terça-feira, 15 de abril de 2008

América Latina se divide por causa da droga

Jorge Marirrodriga
Em Buenos Aires

Enquanto a América Latina vive uma situação que os especialistas em combate ao narcotráfico qualificam como "hiperprodução de drogas", dois países anunciam mudanças em suas políticas.

O governo argentino se prepara para não processar penalmente os consumidores, e a Jamaica, o maior produtor de maconha do Caribe, estuda a legalização da planta. Sobre a mesa está novamente o dilema entre permissividade ou tolerância zero para abordar o problema da droga.

As plantações de folha de coca se multiplicaram na América do Sul, onde ocorre um choque entre as convenções da ONU - que consideram a produção como sendo proibida - e a doutrina oficial de governos como o boliviano, que reivindica a planta como parte da cultura indígena.

Atualmente há 32 mil hectares de plantações de folha de coca na Bolívia, cerca de 55 mil hectares no Peru e outros 90 mil na Colômbia. Para obter um quilo de cocaína pura são necessários 365 quilos de folha seca boliviana ou 1.000 quilos de folha verde colombiana. E a produção da droga disparou. "Em áreas da Bolívia onde não há nada de milho encontram-se máquinas trituradoras de milho. Para quê? É claro que para triturar a folha de coca", explica uma autoridade argentina.

A oferta fez com que países que antes eram de trânsito da droga para os Estados Unidos ou a Europa se transformassem em novos mercados de consumo e centros de fabricação. A Argentina é um exemplo. De fato, é o país sul-americano com maior consumo entre estudantes de nível secundário. Além disso, apareceu a pasta-base de coca (PBC ou "paco"), uma droga barata e viciante elaborada a partir dos restos da produção de cocaína.

Um caso semelhante é o do Brasil, embora nesse país o narcotráfico esteja organizado e seja capaz de pôr em cheque as duas principais cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro.

Os governos da região compartilham o objetivo de acabar com o narcotráfico, mas encontram-se divididos na hora de enfrentar o problema do consumo. O Chile, maior consumidor de cannabis da região - o maior produtor é o Paraguai -, endureceu sua legislação para perseguir não só o narcotráfico, mas também o microtraficante, o último elo da cadeia. O problema é que muitas vezes o microtraficante também é um consumidor que vende drogas para sustentar seu vício.

O Brasil, por sua vez, mobiliza regularmente o exército nas favelas - transformadas em feudos dos narcotraficantes - em operações que geram grande polêmica. A Argentina considera que processar penalmente os consumidores é uma perda de tempo e de recursos públicos que podem ser empregados contra o narcotráfico em grande escala. No Uruguai, ganha espaço a corrente de descriminalização do consumo em médio prazo.

Enquanto isso, no norte, o ministro da Saúde mexicano, José Ángel Córdova Villalobos, se opôs totalmente à legalização, mas salientou que os viciados "são doentes, e não criminosos, e devem ser tratados por esse sofrimento". Córdova reconheceu que a prisão é o lugar "menos indicado" para a reabilitação dos dependentes.

O anúncio feito pela Argentina causou grande polêmica no país, onde 75% da população são contrários à descriminalização do consumo de drogas. Outras vozes apóiam a proposta do governo, afirmando que a medida não aumentará o consumo e que é o caminho percorrido pela Europa nos últimos dez anos. Com todo tipo de argumentos a favor e contra, o debate está aberto no continente.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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