve. Do jeito que ela quis o quarto a gente montou.
Alexandre — Não só em material, mas em amor também assim... Meu amor por ela assim é uma coisa inexplicável, entendeu? Por meus filhos... Meus filhos pra mim é tudo na minha vida... Eu, como eu posso dizer... Se eu pudesse não trabalhar pra ficar com eles eu faria isso.
Anna — O amor que eu sinto pela Isa vai ser eterno. Eu amo ela pro resto da minha vida. Do mesmo jeito que eu amo meus filhos.
Alexandre — Nossos filhos são tudo nas nossas vidas. Tudo.
Anna — Eu falo brincando com ela, que ela era minha filha postiça. Eu sentia que ela tinha vergonha, mas duas vezes nós pegamos ela me chamando de mamãe. Eu e o Alexandre estávamos brincando de correr um atrás do outro dentro do apartamento, aí ela disse assim: "Papai, não bate na mamãe". Aí eu e o Alexandre nos espantamos, olhamos pra ela. "Mamãe?". Aí ela disse: "Não, Tia Carol, é que você é como se fosse minha segunda mãe".
Alexandre — Nós brincávamos muito dentro do apartamento com eles, deles pegarem a gente. Aí ela falou uma vez pra minha esposa: "Eu posso te chamar de mãe?" E aí a gente falou: "Claro".
Anna — Mas a gente sentia que ela tinha vergonha. Aí ela sempre chamava de tia Carol.

Repórter — Surgiram várias testemunhas que falaram que vocês não tinham uma vida harmoniosa, que vocês viviam brigando. De onde surgiram essas testemunhas?
Alexandre — Brigas todos casais têm.
Anna — A gente tinha brigas.
Alexandre — Mas não como estão veiculando na mídia. As nossas brigas eram normais, como qualquer outro casal.
Anna — Tanto é que nesse apartamento novo nós nunca tínhamos brigado.
Alexandre — Nem discutido em momento algum.
Anna — Nós vivíamos em harmonia mesmo nesse apartamento. Era total harmonia.
Alexandre — A gente tá vendo na mídia, na televisão, as pessoas falando: "Nossa, que eles brigavam". Tudo isso não...

Repórter — Você tem como contestar essas pessoas?
Alexandre — Sim, porque nós brigávamos como pessoas normais. Nós discutíamos. O amor, tá precisando disso aqui, ou por alguma coisa dela me ligar e não me encontrar ou eu ligar e não a encontrar.
Anna — Brigas banais.
Alexandre — Briga de casal normal. Não há essa discussão igual estão colocando na mídia.

Repórter — Você mantém aquela versão que você deu até hoje?
Alexandre — Sim.

Repórter — Que alguém entrou e matou sua filha?
Anna — Com certeza.
Alexandre — Sim. Então... Eu acho... Meu...A minha filha... Eu nunca levantei a mão pra ela, eu nunca falei mais alto com ela em momento... Nunca.
Anna — Nunca encostou um dedo nela e eu também nunca.
Alexandre — Por quê? Porque não tinha, não tem motivo. Ela era uma pessoa educada, sempre tratou todos bem. Se ela estivesse aqui ela ia chamar o senhor de tio: "Tudo bem, tio? Boa tarde, tio". Ou ela tentava chamar meu sogro de vô.
Anna — Mas ela tinha vergonha. As vezes ela chegava perto pra pedir água e falava v... gaguejava.
Alexandre — Não tem o que falar dela. Ela era uma criança...

Repórter — Se fala que você tinha ciúmes dela?
Anna — Da Isabella? Nunca, nunca, nunca tive ciúmes dela. O que eu fiz por ela é o que eu faço pelos meus filhos. Sempre tratei ela com muito amor, muito carinho. E ela o mesmo por mim. De onde ela está ela deve estar vendo nosso sofrimento e deve estar sofrendo junto com a gente.

Repórter — Vocês passaram uma semana presos, acusados de um crime que afirmam que são inocentes.
Anna — Somos inocentes.
Alexandre — Somos inocentes.

Repórter — Como foi essa semana na cadeia pra vocês que nunca tiveram contato com esse mundo?
Alexandre — Olha, não tem nem como explicar isso. É uma coisa assim que nós estamos passando. Não só assim de nós termos ficado preso, mas estão julgando a gente por uma coisa que não fizemos.
Anna — Pra mim foram momentos horríveis.
Alexandre — Então, não tem nem como explicar isso. As pessoas que conhecem a nossa família, que estão próximos da gente... Por isso que nós estamos tentando explicar para o Brasil como nós somos, como nossa família é. Porque as pessoas não conhecem. As pessoas que estão próximas da gente sabem como nós somos, sabem que isso não existe.

Repórter — Você quer fazer um apelo pra que alguém que soubesse...
Alexandre — Com certeza, eu queria que as pessoas denunciassem, alguém que viu. As pessoas, o Brasil todo que está vendo isso. Quem tem filho. Tem muita gente que mora em condomínios, em prédios. Isso que aconteceu com a gente poderia acontecer com qualquer um. E eu queria que pessoas falassem, denunciassem.

Repórter — Hoje o que vocês querem?
Anna — Que a verdade apareça.
Alexandre — Que a verdade venha à tona.
Anna — É o que eu peço todo dia para Deus. Para que apareça o verdadeiro culpado.
Alexandre — Porque Deus está em primeiro lugar. Ele é nossa testemunha.
Anna — Ele é nossa primeira testemunha de que somos inocentes.

Repórter — A polícia vem divulgando laudos que apontam vocês como culpados. Como vocês se sentem diante disso?
Alexandre — Nós não temos como, como eu vou falar, nós não temos conhecimento de nenhum laudo. Como eu posso explicar para senhor isso?

Repórter — Vocês passaram uma semana na cadeia. Como foi isso?
Anna — Foi terrível. Eu fiquei sem comer nos três primeiros dias. Não conseguia falar com ninguém. Eu só pensava nos meus filhos lá fora. Que eu nunca me imaginei nessa situação. Por uma coisa que eu não fiz. Tanto é que na hora que eu fiquei sabendo que tinha saído o habeas corpus eu gritei: "Pietro, Cauan, eu amo vocês, eu tô indo ver vocês".

Repórter — E como foi o encontro de vocês com eles?
Anna — O Pietro, quando acordou, olhou e falou: "Papai, mamãe, vocês estão aqui mesmo?". O Cauan a hora que ele levantou, nós ficamos praticamente 15 dias sem ver eles. Ele quis o colo da minha mãe. Ele estranhou um pouco, mas depois não queria mais se desgrudar de nós. Eles estão sofrendo.

Repórter — Quem você acha que poderia ter tanto ódio de uma menina de cinco anos?
Alexandre — Olha, eu não sei.
Anna — É o que a gente se pergunta todos os dias. Por que fizeram isso com a Isabella? Uma menina linda, de apenas cinco anos, que tinha toda a vida pela frente.
Alexandre — O sonho dela era ser veterinária.
Ana — Ela adorava bichinho.
Alexandre — E mar. Ela adorava.
Anna — Piscina. Eu falava que ela era a pequena sereia.
Alexandre — A gente não consegue entender o que fizeram com ela.
Anna — O que mais dói é as pessoas falarem que nós somos os assassinos da Isabella, entendeu? E na nossa cabeça sabemos que não fizemos nada. Tudo que a gente faz lembra ela. Toda hora a gente fala: "A Isa estaria fazendo isso. Ah, a Isa gosta disso". Ela adorava macarrão, ela adorava salada de alface. Às vezes ela tomava banho comigo, ela desenhava um coraçãozinho no vapor do box e falava assim: "Olha o amor que eu sinto por você". Aí eu fazia o box inteiro. Aí ela falava assim: "Não vale, tia Carol, você é maior que eu. Se eu pudesse eu também faria".
Alexandre — O que mais me deixou assim foi que na quarta-feira nós fomos na festa de um conhecido nosso, ela esteve com a gente o tempo todo. Ela falou assim: "Papai, eu não vejo a hora de ir morar com vocês. É o que eu mais quero morar com vocês". Aí eu falei: "Filha, o papai também quer que você vá morar lá em casa, mas isso depende de algumas coisas".

Repórter — Você tinha uma relação tranqüila com sua ex-mulher?
Alexandre — Normal. Inclusive no sábado nós ficamos o tempo todo na piscina. Andamos de moto. Brincamos na casa dos meus pais. Nos finais de semana nós sempre íamos para a casa dos meus pais ou a dos meus sogros. Nós sempre fomos unidos. Então quando a mídia mostra algumas coisas a gente fica, meu, se pergunta como?

Repórter — Vocês foram indiciados pela morte dela.
Alexandre — É uma coisa muito difícil de entender isso. Que a gente não acredita no que estão falando.

Repórter — Como vai ser a vida de vocês daqui pra frente?
Alexandre — Não sabemos.
Anna — O duro vai ser pagar por uma coisa que a gente não fez.
Alexandre — Já estamos pagando.
Anna — Ficar 30 anos numa prisão por não ter feito absolutamente nada. Somos totalmente inocentes.

Repórter — Vocês não mataram a Isabella?
Anna — Não. Em hipótese alguma.
Alexandre — A Isabella era tudo na nossa vida. Quando a médica veio falando pra mim que ela tinha falecido... Aquilo pra mim... Não tinha mais chão, não tinha mais nada assim... Não sabia.... Aquilo pra mim, o mundo acabou.
Anna — Quando ele me ligou me contando eu não acreditava.
Alexandre — Acabou com a nossa vida.
Anna — Estamos vivendo um pesadelo.
Alexandre — Destruíram a nossa família, a nossa vida. Outra cena depois, quando eu tive que entrar no necrotério pra ver ela, aquilo me marcou de uma tal maneira que toda vez que eu fecho o olho vem a imagem dela. E ao mesmo tempo eu tenho a imagem dela brincando, na piscina, na moto. Foram coisas muito rápidas. Não dá pra entender isso.

Repórter — O laudo aponta até sangue no carro de vocês?
Alexandre — Então, é uma coisa que...
Anna — Eu fui a última pessoa a sair do carro. Enquanto ele subia pra deixar ela lá em cima. Ninguém se machucou em lugar nenhum.

Repórter — Vocês não usaram fralda pra limpar sangue?
Anna — Não. Isso não existe.
Alexandre — Isso não existe. De maneira alguma. As crianças, foram as três dormindo.
Anna — E a última coisa que ela falou comigo foi: "Tia Carol, posso dormir um pouquinho?". Eu disse que sim, que estava na hora de dormir.
Alexandre — Olha, nós não vivemos mais. Nós não dormimos direito, nós não nos alimentamos. No dia que teve o velório da minha filha eu fiz uma promessa em cima do caixãozinho dela. Eu disse que não ia ficar sossegado enquanto não encontrar o assassino que fez isso com ela. Essa brutalidade com ela. Essa promessa, eu disse: "Filha, o papai não vai sossegar enquanto não encontrar o assassino que fez isso". Quando ela foi enterrada eu queria ir junto com ela. Minha vida estava indo embora ali. Eu não consegui entender aquilo. Eu falei: Filha o papai não vai sossegar até achar a pessoa que fez isso com você". E prometi que iria fazer uma tatuagem com o rostinho dela. E isso eu vou fazer. Eu não conseguia entender... As pessoas jogando areia em cima dela. No sábado nós estávamos brincando e depois ela no necrotério, ela num velório. Eu não consigo entender como vai ser minha vida sem ela. Minha princesinha meu tesouro. Ela sabia que era tudo pra mim. Meus filhos sabem que são tudo pra mim. Ela era a princesinha da casa. Ela dizia: "Papai, vamos brincar de boneca, vamos andar de moto?". Ela dizia assim: "Quando eu crescer tu vai me dar uma moto de verdade". O que eu prometi pra ela eu vou cumprir. Eu não vou ficar sossegado enquanto não encontrar a pessoa que fez isso. Eu queria dizer que nossa fé é inabalável. Deus é nossa maior testemunha. Eu queria encontrar a pessoa que fez a crueldade com nossa filha. É o que eu mais quero.



Zero Hora, 21//04/2008.

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